PUBLICIDADE

Europa

Bósnia, de receptora de "mujahedins" a exportadora de "jihadistas"

27 dez 2015 - 07h20
Compartilhar
Exibir comentários

A Bósnia atraiu centenas de "mujahedins" estrangeiros durante a guerra de 1992 a 1995, e agora, 20 anos depois, são cidadãos bósnios que saem do país para se tornarem "jihadistas" do autodenominado Estado islâmico (EI).

A imensa maioria dos muçulmanos bósnios é moderada e apenas alguns poucos milhares seguem as ultraconservadoras correntes salafista e wahhabista, que chegaram através de combatentes estrangeiros e com o financiamento das monarquias do Golfo Pérsico.

Embora a maioria desses milicianos, denominados "mujahedins", tenha deixado o país após o conflito entre bósnio-muçulmanos, servo-bósnios e bósnio-croatas, suas ideias radicais e sua leitura literal do Corão criaram raízes.

Ao legado da guerra se soma uma situação econômica nefasta, com 45% de desemprego, número ainda maior entre os jovens, e a ineficácia da administração estatal, na qual o governo central quase não tem poder.

Desde o final da guerra aconteceram 11 atentados terroristas, todos eles cometidos por salafistas ou pessoas vinculadas com doutrinas islâmicas extremistas.

"O terrorismo surge nas condições de desesperança, quando alguém não pode projetar seu futuro nem sequer no curto prazo", declarou à Agência Efe Goran Kovacevic, especialista em assuntos de segurança e professor na Faculdade de Criminologia de Sarajevo.

As forças de segurança não esconde sua preocupação com o fato de a Bósnia, com 3,8 milhões de habitantes, seja um dos países com mais jihadistas por habitante da Europa.

No dia 18 de novembro, dois soldados bósnios morreram em um atentado em Sarajevo. O terrorista, Enes Omeragic, entrou em uma casa de apostas perto de um quartel militar e atirou nos dois militares usando um fuzil automático. Em seguida, cometeu suicídio.

"Estive no local. Vi do meu lado o cano do fuzil, (o homem) passou entre os presentes, foi direto para os soldados e atirou", declarou à Efe Murat Halilovic, testemunha do ataque.

Várias pessoas foram condenadas por terrorismo, como há alguns meses aconteceu com Haris Causevic, de 35 anos, pelo ataque a uma delegacia na cidade de Bugojno. Ou em 2007 com Bajro Ikanovic, que recebeu pena de quatro anos de prisão por planejar atentados contra alvos do Ocidente.

Após sair da prisão, Ikanovic foi para a Síria, onde é agora um comandante do EI. Entre 100 e 150 bósnios seguiram seus passos e estão nas fileiras jihadistas no Iraque e na Síria, e cerca de cem combatentes podem ter retornado, segundo dados oficiais.

Embora uma recente lei puna com até 20 anos de prisão o ato de lutar no exterior, ninguém foi condenado até agora.

O diretor da agência de inteligência militar da Sérvia, Slavoljub Dabic, declarou recentemente ao jornal "Danas" que o retorno desses combatentes fizeram com que aumente a ameaça terrorista nos Bálcãs.

"Aqueles que passaram mais tempo nos combates e que retornam de forma planejada são uma grande ameaça", disse, acrescentando que com "as experiências adquiridas e os vínculos estabelecidos" podem dar apoio logístico a potenciais terroristas.

Na Bósnia pode haver cerca de 3 mil pessoas consideradas um potencial perigo por seus vínculos com o extremismo islâmico, segundo os serviços de inteligência.

O vice-ministro de Segurança da Bósnia, Mijo Kresic, expressou seu "temor" do estabelecimento de "uma ideologia que de alguma maneira apoia e desenvolve o extremismo violento na Bósnia".

No país há 30 pequenos povoados no centro e no norte do país, como Gornja Maoca, Dubnica e Osva, nas quais seus habitantes vivem segundo as normas wahhabistas mais estritas.

Os primeiros missionários e adeptos salafistas e wahhabistas chegaram à Bósnia no começo da guerra e, em 1993, começaram a se somar ao Exército bósnio-muçulmano, no qual formaram a unidade Al-Mujahid, que teve cerca de 400 integrantes.

Duas décadas depois ainda estão em fase de investigação seus crimes contra civis, como assassinatos, estupros e torturas.

Depois da guerra, a maioria dos voluntários foram embora, mas ficou sua ideologia, que foi divulgada entre a população muçulmana rural, pobre e pouco formada.

Um dos líderes wahhabistas, Hussein Bosnic, conhecido como Bilal, foi condenado em novembro a sete anos de prisão por recrutar combatentes para o EI.

Bosnic, que oficialmente não tem renda, vivia em uma mansão em Buzim (noroeste) com quatro mulheres e 18 filhos, e segundo as forças de segurança bósnia recebia financiamento que vinha do estrangeiro, especialmente das monarquias do Golfo Pérsico.

Desde 2012, quando Hussein Kavazovic substituiu Mustafa Ceric como líder religioso dos muçulmanos bósnios, aconteceu um claro distanciamento dessas correntes, afastadas das posições moderadas majoritárias.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade