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Analistas creem em causas econômicas e sociais para distúrbios

13 ago 2011 - 10h38
(atualizado às 11h09)
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Os distúrbios na Grã-Bretanha são "criminalidade pura e dura", segundo o primeiro-ministro David Cameron, mas a oposição e alguns sociólogos negam-se a se contentar com explicações "simplistas" e afirmam que, por trás, há causas econômicas e sociais. Antes da explosão da violência sem precedentes, a resposta do governo liberal-conservador foi triplicar a presença policial em Londres.

No domingo, dia 7, novos protestos violentos tomaram bairros do subúrbio de Londres
No domingo, dia 7, novos protestos violentos tomaram bairros do subúrbio de Londres
Foto: AFP

As imagens "irritantes" de jovens encapuzados quebrando lojas para levar televisões de tela plana ou tênis esportivos demonstram que esta parte da sociedade está "doente", considerou o primeiro-ministro conservador. No entanto, Cameron negou-se a estabelecer uma relação entre os distúrbios e a pobreza, ou a ver nesta explosão de violência a expressão de um descontentamento político.

"Não se trata de política, nem de uma manifestação, mas sim de roubos", disse, taxativo. Uma opinião compartilhada por 42% dos britânicos, segundo uma pesquisa divulgada na quinta-feira. Os distúrbios, que já deixaram cinco mortos, começaram com a morte de Mark Duggan, um homem de 29 abatido pela polícia no bairro multiétnico de Tottenham, em Londres. No entanto, os líderes destes distúrbios, que se espalharam pela capital e por outras cidades inglesas, nunca fizeram referência ao jovem.

Por enquanto, a oposição evitou atribuir a responsabilidade da violência aos cortes orçamentários decididos no ano passado pelo governo de Cameron. "Penso que o que temos que fazer é evitar as soluções simplistas", disse o líder do Partido Trabalhista, Ed Miliband. "Penso que são atos criminosos individuais, e não há desculpa nem justificativa para isso (...), mas sei que precisamos ir além disso", disse à BBC.

"É cultural ou deve-se à pobreza e à falta de oportunidades? Provavelmente, as duas coisas", acrescentou Miliband. Miliband também vinculou os saques à crise financeira e ao escândalo das escutas ilegais no grupo de imprensa de Rupert Murdoch, que, segundo ele, ilustram um clima de irresponsabilidade e de egoísmo, e convidou a sociedade a fazer um exame de consciência. Para Tony Travers, sociólogo da London School of Economics, os saques "não são uma expressão política".

"Pode estar vinculado com a pobreza ou com as condições de vida, mas também com a maneira pela qual alguns foram educados. É preciso investigar profundamente para saber o que ocorreu", acrescenta. Gus John, professor da Universidade de Londres, vai mais longe e acredita que os saques expõem a raiva acumulada contra a polícia e seus controles e registros, que, segundo ele, centram-se excessivamente nos jovens negros.

"Em grande medida, penso que é uma explosão de raiva contida contra a polícia, mas também a expressão de uma absoluta frustração em relação a sua situação, porque estas pessoas não veem um futuro", afirma. Uma opinião compartilhada pelo sociólogo francês Didier Lapeyronnie, que compara a violência na Inglaterra com os distúrbios ocorridos na França em 2005 nos bairros periférios das principais cidades.

"Os distúrbios são fenômenos localizados em um bairro ou em uma cidade onde vive uma população carente, que tem a sensação de ser perseguida pela polícia, de ser vítima de racismo, e, ao mesmo tempo, se sente fora da vida política", explica.

Violência no Reino Unido

No início da noite de sábado, 6 de agosto, manifestantes iniciaram protestos em Nottingham, no norte de Londres, motivados pelo assassinato de um homem de 29 anos e pai de família, dois dias antes, pela polícia. Os protestos logo se desenvolveram em uma onda de violência que se arrastou noite adentro, quando grupos depredaram lojas e incendiaram carros, dando início ao pior episódio de violência urbana da história recente londrina.

Os tumultos diminuíram na manhã de domingo, mas ganharam nova força nos dias seguintes, irradiando para diversos bairros londrinos e até mesmo para outras cidades, como Manchester, Liverpool e Birmingham. A intensidade da violência levou centenas de policiais às ruas para conter os levantes. O premiê britânico, David Cameron, e o prefeito de Londres, Boris Johson, condenaram os tumultos, pelos quais mais de mil pessoas foram presas. Na madrugada de quarta-feira, outras três pessoas perderam a vida atropeladas em Birmingham e, na sexta-feira, Richard Mannington Bowes, 68 anos, que estava em estado crítico depois de ser ferido na noite de segunda, não resistiu e morreu no hospital, elevando para cinco o número de vítimas desde o início da onda de violência.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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