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Europa

Atoleiro político na Itália gera inquietação na Europa e nos mercados

26 fev 2013 - 15h49
(atualizado às 15h52)
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A situação política na Itália, onde a esquerda venceu as eleições gerais, mas sem conseguir a maioria absoluta nas duas Câmaras do Parlamento, indispensável para formar um governo, gera preocupação na Europa e disparou a tensão nos mercados.

"Estamos conscientes do caráter dramático da situação e dos riscos que o país corre", declarou durante uma coletiva de imprensa em Roma o líder da esquerda, Pier Luigi Bersani.

Sua coalizão venceu com uma pequena margem nas duas câmaras, à frente da formação da direita de Silvio Berlusconi e do movimento antissistema do ex-comediante Beppe Grillo.

Esta situação, sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, ameaça a governabilidade, já que a formação de um gabinete requer o apoio das duas câmaras.

O primeiro-ministro Mario Monti, com seu partido centrista, foi o grande perdedor, chegando em quarto lugar.

A chave do próximo governo pode estar nas mãos do comediante convertido em líder antissistema Beppe Grillo, que canalizou com seu Movimento das 5 Estrelas o desencanto e a indignação dos jovens e desempregados neste país submetido a um plano de austeridade para superar a crise da dívida.

Este é o pior cenário político possível para os mercados financeiros, o de um país ingovernável. O que volta a despertar os temores da crise e de um bloqueio.

Os mercado financeiros mundiais registraram nesta terça um dia negro, com as bolsas europeias sofrendo fortes quedas. A bolsa de Milão liderou a queda com 4,89%, seguida por Madri, em baixa de 3,2%, por Paris, que caiu 2,67%, Frankfurt, -2,27%, e Londres, que perdeu 1,34%.

O euro se estabilizou em relação ao dólar e o preço do petróleo caia 1,66 dólares em Londres, a 112,78 dólares o barril, e 0,76 centavos em Nova York, a 92,35 dólares.

A Itália também precisou pagar taxas de juros em considerável alta para a emissão de 8,75 bilhões de euros da dívida a seis meses.

Se o impasse político se prolongar e os partidos não entrarem em um acordo sobre uma ampla coalizão, a probabilidade de que a Itália necessite de um resgate aumentará, advertem os analistas.

Silvio Berlusconi não excluiu um acordo com o Partido Democrata (PD) de Bersani, mas deixou claro que é contra "um acordo com Monti", o tecnocrata que assumiu a Itália deixada por Berlusconi com uma dívida de mais de 2 trilhões de euros.

Beppe Grillo, por sua vez, afirmou que seu Movimento 5 Estrelas (M5S) não irá se aliar com nenhuma outra formação.

"Bersani e Berlusconi ficaram 25 anos, levaram o país à catástrofe, eles são o problema", declarou.

A inquietação dos sócios da Itália não demorou a aparecer. A União Europeia (EU) reagiu à mensagem de preocupação enviada pelos italianos nas eleições, mas espera que a "Itália cumpra com os seus compromissos".

"A Itália assumiu compromissos com a Comissão e outros Estados-membros, entre eles a redução do déficit, a redução da dívida e reformas estruturais", alertou o porta-voz comunitário, Olivier Bailly.

O ministro das Relações Exteriores do governo conservador alemão, Guido Westerwelle, convocou nesta terça-feira a Itália a se dotar rapidamente de um governo estável, para prosseguir com a política de reformas "pelo bem de toda a Europa".

Mas o ministro da Recuperação Industrial do governo socialista francês, Arnaud Montebourg, opinou que os italianos "disseram que não estavam de acordo com a política imposta pelos mercados".

O ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos, admitiu, por sua vez, que a situação da Itália tem um impacto inegável nos mercados, e torce para que esta seja de curta duração.

"É evidente que o país atravessa uma situação muito delicada", declarou Bersani, assegurando que o resultado "será administrado levando-se em conta os interesses da Itália".

"Votamos o Parlamento mais ingovernável de nossa história", resumiu o jornal La Stampa ao analisar os resultados das eleições, realizadas no domingo e na segunda-feira.

"O país com mais necessidade de estabilidade não terá um governo estável por alguns meses", comentou James Waltson, professor de relações internacionais na American University de Roma.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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