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Estados Unidos

Mitt Romney: entre o favoritismo e o ceticismo republicano

23 abr 2012 - 16h59
(atualizado às 17h05)
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De forma isolada, o histórico e perfil de Mitt Romney configuram uma candidatura republicana quase perfeita para enfrentar uma pesada corrida eleitoral pela Casa Branca. Mas o contexto nacional e o eleitorado republicanos têm feito com que a sua jornada, marcada desde o início pelo favoritismo, se veja rondada de ceticismo justamente no momento em que a consolidação de sua campanha mais seria necessária.

Romney conversa com morador de Pittsburgh: desafio é a aproximação com outros setores do eleitorado
Romney conversa com morador de Pittsburgh: desafio é a aproximação com outros setores do eleitorado
Foto: AP

Nascido em 1947, Romney vem de um berço político. Seu pai, George Romney, governou o Estado do Michigan (1963-1969), onde nasceu e cresceu o filho, para posteriormente tentar, e fracassar, na pré-candidatura à presidência pelo Partido Republicano em 1968, ano das eleições vencidas pelo também republicano Richard Nixon.

Neste período, da segunda metade da fervorosa década de 60, Romney viveu dois anos na França, onde trabalhou como missionário mórmon. De volta aos Estados Unidos, estudou Direito e Negócios na Brigham Young University e depois em Harvard. A partir dos anos 70, iniciou uma brilhante carreira de empresário.

O passo à política foi dado em 2002, quando disputou e venceu as eleições para o Estado do Massachusetts, que governou de 2003 a 2007. Neste ano, desistiu da reeleição em nome de um novo desafio: a presidência americana. Avançou nas primárias, mas acabou derrotadopelo senador então John McCain, que ulteriormente assistiria à vitória de Obama.

Favoritismo à prova

Desde o início da corrida as primárias do Grand Old Party (GOP, como os republicanos são comumente chamados), Romney despontou como o nome mais cotado para enfrentar Barack Obama, o presidente democrata em busca do segundo mandato. A principal razão do favoritismo é o perfil misto, completo e moderado de Romney: homem de fé mórmon, de experiência política no Massachusetts e pelo extenso currículo empresarial (ele mesmo diz não ser "um político de carreira" por ter passado "a maior parte de sua vida no setor privado").

De Estado em Estado, vem comprovando sua força. Após serenamente observar a desistência das candidaturas barulhentas de Michele Bachmann, a Sarah Palin 2.0, e de Herman Cain, o empresário das pizzas, passou a duelar nas urnas e nos discursos com uma grande gama de candidatos. Após algumas poucas rodadas, Rick Perry e Jon Juntsman ficaram pelo caminho, abrindo terreno para o estabelecimento do quarteto formado por Romney, Rick Santorum, Newt Gignrich e Ron Paul.

Neste grupo, Romney liderava com folga: eram mais de 600 delegados obtidos contra menos de 300 de Santorum, seu mais forte concorrente. Em termos de Estados (ainda que essa contagem seja meramente simbólica), a vantagem era ainda maior: 24 unidades americanas contra nove de Santorum (e duas de Gingrich e nenhuma de Paul).

E tudo que se esboçava em traços finos ganhou contornos mais precisos e largos quando Santorum anunciou seu abandono, virtualmente desmanchando o quarteto que mais era uma dupla, e, na prática, encerrando a disputa matemática pela nomeação.

Desafios e dúvidas

Acontece que, sozinho, Romney não mais precisa vencer adversários, mas sim conquistar seus respectivos eleitores. O jogo muda. Agora, a disputa torna-se menos matemática e mais política.

Embora virtualmente inconteste durante todo o período de primárias até agora, evidenciam-se as dúvidas e mesmo o ceticismo em torno de sua força. A questão não é mais se Romney tem maioria entre os republicanos, coisa já provada, mas se a magia empresarial Romney agregará uma massa suficiente do eleitorado a superar a massa de democratas que votará em Obama.

Do ponto de vista do capital político, há certa ironia em jogo. Como observou uma reportagem da CNN, a dúvida que geralmente surge quando um pré-candidato se torna candidato é referente à sua habilidade de angariar a grande massa central de eleitores - o campo médio, composto por eleitores menos mobilizados e mais moderados. No caso do ex-governador do Massachussets, ocorre o contrário: Romney parece padecer de seu perfil republicano moderado e pagar o preço de ser impopular entre os americanos mais tradicionalistas (os grass roots, como são chamados). Trata-se, em linhas gerais, dos eleitores que vinham mostrando maior simpatia por um Santorum ou um Gingrich.

Isso se reflete em problemas de estratégia. Em um artigo publicado no site da Fox News, o professor e economista Peter Morici aponta para a distância de mentalidade de Romney e de parte importante do eleitorado republicano formada, defende, por "velhos adolescentes" que "veem o mundo em tons de preto e branco", alguns representantes da "intolerância religiosa do século XIX", entre outros, que "abraçam visões inflexíveis de uma América perfeita".

Ele tem também problemas do ponto de vista estratégico e logístico. Obama, sem adversários democratas, vem guardando fôlego, dinheiro e tempo para as eleições propriamente ditas, e seu cofre acumula algo como US$ 300 milhões. Já Romney, que precisa gastar dinheiro nas primárias, tem um montante bem menor, algo em torno de US$ 75 milhões (em fevereiro, a disparidade já era de US$ 85 milhões para US$ 7 milhões).

Massachusetts e a busca pela autenticidade

Um caso exemplar do desafio de Romney na busca pela autenticidade republicana é a carga histórica da reforma da saúde implementada durante seu governo em Massachusetts. Como lembra a BBC, o então governador implementou, em 2006, uma reforma no sistema de saúde, fazendo com que todos os cidadãos obtivessem um plano de seguro ou ganhassem subsídios para que pudessem dispor de um. Aos olhos dos republicanos mais tradicionais, trata-se de uma medida conceitualmente similar à almejada por Obama na reforma federal da saúde - associação extremamente desgastante que Romney tem tentado, sem muito sucesso, desfazer.

Romney tem, assim, um problema de confiança com o eleitorado republicano. Se, por um lado, ele conjuga muitos dos maiores atributos para um presidente norte-americano, por outro ele vem demonstrando dificuldade em provar ser um republicano autêntico, fiel aos princípios conservadores dos Pais Fundadores. Enquanto seus adversários acumulavam jargões ao estilo "campeão dos valores republicanos", Romney investe em uma retórica forte ambiciosa, mas que talvez não seja devidamente captada pelas alas mais ortodoxas.

"Deus não criou este país para ser uma nação de servos. Os Estados Unidos não estão destinados para ser mais um ao lado de tantos poderes igualmente balanceados no mundo. Os Estados Unidos devem liderar o mundo - ou então outro irá", discursou ele em um marcante evento no início da campanha.

Romney tem um semestre para deixar este limbo eleitoral e impedir a reeleição de Obama em novembro. Uma pesquisa divulgada nesta semana mostra ambos empatados, resultado visto como positivo pelos republicanos, mas que deve variar muito à medida que o duelo entre ambos de tornar mais aberto.

Um dos momentos cruciais pode ser escolha de seu vice, entre os quais se cogita o próprio Santorum. Em agosto de 2008, McCain viu na estridente Sarah Palin a chance de ampliar seu leque de eleitores e de desestabilizar a sólida candidatura de Obama. A estratégia não deu certo. Romney terá de tirar outro coelho da sua cartola.

Fonte: Terra
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