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Brasileiros tentam se adaptar a estado de alerta em Bruxelas

Após nova análise de risco, o estado de alerta máximo foi mantido, mas escolas e metrôs foram reabertos

25 nov 2015 - 18h53
(atualizado às 20h18)
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Com Bruxelas ainda sob alerta máximo, brasileiros residentes na capital belga tentam manter a rotina em meio ao risco de ataques de extremistas semelhantes aos que aconteceram em Paris.

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No último sábado (21), as autoridades belgas decidiram implementar um grande esquema de segurança diante da "ameaça real e iminente" de atentados em Bruxelas.

Transportes públicos foram suspensos e museus, fechados. Autoridades também cancelaram eventos públicos e recomendaram à população que evitasse locais com grande aglomeração de pessoas.

Na segunda-feira (23), depois de uma nova análise de risco, o governo decidiu manter o estado de alerta máximo por mais uma semana, mas ordenou a reabertura de escolas e da rede de metrô nesta quarta-feira (25).

Fotógrafa Alice Ramos diz que mudou o trajeto da filha de 16 anos
Fotógrafa Alice Ramos diz que mudou o trajeto da filha de 16 anos
Foto: Arquivo Pessoal

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Ainda assim, o café brasileiro La Caipirinha, situado em uma região com muito movimento noturno em um bairro na região central de Bruxelas, está funcionando normalmente desde o fim de semana passado. "No sábado, a polícia passou e falou para colocarmos a música mais baixo e fechar mais cedo. Abaixamos as portas à 1h, mas continuamos funcionando com os clientes que estavam dentro. Somos um café brasileiro. Não é aqui que eles (os terroristas) vão atacar", afirma a proprietária, Maria dos Santos, que vive em Bruxelas há oito anos.

Ela conta, porém, que a clientela diminuiu cerca de 70% durante o fim de semana de sitio. "A rua estava quase deserta. Quase todos os outros restaurantes estavam fechados. Mas não podemos parar por causa de terroristas", disse à BBC Brasil.

A embaixada do Brasil estima que entre 30 e 40 mil brasileiros vivam na Bélgica, a maioria deles em Bruxelas e Antuérpia.

Paulo Brasil, proprietário de uma academia de artes marciais no bairro de Anderlecht, onde ocorreram algumas das batidas policiais antiterroristas, decidiu manter as atividades, e sem qualquer esquema especial de segurança. "Tivemos um 'portas abertas' no sábado e veio muita gente. Os alunos continuam vindo. Só aqueles que dependem do metrô não vieram, porque o metrô estava parado", assegura.

Na embaixada e no consulado do Brasil na capital belga também não houve modificações. "Não vimos necessidade de reforçar a segurança. A única medida excepcional é que não está sendo cobrada a presença de funcionários que dependem do metrô. Não se pode esperar que essas pessoas venham trabalhar normalmente", explicou o ministro-conselheiro Luciano Macieira.

A BBC Brasil apurou que o governo belga enviou a algumas embaixadas um comunicado informando que missões e representantes diplomáticos em Bruxelas não são visados pela atual ameaça terrorista.

Mudança de hábitos

Panaiotis Sazalis, consultor em informática brasileiro que vive em Bruxelas há dez anos, recebeu orientação do patrão para trabalhar de casa enquanto o metrô permaneceu fechado.

Mesmo com a reabertura da rede metroviária, ele pretendia passar a fazer de ônibus a viagem até o trabalho. "Tenho medo, principalmente nos locais subterrâneos. Mas a vida não pode parar. Com tanta polícia nas ruas, acho difícil acontecer alguma coisa."

A fotógrafa Alice Ramos também preferiu mudar o trajeto da filha de 16 anos. "Meu marido e minha filha usam a linha de metrô que passa pelas estações mais movimentadas. Então traçamos um novo trajeto para eles, evitando o transporte subterrâneo. Eles vão usar tranvia (metrô de superfície) e ônibus até as coisas se acalmarem", disse.

Assim como Sazalis, pai de dois filhos pequenos, Ramos também está apreensiva com a reabertura das escolas, mesmo com o governo mobilizando 200 policiais adicionais para reforçar a segurança desses estabelecimentos e das estações de metrô.

A fotógrafa diz acreditar que "está acontecendo alguma coisa muito séria" na cidade que a acolheu há cinco anos, mas afirma que não tem medo. "Sinceramente, não, pois nenhuma coisa concreta aconteceu ainda. Ameaçam estourar bombas aqui, nos Estados Unidos. Seremos mais cautelosos quanto ao metrô e aglomerações. Mas o ritmo de vida continua o mesmo. Vou a mercados, lojas. Não me sinto em uma guerra."

Ricardo Ambrózio diz considerar estado de sítio "mais assustador" que episódios de violência no Rio
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Foto: Arquivo Pessoal

Comparação

A maioria dos brasileiros entrevistados fez um paralelo com a violência no Brasil para justificar a maneira como encara a situação em Bruxelas. "Essa violência acontece todo o dia no Brasil. Os belgas não estão acostumados, mas a gente que vem do Brasil não se assusta", opinou Paulo Brasil. "Um governo que para uma cidade por quatro dias apenas pela possibilidade de um atentado me passa muita segurança. A Bélgica contabiliza menos de dez pessoas mortas por ano em atentados. No Brasil, tantas pessoas morrem de forma violenta por dia", disse Ramos.

Já o bailarino e coreógrafo Ricardo Ambrózio, que chegou à capital belga há cinco anos, considera o atual estado de sítio "mais assustador" que episódios de violência vividos em seu Rio de Janeiro natal. "Não é exatamente medo. O silêncio é extremamente assustador, porque pode acontecer qualquer coisa, a qualquer hora, em qualquer lugar. Não é como se houvesse um bairro a evitar, um comportamento a evitar. Estou consultando internet de hora em hora para ver se há novidades nas investigações."

Desde o sábado, a polícia belga realizou várias operações para buscar os suspeitos de organizar atentados contra o país, mas ainda não descartou a ameaça.

O terrorista mais buscado do país, Salah Abdeslam, implicado nos atentados que deixaram 130 mortos em Paris em 13 de novembro, continua foragido.

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