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Europa

Enrico Letta tentará formar governo que tire Itália da crise

24 abr 2013 - 12h04
(atualizado às 16h01)
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O subsecretário do Partido Democrático (esquerda), o moderado Enrico Letta, foi designado nesta quarta-feira para formar um governo de unidade nacional que tire a Itália da paralisia política dois meses após as eleições legislativas.

"Permanecemos 60 dias sem um governo. É uma situação difícil e inédita, frágil, que não pode durar", reconheceu Letta, de 46 anos, depois de ter sido convocado pelo presidente da República, Giorgio Napolitano, para realizar a tarefa.

Letta, menino prodígio da política italiana, ex-democrata-cristão, deverá contar com o apoio de todas as forças políticas para colocar fim à grave paralisia política da península.

Letta disse que levará um tempo para fazer suas consultas e se reunirá novamente com o presidente Napolitano para dar sua resposta definitiva e apresentar seu executivo, como prevê o complexo protocolo.

"A Itália precisa de respostas imediatas", afirmou, ressaltando que seu governo não nascerá a qualquer preço.

Segundo a imprensa italiana, o governo assumirá o poder no fim da semana e dará início a uma série de reformas para enfrentar a emergência social e econômica, agravada pelas políticas de austeridade exigidas pela União Europeia.

Em declarações à imprensa após sua designação, Letta afirmou que entre suas prioridades estão realizar uma reforma da Constituição que reduza o número de parlamentares e mudar a lei eleitoral, culpada pela ingovernabilidade.

"Se voltarmos às urnas, a mesma situação se repetirá", advertiu, depois de reconhecer que "a política, toda em seu conjunto, perdeu credibilidade".

Trata-se de uma resposta às duras críticas lançadas por Napolitano durante seu discurso de posse, no qual disse ser imperdoável a negativa do Parlamento de adotar as reformas necessárias devido às fortes divisões internas.

O futuro chefe de Governo, que foi europarlamentar e especialista em assuntos europeus, disse que pedirá à União Europeia que mude a linha de "excessiva atenção à austeridade, porque não é suficiente".

"A Itália precisa de respostas imediatas", afirmou, depois de informar que seu governo não nascerá a qualquer preço.

Letta, com um longo percurso como político ao ter sido três vezes ministro e também subsecretário da presidência de governo com Romano Prodi (2006-2008), prometeu atender a "esta parte do país que não aguenta mais" a crise econômica, em particular os jovens, cuja situação é insuportável", disse.

O desemprego na Itália alcançou valores recorde, afetando 11,6% da população. Um terço dos jovens não tem trabalho ou estuda, afetados pela recessão econômica.

Napolitano, de 87 anos, forçado a governar por um novo mandato a pedido dos maiores partidos políticos diante da impossibilidade de chegar a um acordo para a eleição de seu sucessor, manifestou sua satisfação e serenidade diante do nome de Letta.

"É jovem, inclusive muito jovem para o padrão italiano", ironizou Napolitano, que também elogiou seu vasto percurso político.

O segundo chefe de Governo mais jovem da história da República italiana depois de Giovanni Goria, que se converteu em primeiro-ministro em 1987 com apenas 43 anos, Letta é mais novo que a maioria dos atuais chefes de Governo europeus.

Seu estilo, formal e sóbrio, foi admirado pela imprensa, que ressaltou que chegou em um automóvel simples ao encontro com o Presidente, algo incomum para a criticada casta política italiana acostumada a contar com um motorista.

Sobrinho de Gianni Letta, o homem de confiança do magnata das comunicações Silvio Berlusconi, representa os setores católicos de seu partido, à beira da implosão por suas divisões após a vitória parcial nas eleições do fim de fevereiro.

Seu eventual governo deverá gozar do apoio do partido do magnata, que adiantou que o maior grupo de direita que lidera, o Povo da Liberdade, está disposto a conceder a ele a confiança no Parlamento.

O idoso presidente reiterou nesta quarta-feira que diferentes forças devem se unir neste novo governo, e convocou-as a se comprometerem em um governo de coalizão.

"Um governo formado com as grandes coalizões é uma pílula amarga para o PD", escreveu Stefano Folli, do jornal econômico Il Sole 24 ore.

"Nasce um governo de pacificação nacional", sustenta por sua vez Massimo Franco, editorialista do Corriere della Sera.

O novo executivo deverá estar formado por membros de todo o arco político, com exceção do Movimento Cinco Estrelas do comediante antissistema Beppe Grillo, da controversa formação contrária à imigração Liga Norte e da extrema esquerda do SEL (Esquerda, Ecologia e Liberdade).

Segundo cálculos da confederação de industriais, Cofindustria, dois meses sem governo custaram à Itália um ponto do PIB, enquanto os mercados reagiram com calma, registrando a taxa de juros mais baixa em pouco mais de dois anos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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