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Europa

Capital segue otimista e leste apreensivo na Ucrânia

“É triste perceber que nunca mais teremos a mesma relação com os russos”, lamenta moradora de Kiev

1 ago 2014 - 18h29
(atualizado às 18h33)
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<p>Parlamento ucraniano rejeitou a renúncia pedida na semana passada pelo primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk</p>
Parlamento ucraniano rejeitou a renúncia pedida na semana passada pelo primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk
Foto: Sandro Fernandes / Especial para Terra

Apesar dos conflitos no leste do país e da instabilidade econômica e política, o otimismo e o apoio ao governo eleito em maio deste ano ainda prevalecem nas ruas de Kiev, capital da Ucrânia, e também no sul e oeste do país.

“Estamos vivendo um ano difícil, mas vamos superar. Acreditamos no (presidente) Poroshenko e na equipe dele. Não conseguirão dividir a Ucrânia”, conta Svetlana, da cidade de Zhytomyr, a oeste de Kiev. A amiga Lera, da mesma cidade, concorda: “Já passamos por um genocídio no século passado. Sabemos nos recuperar de crises e tragédias”.

A estudante Sacha acredita que esta seja a primeira geração contemporânea de ucranianos. Para ela, os conflitos de Maidan foram o pontapé para o período de transição que o país vive agora. “Nós não sabemos ainda quem somos. No século passado, éramos parte oficial de algo maior, a União Soviética. Depois, passamos a ser os vizinhos pobres da Rússia. Éramos todos muito passivos e dependentes. E agora? Quem somos?”. A pergunta é respondida pela própria jovem. “Somos um novo país, uma nova Ucrânia, um povo que luta. Eu tenho mais esperança agora do que há um ano”.

Ontem (31), o Parlamento ucraniano rejeitou a renúncia pedida na semana passada pelo primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk. Uma das condições de Yatseniuk para ficar no governo foi a aprovação de leis que permitissem um maior gasto com as forças armadas. Outros 758 milhões de dólares (R$ 1,7 bi) vão ser destinados para financiar o Exército ucraniano. Para cobrir o gasto militar, foi também aprovado um imposto de 1,5% sobre o salário mensal das pessoas físicas, além de aumento de impostos sobre o tabaco e nos setores de mineração, petróleo e gás.

“Ninguém gosta de pagar mais impostos, mas sabemos que é um imposto importante. Confio no governo e estou feliz que Yatseniuk permaneça (como primeiro-ministro)”, contou por telefone a funcionária pública Masha, de Odessa, no sul do país.

O otimismo notado na capital ucraniana e no sul e oeste do país, no entanto, não reflete a opinião dos residentes no leste da Ucrânia. Em Donetsk, o governo de Kiev é apontado como o responsável pela morte de centenas de civis nos confrontos entre as forças oficiais da Ucrânia e os separatistas pró-Rússia.

“Eles estão em Kiev recebendo dinheiro da Europa e dos EUA. E o que vão fazer com este dinheiro? Gastar com mais armas e tanques”, critica Vadim, que “ainda mora” em Donetsk.

Na região, a população aguarda o pior. Um avanço do exército ucraniano em Donetsk é esperado para os próximos dias.

“Eu nunca pensei que viveríamos esta situação aqui na Ucrânia e menos ainda que teríamos um conflito com a Rússia, com quem temos laços históricos e afetivos. Mas eu tenho certeza que em breve tudo será como antes”, acredita a septuagenária Natasha, residente em Donetsk, mas com três filhos morando em Moscou. “Só é triste perceber que nunca mais teremos a mesma relação com os russos”, lamenta.

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Números pouco otimistas na economia ucraniana

O Fundo Monetário Internacional (FMI) espera que a economia da Ucrânia encolha 6,5% este ano. Com os custos do conflito no país, o governo cortou gastos de aproximadamente 1% do PIB.

Salários e aposentadorias serão reajustados apenas no nível da inflação e haverá corte de pelo menos 24 mil empregos públicos. Estas medidas foram algumas das exigências do FMI. O Fundo Monetário Internacional emprestou US$ 17 bi  (R$ 38 bi) à Ucrânia e este dinheiro entrará nos cofres de Kiev nos próximos dois anos. Em contrapartida, a Ucrânia teve que aprovar um pacote de austeridade que inclui, entre outras coisas, a retirada gradual dos subsídios ao gás natural. 

A inflação sobe a galope e também preocupa. Em janeiro, a inflação era de 0,5%. Segundo o Serviço de Estatística da Ucrânia, o valor estimado para julho é de 12%. Os números oficiais situam a taxa de desemprego em 9,3%.

Fonte: Especial para Terra
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