PUBLICIDADE

Mundo

Drama de Toulouse marca polarização de campanha presidencial

24 mar 2012 - 19h10
(atualizado em 5/4/2012 às 08h50)
Compartilhar
Lúcia Müzell
Direto de Paris

O drama do atirador de Toulouse mal terminou e as consequências da tragédia na campanha para eleições presidenciais na França já são sentidas, a menos de um mês do primeiro turno. O caso de Mohamed Merah - um jovem francês que se radicalizou no islamismo, matou à queima-roupa três militares, um rabino e três crianças judias, até ser morto pela polícia - deve marcar a polarização das eleições entre o atual presidente e candidato à reeleição, Nicolas Sarkozy, e o seu principal rival, o socialista François Hollande.

Tiroteio em escola judaica deve influenciar eleições entre Nicolas Sarkozy, e o principal rival, François Hollande
Tiroteio em escola judaica deve influenciar eleições entre Nicolas Sarkozy, e o principal rival, François Hollande
Foto: AP

Por mais lamentável que pareça a constatação, Sarkozy não poderia sonhar em uma ocasião mais apropriada para consolidar a sua recuperação nas pesquisas de intenções de voto, nas quais aparecia distante na segunda colocação até o início de março, atrás de Hollande - que liderava sozinho todas as sondagens. Tradicionalmente, o temas ligados à segurança, ao combate ao terrorismo e à imigração são caros à direita, razão pela qual o líder se sentiu em casa para defender suas posições.

Ao longo do desfecho do cerco ao suposto matador da cidade do sudoeste francês, o presidente conservador não perdeu a oportunidade de se mostrar como o "homem forte" da República francesa, o chefe de Estado que protege os cidadãos com uma política de intolerância face ao extremismo e as ameaças estrangeiras. A ideia por trás do presidente reativo era a de que, para manter pulso firme contra o terror, nada melhor do que um candidato da direita permanecer no poder.

Pascal Perrineau, diretor do Centro de Estudos Políticos do instituto Sciences Po, em Paris, destaca que os franceses gostam de respostas rápidas às questões que os preocupam, como foi o caso do assassino de Toulouse. Por isso, o drama possibilitou a Sarkozy um inesperado momento de "superpresidente" - talvez o último de seu mandato -, na definição do cientista político. "Ao se colocar como o presidente que clama pela unidade nacional e protege os franceses, Sarkozy ganhou de presente uma oportunidade de retornar à tona certos aspectos políticos da sua gestão que os franceses apreciam, mas que estavam em segundo plano na campanha", afirmou o especialista em sociologia eleitoral.

De fato, desde que entrou oficialmente em campanha, em 22 de fevereiro, o presidente vinha tentando reabrir o debate sobre imigração e integração dos estrangeiros. O socialista, entretanto, se recusava a entrar nas polêmicas levantadas pela direita e preferia focar as atenções nas falhas do governo Sarkozy face à crise econômica.

"Este episódio marca uma verdadeira virada da campanha. A polarização entre Sarkozy e Hollande é, a partir de agora, quase uma certeza", avalia o cientista político Stéphane Rozès, ex-diretor do instituto de pesquisas CSA e atual presidente da consultoria francesa Conseils Analyses et Perspectives. "As reivindicações atribuídas ao suposto matador reativaram os debates sobre identidade nacional francesa, segurança e extremismo, que já existiam, mas estavam abafadas pelas questões econômicas e sociais, nas quais Hollande tinha vantagem."

Conforme Rozès, o candidato socialista - desconfortável nos assuntos ligados ao terrorismo -, ultrapassou "bem" a difícil tarefa de se manter solidário às vítimas e firme contra a violência, ao mesmo tempo em que não se deixou envolver pela tentação de criticar a operação policial realizada em Toulouse. A tática socialista foi apelar pela conciliação e a separação entre islamismo e terrorismo.

Com discurso radical contra "fundamentalistas", Le Pen não se beneficiouO efeito imediato foi que, cada vez mais, os resultados das pesquisas eleitorais se confundem entre os dois pólos. Em uma sondagem do instituto CSA publicada durante o cerco ao suspeito, Sarkozy apareceu na liderança no primeiro turno, pela primeira vez com 30% dos votos, contra 28,5% para Hollande. Já na quinta-feira, o instituo BVA divulgou uma pesquisa na qual o socialista mantém a primeira posição, com 29,5%, e Sarkozy aparece em segundo com 28%. E na sexta, outro estudo, desta vez do Ifop, indicou que, apesar da tragédia, o desemprego continua sendo a maior preocupação para 73% dos franceses.

Ao contrário do que se supunha, a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, não parece ter ganho vantagem com os acontecimentos, embora seja a mais apegada aos temas de terrorismo entre todos os candidatos. Com um discurso violento contra os radicais islâmicos, logo no primeiro dia dos ataques ela condenou o "fundamentalismo" dos "muçulmanos que privilegiam a religião ao fato de serem franceses". Le Pen ainda clamou por um referendo sobre a pena de morte, e acabou sofrendo rejeição do eleitorado: chegou até a perder a terceira posição na disputa, conforme a pesquisa eleitoral mais recente. O representante da extrema-esquerda, Jean-Luc Melanchon, apareceu com 14% das intenções de votos, contra 13% para Le Pen.

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade