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Ásia

Chernobyl e Fukushima: desastres nucleares frente a frente

20 abr 2011 - 13h36
(atualizado às 15h38)
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Justo quando se completa um quarto de século do acidente nuclear de Chernobyl e do impacto sobre a visão que o mundo tem da energia nuclear, a enorme catástrofe no complexo japonês de Fukushima torna inevitável lembrar e comparar o que ocorreu agora com a tragédia de 26 de abril de 1986 na então República Socialista Soviética da Ucrânia.

Chernobyl e Fukushima, dois reatores nucleares de tecnologia diferente, dois acidentes completamente diferentes. Mas ambos registraram o nível 7, gravidade máxima na escala Ines, quando se produz um grande vazamento de material radioativo com "efeitos generalizados na saúde e no meio ambiente".

No entanto, comparar os dois acidentes não é fácil. O reator 4 de Chernobyl explodiu por falha humana quando estava em pleno rendimento. Uma enorme explosão em forma de cogumelo de 1 quilômetro de altura soltou pelos ares fragmentos de grafite com plutônio a enorme temperatura.

Em Fukushima, um terremoto de magnitude 9 na escala Richter ocorrido no dia 11 de março provocou a queda do sistema de segurança em três dos seis reatores que estavam ativos e o desligamento do sistema de refrigeração.

Um posterior tsunami deixou inoperante o fornecimento de energia elétrica de emergência. A temperatura subiu tanto que provocou a fusão parcial do núcleo e vazamento radioativo em vários reatores.

O lançamento à atmosfera de toneladas de partículas radioativas acabou contaminando cerca de 150 mil quilômetros quadrados e 200 mil pessoas tiveram de ser evacuadas.

À primeira vista, enquanto ainda não se dispõe de todos os dados do que realmente aconteceu em Fukushima, a gravidade de Chernobyl parece muito maior.

Essa é a versão defendida pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que se apressou em dizer que, embora ambos os incidentes tenham a mesma classificação Ines, não são comparáveis.

"Os acidentes são totalmente diferentes. As mecânicas são completamente distintas. E vemos que o nível do vazamento (...) é significativamente diferente", afirmou Denis Flory, subdiretor de Segurança Nuclear desta agência vinculada à ONU.

De fato, tanto a AIEA quanto as autoridades japonesas calculam que, até o momento, Fukushima tenha liberado entre 7% e 10% da radiação emitida pela usina ucraniana.

No entanto, a potência da explosão em Chernobyl pode ser vista até mesmo como um atenuante diante da tragédia japonesa, já que na Ucrânia houve menos fumigação, ou seja, menos material radioativo perto do ponto de saída.

"O pró é que o material se dispersa (se dilui) muito, mas o contra é que ele chega mais longe", explica à Agência Efe Abel González, membro da Divisão de Radiação e Segurança de Resíduos da AIEA.

Por outro lado, segundo ele, o ponto positivo de Fukushima é que o acidente ocorreu próximo ao mar. Mas essa suposta vantagem ainda não deixou claro suas verdadeiras consequências, já que se trata da primeira vez que um vazamento radioativo dessa magnitude ocorre no oceano, onde é mais difícil de se monitorar.

Além disso, como lembra González, os seis reatores de Fukushima acumulam muito mais combustível nuclear (pelo menos 1,8 mil toneladas) do que tinha a unidade 4 de Chernobyl (180 toneladas).

Essa enorme quantidade de material radioativo tem de ser refrigerada continuamente para evitar novos vazamentos radioativos, que já afetaram a atmosfera, o mar e a terra.

"Em Fukushima, a maioria do combustível ainda está nos reatores e vaza pouco a pouco. É muito difícil prever que quantidade pode sair, mas podemos dizer que, possivelmente, o vazamento de Fukushima pode exceder os níveis de Chernobyl se não for contido a tempo", adverte em declarações à Efe o engenheiro Yuli Andreyev, considerado o ''limpador de Chernobyl''.

Ele, que foi um dos responsáveis pela descontaminação da usina soviética, considera que, em Fukushima, o escape de radiação é muito menor, mas contínuo, o que levou alguns especialistas a qualificarem-na de uma "Chernobyl em câmera lenta".

Mas também há diferenças quanto às reações diante da crise. Após Chernobyl, por exemplo, não houve advertências sobre o risco de que o leite lá produzido poderia estar contaminado, o que causou cerca de 6 mil casos de câncer de tireóide nas crianças. Já no Japão, as autoridades estabeleceram, desde o primeiro momento, diversas restrições ao consumo de alimentos.

EFE   
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