Bósnia segue dividida e pobre 20 anos após a guerra
6 abr2012 - 09h31
(atualizado às 10h38)
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A Bósnia recorda nesta sexta-feira o 20º aniversário do início da guerra étnica (1992-1995) que em três anos matou 100.000 pessoas e provocou o deslocamento de mais de dois milhões, quase metade da população, nesta antiga república iugoslava. Vinte anos depois, a Bósnia vive em paz, mas as três principais comunidades permanecem tão divididas como antes e o Estado bósnio está debilitado e empobrecido.
Há 20 anos, nos dias 5 e 6 de abril de 1992, os franco-atiradores sérvios abriram fogo contra milhares de pessoas que pediam paz nas ruas de Sarajevo, provocando as primeiras vítimas do conflito. Na ocasião, a Comunidade Europeia reconheceu a independência da Bósnia.
"As feridas da guerra seguem profundamente ancoradas nas relações entre as três comunidades, muçulmana, sérvia e croata, que participaram na guerra", explica Raif Dizdarevic, um dos últimos presidentes da Federação Iugoslava, antes da violenta divisão nos anos 90. "A Bósnia é prisioneira das forças nacionalistas, as divisões se aprofundam e o país retrocede", lamenta.
Sérvios e croatas não informaram até o momento se pensam em organizar algum ato pelo aniversário, que será lembrado em Sarajevo com um concerto na principal avenida do centro da cidade, com milhares de cadeiras vazias em memória dos mais 10.000 habitantes da cidade mortos durante o cerco da cidade pelas forças sérvias, que durou três anos.
Mais de 100 jornalistas e fotógrafos que cobriram o conflito retornaram a Sarajevo. A premissa da guerra na Bósnia remonta a 1° de março de 1992, quando os muçulmanos e os croatas - majoritários - disseram 'Sim' à independência em um referendo boicotado pelos sérvios.
"Penso que esta tentativa de impor aos sérvios a decisão foi um erro", afirma o analista bósnio Esad Hecimovic, antes de destacar que os sérvios já se beneficiavam do apoio militar do regime no poder em Belgrado. Hecimovic ressalta ainda que o líder muçulmano da época, Alija Izetbegovic, que seria o primeiro presidente da Bósnia independente, apostou em demasia em um apoio da comunidade internacional para impedir uma guerra cuja ferocidade era previsível.
O fim do conflito foi marcado pelo massacre executado pelas forças sérvias em Srebrenica (leste) em julho de 1995, no qual morreram 8.000 muçulmanos, que a justiça internacional classificou de genocídio. Quatro meses depois, os acordos de paz de Dayton (Estados Unidos), negociados sob pressão internacional, terminaram com o conflito, mas consagraram a divisão da Bósnia em duas entidades, uma sérvia e outra croato-muçulmana, cada uma com um alto grau de autonomia e unidas por instituições centrais frágeis.
"O diálogo entre as entidades não existe, estão divididas por um muro", afirma Dizdarevic. Esta divisão e suas crises políticas incessantes afetam o futuro do país e sua ambição de entrar para a União Europeia (UE). A Bósnia é, de fato, um dos países mais pobres da Europa, onde o desemprego afeta mais de 40% de seus 3,8 milhões de habitantes, com 25% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo a ONU.
Os protagonistas da guerra estão detidos, estão sendo julgados por crimes de guerra pela justiça internacional ou faleceram. Os líderes políticos e militares sérvios da Bósnia durante o conflito, Radovan Karadzic e Ratko Mladic, que durante anos fugiram da justiça internacional, foram detidos e estão sendo julgados por genocídio no Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia.
Imagem de 18 de agosto de 1995 exibe dois soldados bósnios-croatas passando por corpo de militar bósnio-sérvio morto em ataque croata a cidade de Drvar, de maioria sérvia. O dia 6 de abril marca o aniversário de 20 anos da guerra da Bósnia, que durou quatro anos. Cerca de 100 mil pessoas morreram e 2,2 milhões foram obrigadas a deixar suas casas. A guerra encerrou em dezembro de 1995. Veja a seguir fotos históricas do confronto
Foto: AFP
Idosa chora antes de deixar Sarajevo, à época sitiada, em 18 de agosto de 1992, dia em que cerca de mil civis, a maioria formada por crianças e mulheres sérvias, foi evacuada pela ONU para Belgrado, então capital da Iugoslávia
Foto: AFP
Casal de idosos de etnia muçulmana recebem tratamento médico em campo de refugiados no dia 11 de julho de 1995. O homem morreu logo após a foto ser tirada
Foto: AFP
Mulher de etnia sérvia Melica Saric chora no túmulo de seu filho em Sarajevo. Velimir morreu em outubro de 1995 em uma batalha nos subúrbios de Sarajevo
Foto: AFP
Foto de 12 de setembro exibe o violoncelista tocando no que restou da Biblioteca Nacional de Sarajevo após bombardeio
Foto: AFP
O hotel Holyday Inn de Sarajevo arde em chamas após ser atingido pelo disparo de um tanque sérvio em 19 de setembro de 1992. O local abrigava a maioria dos jornalistas ocidentais que cobriam o conflito
Foto: AFP
Soldado do exército iugoslavo abraça irmão após ser libertado pelas forças bósnias em 4 de maio de 1992. Outros 171 prisioneiros foram libertados no mesmo dia
Foto: AFP
Enorme nuvem de fumaça se ergue de prédio atingido por bombardeio em Sarajevo no dia 5 de agosto de 1992
Foto: AFP
Um dos quarto soldados franceses das forças de paz da ONU feridos em ataque de artilharia é transportado para ambulância em 7 de agosto de 1992, em Sarajevo
Foto: AFP
Grupo de meninos brinca com pistolas de plástico em Sarajevo, no dia 19 de agosto de 1992
Foto: AFP
Pessoas carregam homem ferido durante bombardeio no centro de Sarajevo em 17 de agosto de 1992
Foto: AFP
Imagem mostra incêndio parcial na base militar Marechal Tito em Sarajevo em 20 de agosto de 1992. O ataque provocou a destruição de oito caminhões da ONU
Foto: AFP
Prisioneiros sérvios caminham em jardim em prisão militar de Sarajevo em 21 de agosto de 1992
Foto: AFP
Menino anda de bicicleta em meio a carros destruídos e marcas do conflito em Sarajevo, no dia 16 de julho de 1992
Foto: AFP
Moradores de Sarajevo carregam homem ferido após bombardeio a estação de televisão em 8 de março de 1993
Foto: AFP
Soldado bósnio passa por blindado da ONU em rua deserta de Sarajevo no dia 4 de julho de 1992
Foto: AFP
Grupo de 51 prisioneiros de Guerra bósnios se prepara para ser libertado após ser trocado por 50 prisioneiros sérvios, na sede da ONU em Sarajevo, em 21 de agosto de 1992
Foto: AFP
Idosa bósnia aguarda dentro de carro cujo vidro foi estilhaçado por tiros, em Sarajevo, no dia 10 de novembro de 1992
Foto: AFP
Civil ergue os braços ao lado de corpo de mulher morta em ataque de morteiro em Sarajevo, no dia 21 de agosto de 1992
Foto: AFP
Foto de 6 de abril de 1992 mostra civis bósnios tentando se proteger enquanto militares retornam fogo de atiradores de elite sérvios em Sarajevo. Extremistas sérvios posicionados no telhado de um hotel abriram foto contra uma manifestação de cerca de 30 mil pessoas. A guerra civil entre as etnias muçulmanas e croatas contra os bósnios de origem sérvia, apoiados pela Iugoslávia, aconteceu logo após a proclamação de independência do país, proclamada em 1º de março de 1992