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Ásia

Estudo chinês contraria governo e indica que país está mais desigual

1 ago 2013 - 06h10
(atualizado às 06h13)
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Um estudo feito pelo Centro de Estudos de Planejamento Familiar da Universidade de Pequim revela que a sociedade chinesa está mais desigual, ao contrário do que as estatísticas oficiais divulgam.

Segundo a pesquisa, os 5% mais ricos do país detêm 23% da riqueza nacional, ao passo que os 5% mais pobres contam com apenas 0,1% de toda a renda.

O estudo atribuiu à China um coeficiente de Gini de 0,49, aproximando-o ao de países onde há grandes índices de desigualdade, como os da África Subsaariana e da América Latina.

O coeficiente de Gini mede o grau de desigualdade na distribuição da renda familiar per capita e vai de zero a um. Quanto mais perto zero, menos desigual o país é.

Segundo o Banco Mundial, o Brasil tem coeficiente de Gini de 0,51. A Eslovênia, país com a menor desigualdade social do mundo, tem um coeficiente Gini de 0,24, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O indicador conferido pelo estudo à China (0,49) é pior do que o divulgado em janeiro pelo Birô Nacional de Estatísticas chinês (0,47).

Esfriamento da economia

No que toca a renda da população, o levantamento mostrou que, em cidades costeiras, como a megalópole Xangai, a renda média anual foi de US$ 4,1 mil, enquanto em regiões mais pobres, como a província de Gansu, no noroeste da China, não chegou aos US$ 2 mil. Para áreas rurais, os rendimentos descem mais ainda: US$ 1,6 mil.

Os resultados da pesquisa aparecem em um momento de tensão acerca do esfriamento da economia chinesa. Economistas estão mais pessimistas em relação ao poder do crescimento chinês, e os mais céticos estimam que o país deverá avançar apenas entre 3% e 4% em 2013, uma queda acentuada em relação aos 7,8% de 2012.

"A chave para resolver o problema seria reequilibrar o modelo econômico para que se concentre mais no consumo interno do que nas exportações", afirma à BBC Brasil Michael Pettis, especialista em mercado financeiro chinês e professor da Universidade de Pequim.

Entre as razões para a desigualdade social, a mais provável é a reforma econômica de 1979, a mesma que acabou levando a China ao segundo lugar na lista das maiores economias do mundo.

Ancorado nas exportações, o modelo econômico conseguiu retirar 30% da população de Pequim de uma situação de miséria absoluta entre 1981 e 2010, gerando emprego em massa na chamadas "indústrias baratas", que produzem para os mercados têxtil, atacadista e de plásticos.

Mas são os 25% do topo da pirâmide social, muitos deles ligados ao governo e estatais, que hoje detêm 59% da riqueza nacional e seguem vendo suas fortunas crescerem.

Foi essa lógica econômica, criada por Deng Xiaoping, que possibilitou à China um crescimento médio do PIB de 9,7% entre 2005 e o ano passado.

Ainda que previsões otimistas sigam acreditando na fórmula de Deng e em um crescimento médio anual de 7%, economistas mais céticos, como Pettis, calculam que os avanços da economia não devem passar dos 4%.

"Para que o PIB aumente em tal velocidade (7%), precisamos que o consumo cresça 11% acima do PIB, o que não parece possível", opina o economista.

"Assim, ou precisamos dar mais dinheiro aos ricos para que eles gastem pelos pobres, aumentando assim a diferença social já alarmante, ou o governo aparece com uma medida extraordinária que garanta que a renda dos mais pobres suba em 6%", acrescenta.

Desconfiados

Os resultados mais pessimistas do estudo da Universidade de Pequim em comparação com as estatísticas oficiais não ficam só no coeficiente de Gini.

Dados do Ministério dos Recursos Humanos e Seguridade Social da China afirmam que a taxa de desemprego se manteve em 4,1%, o mesmo índice de 2012. Já o recente estudo aponta que os desempregados chineses somam 4,4%.

Para o chefe do estudo, o professor Xie Yu, apesar de apontar um índice de desemprego maior do que as estatísticas oficiais, a pesquisa avalia que o cenário não é tão alarmante como na Europa.

"Na China tivemos o acréscimo dos salários nas indústrias, o que é um sinal de que a situação não é crítica", afirma Yu.

Economia mundial

O estudo pondera que, se comparada à realidade econômica mundial, a China está em uma posição vantajosa, com um crescimento de 7,5% no segundo trimestre deste ano ─ 0,3% abaixo do mesmo período do ano anterior.

E ainda que as previsões indiquem um ano mais pobre para a China, Pettis aponta que o PIB chinês têm um papel importante no crescimento global.

"Se a China conseguir diminuir seu superavit e ao mesmo tempo aumentar a renda das famílias de classe média e baixa em 6%, o país continuará exercendo seu papel como a mais potente variável aritmética na equação do crescimento global", explica, ponderando que a China "não é o motor" da economia mundial.

"É o fator mais forte da equação, mas não é o motivo do crescimento global".

A fim de que Pequim permaneça vivendo seu "sonho chinês" dentro de uma sociedade harmônica, o equilíbrio econômico nacional terá de se voltar, segundo Pettis, ao poder de compra do mercado interno, o que pode ser uma difícil tarefa em momentos de crise econômica mundial.

"Nem mesmo quando Estados Unidos e Europa estavam em boas condições econômicas a China conseguiu manter o crescimento do seu consumo alto o suficiente para garantir o avanço da sua economia. Por isso é muito difícil pensar que agora, em períodos de retrocesso, Pequim consiga fazer o mesmo para manter o crescimento registrado no ano passado", alerta.

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