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Europa

Auschwitz, local emblemático da memória do genocídio judeu

26 jan 2015 - 15h27
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Auschwitz, onde ocorreu a fase decisiva do genocídio judeu, se tornou um local emblemático da memória do Holocausto, mas foi preciso tempo para compreender toda a sua importância e dimensão central na história contemporânea.

A libertação do campo pelo exército soviético em 27 de janeiro de 1945 será lembrada nesta terça-feira com uma cerimônia que contará com a presença de vários chefes de Estado europeus.

Após o estupor e inclusive a negação da realidade em certos países, foram necessários 70 anos para compreender a enormidade do que ocorreu em pleno coração da Europa: uma máquina de morte programada, sistemática e industrial que tinha o objetivo de apagar da face da Terra todo um povo.

E, no entanto, no verão de 1942 "a informação sobre os massacres de judeus nos territórios conquistados pelo exército alemão era total, as elites políticas sabiam, tanto nos países aliados quanto nos neutros", afirma o historiador francês Georges Bensoussan.

Em outubro de 1943 apareceu em Nova York o "Livro negro dos judeus da Polônia", que descreve com precisão os guetos, os massacres, as deportações e o extermínio.

Paralelamente, no front do leste, nos territórios conquistados dos nazistas, os correspondentes de guerra soviéticos reuniam indícios e testemunhos para outro "Livro negro", do qual foram publicados apenas alguns trechos.

"Mas não existiam as ferramentas intelectuais para entender isso. Durante muito tempo se pensou que era um incidente da guerra, mais uma barbárie dos nazistas", explica Bensoussan, responsável editorial do Memorial da Shoah de Paris, um dos museus de história dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial mais importantes do mundo.

Ao fim da guerra, os judeus que sobreviveram eram tão poucos que se misturaram com a massa de prisioneiros de guerra, de trabalhadores forçados e de deportados políticos.

Os nazistas apagaram os rastros de seus crimes, desapareceram com as fossas comuns das matanças e com as fábricas da morte de Belzec, Sobibor ou Treblinka. Mas restou Auschwitz, um vasto complexo no qual se agrupavam campos de concentração e de trabalho e campos de extermínio.

"Foi preciso tempo e o trabalho dos historiadores para descobrir a dimensão central do genocídio, em primeiro lugar no pensamento nazista", indica Bensoussan. E não foi fácil porque "o tema não interessava".

O hoje famoso livro de Raul Hilberg, "A destruição dos judeus da Europa", escrito em 1957, levou quatro anos para encontrar um editor nos Estados Unidos e só foi publicado na França em 1988.

A literatura também desempenhou um papel essencial na compreensão do horror, graças aos livros escritos por sobreviventes dos campos ou por crianças escondidas.

Na Europa oriental, o conflito de memórias entre as diferentes vítimas do nazismo (os judeus, mas também as populações eslavas) foi particularmente áspero.

Na Polônia, "além dos três milhões de judeus poloneses morreram dois milhões de civis", explica Bensoussan, razão pela qual "se focar nas vítimas judias era deixar na sombra as outras".

O mesmo aconteceu na União Soviética, onde o genocídio nunca foi reconhecido como tal, lembra o historiador, embora a intenção genocida dos nazistas, ou seja, o objetivo de eliminar totalmente um povo, só tenha ocorrido em relação aos judeus, como demonstra o assassinato sistemático de crianças.

Na Europa ocidental e nos Estados Unidos as muitas investigações sobre o genocídio nos anos 1980 levaram ao surgimento de uma corrente negacionista, mas que hoje perdeu importância, segundo Bensoussan.

Nos círculos antissemitas ou em certos países árabes a tendência não é mais negar o Holocausto, mas minimizar sua importância "ou acusar os israelenses de se comportarem como os nazistas".

Hoje a história do Holocausto está integrada na cultura das sociedades e forma parte dos programas escolares em muitos países. O campo de Auschwitz foi inscrito no patrimônio da Unesco em 1979 e desde então recebe todos os anos milhares de visitantes.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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