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Europa

Eleição francesa pode delinear outros rumos para a Europa

4 mai 2012 - 09h40
(atualizado às 09h59)
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Além de eleger seu futuro presidente, as eleições de domingo na França também podem mudar os rumos da Europa, depois de uma intensa campanha que fez tremer a política econômica, migratória e diplomática do bloco.

Se forem cumpridos os prognósticos, o candidato socialista, François Hollande, será o vencedor das eleições frente ao presidente Nicolas Sarkozy. Nesse caso, não apenas mudará a orientação econômica do país, quinta potência mundial e segunda economia da Eurozona, como também a de seus sócios europeus.

Foi justamente Hollande quem reavivou o fogo ao anunciar que renegociará o pacto fiscal europeu de ajustes e austeridade, promovido por Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel como parte de uma aliança batizada como "eixo Merkozy", para agregar um capítulo de apoio ao crescimento.

O candidato socialista propõe um novo papel do Banco Central Europeu, uma taxa de transações financeiras, que o Banco Europeu de Investimentos (BEI) conceda créditos às empresas; e criar eurobônus para financiar as infraestruturas, entre outros projetos de estímulo ao crescimento. "Tudo isso provavelmente provocará atritos com Merkel, já que Hollande foi longe demais", opinou Jean-Dominique Giuliani, presidente da Fundação Schuman, um centro de reflexão sobre a União Europeia.

Merkel já respondeu que o pacto fiscal "é inegociável", acrescentando que os ajustes são a única maneira de conseguir o crescimento, um dos principais temas da cúpula europeia prevista para 28 e 29 de junho. E vários meios de comunicação europeus destacaram que, nos últimos dias, Merkel mudou de "preferido", voltando-se agora para o presidente italiano Mario Monti.

"Os dois primeiros meses serão difíceis (...) Hollande deverá conquistar Merkel e assegurar a ela que podem trabalhar juntos", assinalou Hugo Brady, do Centro de Reforma Europeia (CER).

Mas se os planos de Hollande desencadearam uma chuva de críticas, a ponto do jornal britânico The Economist classificá-lo de "um perigo para a Europa", vários analistas agradeceram o fato de que o socialista trouxe de novo à mesa de discussões a questão do crescimento.

"Hollande pode parecer um homem bastante inerte, mas pode fazer muito para mudar a estrutura da União Europeia porque o bloco precisa muito mais do que o pacto fiscal para salvar o euro", afirmou Brady.

Mas ninguém pode negar que a evidência de que o rigor fiscal não basta para tirar o continente da crise e até Merkel anunciou que prepara uma agenda de crescimento para que seja aprovada na cúpula de junho. Se for eleito, François Hollande tem a intenção de viajar o mais rápido possível para se encontrar oficialmente com a chanceler alemã, que se negou a recebê-lo durante a campanha.

Sarkozy, em uma tentativa de seduzir os eleitores da extrema-direita, também pediu a seus sócios europeus um fechamento de fronteiras se o fluxo imigratório crescer, revisando o acordo de Schengen, em vigor desde 1995. Por outro lado, Hollande também anunciou que, caso seja eleito, "as unidades francesas posicionadas no Afeganistão voltarão para casa antes do final de 2012", enquanto que Sarkozy considera impossível a retirada dos soldados, 3.600, antes da data prevista para o final de 2013.

"Mas se Hollande quiser uma retirada em 2012, pode haver acordos possíveis", assinala um diplomata europeu, recordando que Holanda e Canadá retiraram suas tropas em 2010 e 2011. Não se pode esquecer que o socialista Hollande tem um grande apego à busca de consensos. "O caráter pessoal de Hollande, um homem que gosta de construir acordos e é contrário a exercer uma direção agressiva, poderá muito bem ser uma vantagem do ponto de vista diplomático", concluiu Thomas Klaus, do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

Se eleito, Hollande (esq.) deve se afastar das políticas de austeridade impostas por Sarkozy (dir.)
Se eleito, Hollande (esq.) deve se afastar das políticas de austeridade impostas por Sarkozy (dir.)
Foto: AP
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