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Oriente Médio

Raízes históricas explicam domínio democrata no Havaí

1 nov 2012 - 11h11
(atualizado às 13h46)
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Cleide Klock
Direto de Honolulu

Sozinho no meio do Oceano Pacífico e com o título de local mais afastado do planeta, o Estado do Havaí traz na sua própria história as razões pelas quais é considerado um dos lugares menos americanos dos Estados Unidos e ao mesmo tempo um dos mais democratas do país.

O Palácio Iolani, projetado pelo Rei Kalakaua, foi construído em 1882, no centro de Honolulu
O Palácio Iolani, projetado pelo Rei Kalakaua, foi construído em 1882, no centro de Honolulu
Foto: Cleide Klock / Especial para Terra

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Esses pedacinhos de terra no meio do mar (são ao todo mais de 130 ilhas, sendo que apenas sete são habitadas) se tornaram parte da federação apenas em 1959 e hoje formam o Estado número 50, o último a ser anexado aos Estados Unidos. Mas foi no final do século XIX que começou a história de domínio e conquista, numa trama que envolveu poder e interesses de um país que já sabia o que queria, contra uma família real, descendente de povos polinésios, que, em meio a uma crise, entregou suas terras, seu povo, perdeu o reinado, as forças políticas e não teve outra saída senão virar território americano.

O Havaí é o único lugar nos Estados Unidos que já teve rei e rainha. Hoje, faz parte da atividade turística - responsável por 70% da economia havaiana - visitar tanto as praias quanto os palácios, tirar fotos nos monumentos reais, que escondem uma parte da história de pouco glamour. A monarquia foi instituída em 1795. O primeiro Rei, Kamehameha, conquistou e unificou as ilhas. Depois dele, outros seis monarcas aos poucos abriram espaço para os americanos entrarem, catequizarem a população e ditarem regras e exigências.

O último rei, Kalakaua, deu autorização para os americanos construírem a base naval em Pearl Harbor e o próprio rei teve que criar uma Constituição para limitar seus poderes, tamanho era o descontentamento da população. Depois de sua morte, sua irmã Liliukalani tomou o poder e quis ficar do lado dos nativos havaianos, fechando as portas para os estrangeiros. Porém, eles já dominavam boa parte da economia e, em 1894, tropas americanas tomaram o Havaí e depuseram a rainha e o Reino do Havaí virou território americano.

O início
Foi o Partido Republicano que tomou o poder das mãos dos locais e assumiu o governo. Os interesses estavam entre ter um ponto estratégico no meio do Pacífico, comandar as grandes plantações de café, cana e abacaxi sem pagar impostos de importação, e dominar as exportações a caminho da Ásia. Davianna McGregor, doutora em História Havaiana e do Pacífico, conta que "quando o Havaí se tornou território americano, os havaianos até começaram a votar nos Republicanos, pois o partido escolheu o Príncipe Kuhio, como o deputado federal nomeado pelo Havaí. Eles sempre tentavam dar vagas para os locais para conseguir o apoio". Mas, a partir do momento que os locais começaram a perder espaço, mudou-se a configuração política.

Em 1954 aconteceu uma revolução não-violenta liderada pelo Partido Democrata: "Foi essa revolução que definiu as próximas décadas da política local", destaca Noel Kent, professor de Ciências Políticas da Universidade do Havaí. O partido ganhou poder no território por estimular greves, protestos, fortalecer sindicatos e se colocar, principalmente, do lado dos trabalhadores. Nos anos seguintes, logo depois de se tornar Estado, em 1959, os democratas lideraram o país por 40 anos ininterruptamente.

"Eles mostraram que estavam preocupados em servir todas as pessoas. Os republicanos são vistos como o partido dos ricos e brancos e têm pouco poder na política local. A divisão que existe aqui é entre os próprios democratas, de diferentes facções. Hoje, eles estão mais preocupados com o poder e status pessoal, mas é claro que ainda temos políticos que seguem os verdadeiros princípios", completa Kent.

Ares nobres
No centro de Honolulu, a capital do Estado, ainda é possível respirar um pouco dos ares dos tempos da realeza. É aqui que está o Palácio Iolani único edifício dentro dos Estados Unidos que já foi residência real. Projetado pelo Rei Kalakaua, o prédio foi concluído em 1882, e teve eletricidade e telefone antes da Casa Branca, em Washington. Dentro dele é possível "viajar no tempo", diferente do glamour dos palácios europeus, aqui impera o charme do povo polinésio.

Visita ao Kamehameha
Esta estátua do Kamehameha, primeiro rei do Havaí, está do outro lado da rua do Palácio Iolani, em frente à prefeitura da cidade. Quem assiste ao seriado Havaí 5.0 pode vê-la na abertura de cada capítulo. Na série, o QG da polícia fica neste prédio.

Bill Clinton
Em 1993, Bill Clinton, presidente na época, aprovou uma resolução, onde o governo americano oficialmente desculpava-se do papel que tivera durante a revolução de 1894.

Fonte: Especial para Terra
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