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Estados Unidos

Viagra para mulheres, um marco feminista que causa receio em alguns médicos

23 ago 2015 - 10h20
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A aprovação nos Estados Unidos da comercialização do chamado "Viagra feminino" foi muito comemorada pelas organizações feministas, embora gere desconfiança entre parte da comunidade médica.

Após vários meses de intenso debate, na terça-feira passada a Administração de Alimentos e Remédios dos EUA (FDA) deu o braço a torcer e aceitou que a farmacêutica Sprout Pharmaceuticals ponha à venda a partir de 17 de outubro a flibanserina, sob o nome comercial de Addyi.

Imediatamente, associações feministas como a Organização Nacional para as Mulheres (NOW) aplaudiram a decisão, e sua presidente, Terry O'Neill, elogiou que a FDA tivesse feito "o correto" ao aprovar o primeiro tratamento médico para "a queixa sexual mais habitual das mulheres".

"As mulheres - não menos que os homens - merecem ter experiências sexuais satisfatórias e relações íntimas gratificantes", comentou O'Neill.

As feministas dos EUA, com a NOW à frente, tinham acusado a FDA de estar submetendo a flibanserina a maiores escrutínios que os remédios desenvolvidos para aumentar a libido masculina, como Viagra e Cialis.

Este "Viagra feminino" modifica três substâncias químicas-chaves para o cérebro, aumentando a dopamina e a norepinefrina e diminuindo a serotonina, o que faz aumentar a libido nas mulheres e seu desejo sexual.

O remédio foi desenvolvido para ser administrado diariamente a mulheres pré-menopáusicas que sofram uma desordem de anorexia sexual, ou seja, a perda repentina de qualquer desejo de praticar sexo.

No entanto, na comunidade científica a aprovação do medicamento não foi tão bem recebida como entre os coletivos feministas, e são vários os médicos e farmacólogos que põem em dúvida não só os efeitos do remédio, mas a própria natureza da suposta desordem sexual.

"Não existe uma norma estabelecida cientificamente para a atividade e desejos sexuais e não há provas que a desordem de desejo sexual hipoativo seja uma condição médica", declarou à Agência Efe a professora associada de Farmacologia da Universidade de Georgetown, Adriane Fugh-Berman.

"A desordem de desejo sexual hipoativo é um típico exemplo de um problema que foi patrocinado pela indústria para preparar o mercado para um tratamento específico", completou a professora.

Fugh-Berman publicou em junho (dois meses antes que Addyi fosse aprovado), junto com duas de suas colegas, Antonie Meixel e Elena Yanchar, um artigo no "Journal of Medical Ethics" intitulado "Desordem de desejo sexual hipoativo: inventando uma doença para vender libido".

Nele, as pesquisadoras afirma que a desordem de desejo sexual hipoativo faz parte de uma técnica de marketing na qual as companhias desenvolvem as doenças ao mesmo tempo que os remédios.

Além disso, algumas vozes na comunidade médica também alertaram sobre os possíveis efeitos colaterais, como a prestigiada professora de Psiquiatria da Universidade de Nova York, Leonore Tiefer, que contrapôs "os minúsculos benefícios" da pílula ao "muito grave horizonte de efeitos secundários".

Os efeitos colaterais do Addyi (principais responsáveis pela demora em sua aprovação) são possíveis desmaios e diminuição da pressão arterial, riscos que aumentam com o consumo de álcool e com o uso de outros remédios que interferem com a decomposição da flibanserina no organismo.

Como é habitual nestes casos, existe diversidade de opiniões entre os próprios médicos, e a ginecologista e professora de Yale, Mary Jane Minkin. disse em entrevista na televisão pública "PBS" que tem intenção de receitar Addyi "sob as circunstâncias apropriadas" a suas pacientes, por considerar que "é preciso dar uma oportunidade" ao remédio.

Na última quinta-feira, dois dias depois que a FDA aprovasse a comercialização da flibanserina, a multinacional farmacêutica canadense Valeant anunciou um acordo para comprar por US$ 1 bilhão a Sprout Pharmaceuticals, fabricante do Addyi.

EFE   
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