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Mundo

Breivik diz que é uma pessoa simpática em um período normal

20 abr 2012 - 07h07
(atualizado às 12h45)
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Anders Behring Breivik, julgado pelo massacre de 77 pessoas ano passado na Noruega, afirmou nesta sexta-feira que é uma pessoa "muito simpática", mas que teve que reprimir suas emoções a partir de 2006 para poder executar os ataques.

Confira a linha do tempo dos atentados na Noruega

"Sou alguém muito simpático em uma época normal", declarou Breivik no quinto dia do processo, antes de afirmar que a partir de 2006 teve que reprimir suas emoções, especialmente com a prática da meditação, e cortar as relações sociais com o objetivo de preparar-se para cometer os dois atentados executados em 22 de julho de 2011.

O extremista de direita disse ainda que é são. "Eu não sou um caso psiquiátrico. Eu sou criminalmente são", afirmou. "Quando se vê uma coisa tão extrema é possível pensar que se trata de loucura, mas é necessário diferenciar entre extremismo político e loucura no sentido clínico do termo".

Breivik abriu fogo contra jovens que participavam em um evento político na ilha de Utoya e matou 69 pessoas. Horas antes ele detonou uma bomba de quase uma tonelada perto da sede do governo norueguês, que matou oito pessoas.

Ele afirma estar em guerra contra "as elites" que permitem a "islamização" da Europa e admitiu os fatos, mas se recusa a afirmar que é culpado.

Em seu relato, Breivik definiu os fatos como "atos horríveis, atos bárbaros" e explicou no tribunal que pensou em uma "operação suicida" depois de ter esgotado todas as vias pacíficas para promover suas ideias nacionalistas, um fracasso que atribuiu à censura dos meios de comunicação entregues, segundo ele, ao multiculturalismo.

Para poder executar o ataque, o extremista de 33 anos afirmou que recorreu a um "mecanismo de defesa" e que "desumanizou" as vítimas, após um treinamento de vários anos. "É preciso desumanizar o inimigo. Se não tivesse feito isto, não teria obtido sucesso".

Breivik disse ainda que não é racista e criticou o "racismo antieuropeu" dos meios de comunicação.

Apatia

Nesta sexta-feira, os advogados questionaram a sua apatia aparente e a maneira "fria e técnica" com a qual explicou seus atos. Seu tom e suas palavras (ele caracterizou os adolescentes mortos de Utoya como "alvos legítimos") feriram muitos familiares de vítimas.

Pressionado neste ponto, Breivik disse ser capaz de ter sentimentos, mas se recusou a falar mais porque, segundo ele, impediria o prosseguimento de seu testemunho. "Eu entraria em um colapso mental, caso removesse os escudos que preparei", explicou.

"Eu não sou capaz de medir a dor que causei aos outros", disse. "O dia 22 de julho não gira em torno das famílias das vítimas, nem em torno de mim. O caso gira em torno do futuro da Europa e da Noruega", acrescentou sob o olhar atento dos psiquiatras oficiais sentados a sua frente.

Breivik recordou com tranquilidade o massacre de Utoya, quando matou 69 pessoas. "Eu levantei minha arma e disparei contra a cabeça dele", contou, referindo-se a um segurança que trabalhava no acampamento de verão da juventude social-democrata, onde havia basicamente adolescentes. Algumas pessoas, disse, "estavam se fingindo de mortas, e por isso disparei um tiro de misericórdia".

Entre suas primeiras vítimas estavam o segurança, um policial à paisana e a chefe do acampamento, Monica Bosei. Ele assegurou estar "meio aterrorizado". "Estava verdadeiramente preocupado. Eu não queria fazer aquilo, de verdade", contou ainda, ao recordar sua chegada à ilha vestido de policial fortemente armado.

Vendedor
Desde o início de seu julgamento, Breivik demonstrou emoção apenas uma única vez, na segunda-feira, quando a acusação exibiu seu vídeo ideológico. Na ocasião, o acusado chorou depois de ter permanecido impassível ao escutar a leitura dos nomes e causa da morte das 77 vítimas. "É preciso que me considerem um vendedor. Eu vendo uma mensagem (...) Eu concebo o 22 de julho como uma missão para salvar a Noruega e a Europa", afirmou nesta sexta-feira.

Breivik explicou que decidiu realizar uma "operação-suicida", ele achava que iria morrer no dia dos ataques, após ter esgotado "todos os caminhos pacíficos" para promover sua causa nacionalista, um fracasso que atribuiu à censura dos meios de comunicação entregues, segundo ele, ao multiculturalismo.

Também relatou ter se informado na internet sobre a fabricação de bomba e estudado os movimentos revolucionários pelo mundo, como as FARC, ETA e IRA, mas que encontrou mais inspiração na Al-Qaeda. "A vantagem da Al-Qaeda, é que ela glorifica o martírio", disse. "Esta é a chave do sucesso para um combate de resistência", acrescentou.

"Eu não sou um caso psiquiátrico. Eu sou criminalmente são", afirmou Breivik no quinto dia de julgamento
"Eu não sou um caso psiquiátrico. Eu sou criminalmente são", afirmou Breivik no quinto dia de julgamento
Foto: AFP
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