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Europa

Cameron promete referendo sobre permanência na UE antes do fim de 2017

23 jan 2013 - 11h19
(atualizado às 11h22)
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O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu nesta quarta-feira em Londres organizar um referendo antes do fim de 2017 sobre a permanência do Reino Unido dentro da União Europeia, que ele espera que passe por uma reforma e concentre-se no mercado comum.

Este discurso adiado, há meses, obedece a uma estratégia de alto risco. Aplaudido pelos eurocéticos, Cameron coloca em jogo o seu próprio futuro político, a coesão de seu governo de coalizão e de seu partido conservador, divididos sobre a questão da União Europeia.

Também coloca em risco as relações de seu país com o continente, cada vez mais descontente com as pretensões britânicas de uma "Europa à la carte".

Cameron se defendeu de ser "isolacionista" e de querer fazer dos britânicos "os noruegueses ou suíços da Europa". Ele sustentou sua visão de uma UE "flexível, adaptável e aberta", porque "não só quero um melhor acordo para o Reino Unido, mas quero também um melhor acordo para a Europa".

Apesar de se dizer partidário de que seu país permaneça dentro da UE, advertiu que "se não enfrentarmos os desafios, o perigo é que a Europa fracasse e que os britânicos se dirijam à saída",

"Não quero que isto aconteça, espero que a Europa seja um sucesso", declarou, ressaltando os méritos históricos da UE, que "restabeleceu a paz" no velho continente após a Segunda Guerra Mundial, "mas que deve continuar a assegurar a prosperidade".

O chefe do governo britânico não citou as condições para que seu país, um membro "exigente" que se recusou a adotar o euro, permaneça no bloco.

Ele se contentou em mencionar "o meio ambiente, os assuntos sociais e criminais". Nos últimos meses, adotou o mantra da "Dama de Ferro" Margaret Thatcher, para melhor exigir o repatriamento das prerrogativas abandonadas em Bruxelas.

"Nada pode ser excluído" na negociação, alertou para uma multidão de jornalistas e empresários na sede londrina da agência financeira Bloomberg, declarando "não ter ilusões sobre a magnitude do desafio".

"Chegou a hora dos britânicos terem voz", proferiu Cameron, fazendo eco aqueles que denunciam o "déficit democrático europeu".

"Quando tivermos negociado este novo acordo" sobre as relações da Grã-Bretanha com a UE, "daremos ao povo britânico um referendo com uma opção muito simples: permanecer dentro da UE neste novo modelo ou sair completamente", afirmou.

Este referendo deve ser realizado na primeira metade da legislatura (2015-2020), se Cameron for reeleito nas eleições gerais previstas para 2015.

"Não há dúvida de que somos mais fortes aos olhos de Washington, Pequim ou Nova Déli porque somos um ator importante na União Europeia", considerou. "Se deixarmos a UE, será uma saída simples, mas sem retorno", advertiu.

Esta perspectiva de um "Brixit", contração de "British exit", que suscita temores nos meios econômicos e políticos e entre os liberais-democratas membros do governo de coalizão, promete pesar sobre o debate. O discurso imediatamente provocou uma avalanche de reações.

Um dos líderes dos eurocéticos conservadores, Daniel Hannan, comemorou o fato dos britânicos poderem em breve "escolher entre dentro-fora".

"O verdadeiro trabalho (em favor do não) começa hoje", declarou Nigel Farage, líder da formação eurofoba UK Independent Party, em alta nas pesquisas de opinião.

O chefe da oposição trabalhista, Ed Miliband, já havia denunciado terça-feira à noite o discurso de "um primeiro-ministro fraco, a mando de seu partido e não guiado pelo interesse econômico nacional".

David Cameron adotou o "jogo dos radicais de seu partido", estimou por sua vez Peter Mandelson, ex-comissário europeu próximo de Tony Blair, denunciando um "ultimato".

O discurso também provocou preocupação e irritação entre os parceiros europeus.

O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, classificou de perigoso o projeto do primeiro-ministro britânico de organizar um referendo sobre a permanência de seu país na União Europeia, ressaltando que "não se pode fazer uma Europa à la carte".

"Suponhamos que a Europa fosse um clube de futebol: quando você adere ao clube, não pode dizer, uma vez dentro, que vai jogar rugby", acrescentou.

Já a Alemanha quer que a Grã-Bretanha continue sendo um membro ativo e construtivo da União Europeia, enquanto o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, ressaltou a necessidade "de um Reino Unido membro por inteiro, que continue ancorado por porto de Douvres".

A Comissão Europeia, por sua vez, parabenizou a vontade de Cameron de que seu país permaneça na UE, segundo a porta-voz Pia Ahrenkilde-Hansen.

"O Reino Unido oferece muito à integração europeia e contribuiu para modelar as políticas da Europa", afirmou.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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