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Europa

Alemanha julga neonazista acusada de matar 9 imigrantes

Esta é a primeira vez que se aplica o termo terrorismo em assassinatos perpetrados por extremistas na Alemanha

5 mai 2013 - 15h25
(atualizado às 16h00)
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A Justiça alemã inicia nesta segunda-feira o julgamento por terrorismo da neonazista Beate Zschape, única sobrevivente do grupo Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), acusada de ter matado vários imigrantes, expondo desta forma a ineficácia da polícia no combate de organizações de extrema-direita.

Zschape, 38 anos, comparecerá perante um tribunal de Munique entre grandes medidas de segurança, com algemas nas mãos e nos tornozelos, para responder sobre os assassinatos de oito turcos, um grego e de um policial, mortos entre 2000 a 2007

Esta é a primeira vez que se aplica o termo terrorismo em assassinatos perpetrados por extremistas na Alemanha. Até agora, no entanto, nenhuma informação sobre os depoimentos da acusada para o polícia foi divulgada pela imprensa. O julgamento será o primeiro contato direto dos meios de comunicação com a processada.

Beate Zschape teve prisão preventiva decretada em 8 de novembro de 2011, quando a extremista se entregou à polícia após incendiar a casa onde tinha convivido com os outros dois membros da NSU, Uwe Bohnhard e Uwe Mundlos.

Seus dois companheiros apareceram mortos quatro dias antes, o que inicialmente foi considerado um duplo suicídio de dois criminosos perseguidos pela polícia após assaltar um banco.

Na casa parcialmente destruída localizada na cidade de Zwickau, foram encontradas pistas e a arma usada nos nove homicídios de imigrantes, cometidos em diferentes pontos do país. No local também foram achados vídeos onde o grupo se orgulhava de seus crimes.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse na época que o caso era uma "vergonha" para o país. As autoridades foram criticadas por não terem conseguido detectar e impedir a ação de uma célula neonazista que assassinou imigrantes em diferentes regiões do país.

Os crimes foram considerados então ajustes de contas entre estrangeiros ou crimes familiares. Um simples cruzamento de dados, no entanto, teria revelado que todos eles foram cometidos com a mesma arma, uma Ceska 83 calibre 7,65 milímetros.

Os três neonazistas conseguiam dinheiro assaltando bancos e além dos dez assassinatos que Beate é acusado, o grupo teria cometido em 2001 e 2004 dois atentados com bomba na cidade de Colônia, que deixaram vinte feridos.

Sua primeira vítima foi um vendedor de flores de Nuremberg e em seguida mais oito comerciantes foram mortos.

Beate Zschape será julgada ao lado de quatro supostos cúmplices da NSU, cujos vínculos com outros grupos ultradireitistas se revelaram tão tardiamente como tudo que se relaciona com o caso.

Este será assim um processo que não julgará somente a suposta autora dos crimes racistas que comoveram a Alemanha, mas também, embora indiretamente, a ineficácia e lentidão das forças de segurança frente à extrema-direita.

Nem a polícia nem os serviços de espionagem agiram contra os extremistas, apesar das atividades de um grupo com um nome tão revelador como a NSU serem conhecidas desde 1998, quando a organização foi tornada ilegal.

Aos erros, negligência ou conivência se somaram a destruição deliberada de atas policiais relacionadas com o grupo, já com Beate na prisão e sem motivo aparente.

A reação do Ministério do Interior foi demitir vários integrantes das forças de segurança e organizar sua reestruturação devido à falta de coordenação entre os corpos policiais do país.

Além de tudo isso, recentemente os meios de comunicação turcos, país de origem da maioria das vítimas, foram impedidos de ficar entre os 50 lugares previstos para a imprensa no tribunal de Munique.

Em função disso, os meios de comunicação deste país entraram com um processo no Tribunal Constitucional alemão reivindicando seu direito de cobrir o julgamento.

Após uma longa disputa, foi resolvido que as vagas para a imprensa seriam sorteadas. O resultado, no entanto, provocou protestos de grandes grupos alemães que ficaram de fora.

EFE   
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