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Europa

Conheça Karamba, que pode o se tornar o 1º negro no Parlamento alemão

"Ai, Karamba!" é o lema de campanha daquele que pode se tornar o primeiro deputado negro no Bundestag, o Parlamento do país

21 set 2013 - 08h37
(atualizado às 12h53)
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"Queria ser reconhecido por ser bom, e não pela cor da minha pele", diz Karamba Diaby
"Queria ser reconhecido por ser bom, e não pela cor da minha pele", diz Karamba Diaby
Foto: Reuters

Karamba Diaby está perto de fazer história nas eleições parlamentares deste domingo na Alemanha. Se confirmadas as pesquisas, ele pode se tornar o primeiro deputado negro no Bundestag, o Parlamento do país.

Diaby concorre pelo Partido Social Democrata (SPD), de oposição à coalizão de governo dos democratas cristãos da chanceler (premiê) Angela Merkel. E busca um assento no Parlamento para representar a cidade de Halle, no leste alemão - região conhecida por ser mais pobre do que o resto do país e por suas tensões raciais.

Sua campanha eleitoral tem sido "uma loucura", diz ele à BBC Mundo - parece mais a rotina de uma celebridade do que um político.

"Tudo estava normal, até que veio (uma reportagem no jornal) The New York Times", diz, sorrindo, um membro de sua equipe.

Diaby digere pouco a pouco o sucesso midiático dos últimos meses. Mas ressalta: "Queria ser reconhecido por ser bom, e não pela cor da minha pele".

Nascido no Senegal há 52 anos, Diaby chegou à Alemanha em 1985, em Leipzig, ainda na República Democrática Alemã (antes da queda do Muro de Berlim).

Ele recebera uma bolsa de doutorado em química, sem sequer saber uma palavra de alemão. Não imaginava que, décadas depois, seria representante de Halle (foi nomeado para um cargo municipal em 2009) e que poderia ter um papel sociopolítico importante na Alemanha, onde obteve nacionalidade em 2001.

Política

Diaby recebe a BBC Mundo na sede do SPD em Halle e diz que não entrou na política por acaso: "Passei a minha vida nisso. No Senegal, era representante estudantil".

Ele relembra um episódio nos anos 1990 que o alçou à política alemã: na época, um empresário tentou construir um projeto imobiliário em terras onde os moradores de Halle cultivavam hortas coletivas (atividade então popular na Alemanha Oriental), alegando que os terrenos estavam contaminados para o plantio.

Mas o químico Diaby demonstrou que as terras eram cultiváveis - algo que elevou sua popularidade em Halle.

Hoje, diz ser "alemão da cabeça aos pés" e "muito integrado na sociedade alemã", mas afirma que "o interesse da imprensa na minha candidatura evidencia que não há políticos negros na história do país".

"E gostamos de dizer que somos abertos e tolerantes! Há 21 parlamentares com um passado imigrante (entre eles o ministro da Economia, Philipp Rösler, nascido no Vietnã), mas nisso ainda somos um país em desenvolvimento", opina Diaby.

Simbolismo

Susi Möbbeck, delegada de Integração no Conselho de Assuntos Sociais na província de Sajonia-Anhalt (onde fica Halle), opina que a possível eleição de Diaby "teria um importante valor simbólico por ele ser quem é e por vir da Alemanha Oriental".

"Quando a convivência com estrangeiros não é habitual (como é na parte ocidental do país), a xenofobia é mais clara", opina.

Mas, questionado a respeito, Diaby - que chegou a ser ameaçado de morte alguns anos atrás - evita o tema. "Nenhuma das cartas (com ameaças) vinha da Alemanha Oriental, muito menos de Halle", diz ele.

O grupo ativista Iniciativa para Pessoas Negras na Alemanha (ISD) também espera a vitória do senegalês.

"Não sabemos até que ponto ele poderá (implementar) mudanças, mas é positivo que haja a presença de negros em postos de responsabilidade política", diz o porta-voz do grupo, Tahir Della.

Muitos filhos de imigrantes compartilham dessa opinião. O jovem Dimitris Savvapetrakis é um alemão de origem grega que trabalha em um café de Halle.

"É bom que haja um candidato negro, sobretudo pelo passado nazista da Alemanha", afirma.

"Ai, Karamba!", costuma-se gritar a Diaby ultimamente nas ruas de Halle. A frase, que é seu lema de campanha, denota surpresa ou exclamação. Algo talvez apropriado para uma campanha que pode ter um desdobramento histórico.

Foto: AFP
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