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Europa

Avião da Malaysia pode ter sido confundido com caça inimigo

Na avaliação de especialista em aviação, companhia aérea deveria ter evitado rota em zona de conflito armado

17 jul 2014 - 16h33
(atualizado às 23h15)
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Separatistas armados pró-Rússia em local da queda de avião da Malaysia Airlines na Ucrânia. 17/07/2014
Separatistas armados pró-Rússia em local da queda de avião da Malaysia Airlines na Ucrânia. 17/07/2014
Foto: Maxim Zmeyev / Reuters

Enquanto o governo ucraniano e líderes separatistas se acusam mutuamente por um suposto atentado ao avião da Malaysia Airlines que caiu nesta quinta-feira perto da cidade de Shaktarsk, há fortes indícios de que o Boeing-777 tenha sido abatido no ar, na opinião de Cláudio Lucchese, diretor da revista Asas, especializada em aviação civil e militar. “É incontestável que a aeronave estava passando em cima de uma zona de guerra, e que nos últimos dias houve pelo menos duas aeronaves militares ucranianas que haviam sido derrubadas naquela área - um era um avião de transporte e outro era um jato de ataque. Dois aviões abatidos na mesma região, em situação de combate”, afirmou o especialista.

Internauta grava fogo depois de queda de avião na Ucrânia:

De acordo com Lucchese, a situação do voo MH-17 é semelhante ao ocorrido com o voo 665 da Iran Air, abatido no dia 3 de julho de 1988 por um míssil lançado de um cruzador norte-americano. Na ocasião, o Airbus A-300 com 290 pessoas a bordo fazia a rota entre Teerã e Dubai, e foi confundido com um caça inimigo pela embarcação USS Vincennes.

“Segundo o controle aéreo do navio americano, o avião foi captado no radar e eles pensaram que era um caça iraniano que estava vindo atacar o navio. Você vê que é completamente viável da defesa aérea ucraniana, no momento em que os ucranianos recentemente acabaram de perder aviões militares naquela região, de repente pegar um alerta de radar erradamente, lançar um míssil e acontecer a tragédia que a gente acabou de ver. Se isso aconteceu com um cruzador americano em 1988, não é tão difícil que tenha acontecido agora com uma bateria de mísseis da Ucrânia”, analisa Lucchese.

Na avaliação do especialista, a aeronave não dava indícios de problemas no voo antes da queda, o que reforça a hipótese de ter sido abatida. “Até onde eu estou informado nisso, não houve nenhuma comunicação dos pilotos do avião reportando qualquer tipo de problema. Aparentemente o avião não acusou que estivesse tendo qualquer tipo de problema. O que se sabe, aparentemente, é que de uma situação normal de voo, a 10 mil m de altitude, o avião simplesmente despencou lá de cima”, diz.

Tanto as forças armadas da Ucrânia quanto da Rússia estão equipadas com sistemas de defesa antiaérea capazes de atingir aeronaves a essa altitude. “Entre os mísseis que a defesa ucraniana opera, tem um sistema de mísseis que se chama Buk-M1. Os ucranianos têm em boa quantidade, esse míssil por exemplo consegue atingir um avião a 25 mil metros de altura. Atingir um avião a 10 mil não ia ser nenhum problema. Hoje a defesa aérea russa tem vários sistemas mais avançados, mas ainda opera as versões mais novas do Buk.”

"Avião pode ter sido abatido por engano", diz embaixador:

Lucchese afirma ainda que a ausência de vestígios de explosões no céu não afasta a possibilidade de que a aeronave tenha sido atingida por um míssil. “O míssil antiaéreo pode atingir o alvo diretamente, literalmente colidir com o avião. Mas grande parte dos mísseis tem uma espoleta de proximidade. Quando está a certa distância do alvo ele já explode. Você tem inclusive ogivas de fragmentação, que despejam uma série de projéteis. Isso em si já seria suficiente, porque um avião comercial não é um veículo blindado”, diz o especialista, que cita o acidente com o voo GOL 1907 como exemplo. “Aquele avião da Gol que colidiu com o Legacy. O Legacy continuou voando sem problemas. Mas o winglet que pegou o Boeing pegou de uma forma que justamente cortou ligações de comando de voo, que tornou o Boeing praticamente impossível de ser comandado, e ele veio para baixo como uma pedra.”

Caso a aeronave tenha de fato sido abatida por um míssil, passageiros e tripulantes dificilmente tomariam conhecimento de que eram um alvo antes do impacto. “O avião comercial não tem nenhum sistema que vai alertar ele da aproximação de mísseis. Os aviões da companhia aérea israelense El Al, por motivos óbvios, são equipados com sistemas de alerta de míssil inimigo. Mas é o único caso em todo o mundo. (...) Quando acharem a caixa preta, não vai ter nenhum sistema de bordo que tenha registrado que está chegando um míssil, a não ser o gravador de voz, caso os pilotos tenham visto a aproximação. Mas mesmo isso é pouco provável, já que um míssil disparado do solo se aproximaria de baixo. Pilotos, passageiros, ninguém ia ver”, disse.

Imprudência

Na opinião de Lucchese, houve uma falha grave por parte da Malaysia Airlines, que deveria ter evitado a rota em uma região de confronto armado. “Eu, sinceramente, acho um absurdo que um avião estivesse fazendo uma rota comercial naquela região. Por tudo que a gente tem visto, é uma zona de guerra. A rota deveria ter sido desviada para outra área”, opina.

O especialista afirma que tomou conhecimento de um alerta emitido há poucos dias a companhias aéreas que circulam pelo espaço aéreo ucraniano, listando uma série de rotas a serem evitadas na região em decorrência dos recentes casos de confrontos. “Aí você já percebe que não era uma coisa desconhecida, muito pelo contrário, que aquela área de voo deveria ser evitada. É um risco que a companhia aérea assumiu. Ela poderia ter pedido autorização para fazer uma roto por outro caminho, ou simplesmente anunciar que não ia fazer essa rota temporariamente enquanto não houvesse condições mínimas de segurança. Depois dessa tragédia, várias companhias estão entrando com pedidos de suspensão ou desvio das rotas para não passar por lá. Só que a que custo? Quase 300 vidas perdidas por uma situação que poderia ter sido evitada”, reclama.

Foto: Arte Terra

Fonte: Terra
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