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Europa

Conflito aberto entre pai e filha na extrema-direita francesa

8 abr 2015 - 10h18
(atualizado às 10h19)
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A guerra foi declarada entre a presidente da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, e seu pai Jean-Marie, fundador do partido de extrema-direita, cujas últimas provocações não agradaram sua filha, que tem conduzido uma verdadeira campanha de isolamento.

Jean-Marie Le Pen, de 86 anos, presidente de honra da FN e deputado europeu, foi proibido por sua filha de participar nas próximas eleições regionais.

A decisão foi tomada depois que Jean-Marie Le Pen fez declarações polêmicas em uma entrevista a um jornal considerado antissemita.

"Jean-Marie Le Pen parece ter entrado em uma verdadeira espiral entre a estratégia de terra arrasada e suicídio político", escreveu Marine Le Pen em um comunicado.

"Com a situação, informei a Jean-Marie Le Pen que serei contrária a sua candidatura nas eleições regionais previstas para 2015", completou a líder da FN, que se esforça há vários anos para apresentar a Frente Nacional como um "partido normal" e mudar a imagem de ultradireita herdada do pai.

A atual presidente da FN, que conseguiu fazer com que o partido alcançasse resultados históricos desde 2011, "irá reunir rapidamente um gabinete executivo", a maior instância do partido, "para definir os meios de proteger os interesses políticos da Frente Nacional".

Jean-Marie Le Pen queria representar o partido nas eleições regionais de Provença-Alpes-Costa Azul (sudeste).

Numa entrevista concedida à publicação de extrema-direita Rivarol, divulgada na terça-feira, Jean-Marie Le Pen defendeu a memória do marechal Philippe Pétain, líder da colaboração da França com a Alemanha nazista, e criticou a estratégia da filha no comando da FN.

Além disso, na semana passada, Jean-Marie Le Pen repetiu declarações sobre as câmaras de gás dos campos de extermínio nazistas, ao afirmar que eram um "detalhe" da história. Estas palavras renderam uma condenação judicial no passado.

"Nunca considerei o marechal Pétain como um traidor. Foram muito severos com ele após a Libertação", declarou à revista, recentemente condenada por provocação ao ódio antissemita.

Ao comentar a atuação de sua filha no partido, ele criticou a nomeação de algumas pessoas - entre eles homossexuais aos quais ele se referiu como "um lobby arco-íris" - e considerou "excessiva" a maneira como a direção do FN se defende das acusações de antissemitismo, xenofobia e homofobia.

Jean-Marie não declarou nada de novo, mas a quantidade de provocações em um curto espaço de tempo provocou a reação de sua filha.

Uma ruptura definitiva como o fundador "não mudaria fundamentalmente a natureza da FN, mas teria um valor simbólico muito forte", acredita o cientista político Sylvain Crépon, que considera que Jean-Marie Le Pen "não será descartado facilmente". Presidente de honra, "ele vai lutar até o fim".

O vice-presidente da FN, Florian Philippot, escreveu no Twitter que a "ruptura política com Jean-Marie Le Pen agora é total e definitiva" e serão tomadas decisões rapidamente.

Louis Aliot, também vice-presidente da FN, destacou que as "divergências políticas" com Jean-Marie Le Pen são "irreconciliáveis" agora, após suas declarações ao Rivarol, que chamou de "pasquim antissemita".

Desde que assumiu o comando do partido, Marine Le Pen manteve a linha antieuropeia, anti-imigrantes, nacionalista e antissistema, mas com um distanciamento das fraturas da sociedade francesa pós Segunda Guerra e guerras coloniais.

Seus esforços valeram a pena: a apenas dois anos das eleições presidenciais em um país mergulhado numa crise econômica, a FN ganhou o centro do debate político diante de um Executivo socialista desacreditado.

O partido de extrema-direita também confirmou sua presença nacional, com 25% dos votos no primeiro turno das eleições locais em 22 de março.

O risco para a filha de perder eleitores com esta ruptura é considerado pequeno pela cientista política Virginia Martin.

"Apesar de Jean-Marie Le Pen ser uma figura histórica, o ganho eleitoral será maior do que o risco de perder talvez um ou dois por cento dos eleitores mais à direita", afirma.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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