PUBLICIDADE

Estados Unidos

Traição, corrupção e crueldade: conheça o maior mafioso de Boston

Líder da temida Winter Hill Gang, James "Whitey" coordenou a máfia irlandesa de Boston nos anos 70 e 80. Capturado em 2011, Bulger foi interpretado por Jack Nicholson no filme "Os Infiltrados"

3 ago 2013 - 08h33
Compartilhar
Exibir comentários

O julgamento do gângster James "Whitey" Bulger, que está ocorrendo desde o fim de junho em Boston, se tornou um dramático cruzamento de acusações, digno dos melhores filmes de máfia, em uma mistura de deslealdade, corrupção policial e crueldade sem limites. Entre acusações de assassinatos, tráfico de drogas e múltiplos outros crimes, o julgamento tenta agora reconstituir parte da história de um dos mafiosos mais notórios dos Estados Unidos e um homem que foi colocado ao lado de Osama bin Laden na lista dos fugitivos mais procurados. 

"Whitey" Bulger, 83 anos, imortalizado pelo ator Jack Nicholson no filme "Os Infiltrados" de Martin Scorsese, foi o chefe da máfia irlandesa em Boston nos anos 70 e 80.

Durante esses anos, o grupo de Bulger, do sul de Boston, e seus rivais da máfia italiana, com conexões em Nova York, protagonizaram uma sangrenta luta pelo controle da cidade em cenas que agora são revividas no julgamento realizado em Boston. Bulger está sendo acusado de 19 assassinatos durante seus anos à frente da temida Winter Hill Gang, que controlava grande parte do tráfico de drogas, extorsão e apostas ilegais da cidade.

Bulger em foto sem data
Bulger em foto sem data
Foto: Reuters

No início do julgamento, o mítico gângster ouviu algemado e com um olhar sério ao relato de seu antigo parceiro, Joe Martorano, que detalhava seu sangue frio na hora de ordenar execuções.

Em uma delas, ambos estavam juntos em um carro, acompanhando outro sócio, Thomas King, com o objetivo de entregar uma "encomenda"; mas antes de chegar ao destino, Martorano mirou na cabeça de King e disparou, diante do olhar tranquilo de Bulger. Pouco depois, e ao passar por uma ponte perto de onde supostamente se desfizeram do corpo, Martorano lembrou a ironia de Bulger ao dizer-lhe: "Tire o chapéu, aí está Tommy (Thomas King)".

A defesa de Bulger, por sua parte, apresentou Martorano como um assassino capaz de qualquer coisa por dinheiro e criticou o fato de ter colaborado com a Justiça para diminuir sua pena. Martorano, que enfrenta 20 acusações de assassinato, das quais 12 teriam sido sob as ordens de Bulger, revelou a profunda tristeza sentida ao tomar conhecimento, na década de 1990, que Bulger e outro sócio, Stephen Flemmi, tinham trabalhado como informantes da polícia durante anos.

"Quando fiquei sabendo que eram informantes, me partiu o coração. Eram meus parceiros, meus melhores amigos, eram os padrinhos dos meus filhos", afirmou Martorano, lembrando que colocou o nome de seu filho mais novo de James Stephen em homenagem a Bulger e Flemmi. Segundo a investigação, Bulger e Flemmi mantinham suas operações à margem da lei enquanto davam pistas aos policiais sobre a atuação da máfia italiana, seus grandes rivais.

Bulger após ser preso em foto divulgada pela polícia em 1º de agosto de 2011
Bulger após ser preso em foto divulgada pela polícia em 1º de agosto de 2011
Foto: Reuters

Não podia faltar, na trama, a figura do policial corrupto, o agente do FBI (polícia federal americana), John Connolly, criado no mesmo bairro que Bulger, que avisava aos gângsteres sobre as operações policiais. Ele atualmente também cumpre pena na Flórida.

Na reviravolta final, houve a conexão política. O irmão de "Whitey" Bulger, William, era um famoso político local que chegou a ser presidente do Senado de Massachusetts e esteve à frente da prestigiada Universidade Estadual até que os vínculos com seu irmão, com quem supostamente conversou enquanto estava foragido, o obrigaram a colocar um fim na sua carreira pública em 2003.

Parte da história de Bulger é contada em "Os Infiltrados", que estreou em 2007. Porém, o que não aparece no filme é o que aconteceu depois. Bulger fugiu em 1994 e ficou durante 16 anos escondido em um apartamento simples da tranquila cidade Santa Mónica, no condado de Los Angeles, às margens do Pacífico, junto com sua namorada Catherine Greig, enquanto tinha sido colocado pelo FBI na lista dos fugitivos mais procurados, junto a Osama bin Laden.

Perante a dificuldade de localizar o gângster, os agentes federais se focaram no paradeiro de Catherine, conhecida por sua paixão pela cirurgia estética. Ela finalmente foi encontrada em 2011, acompanhado por um Bulger, ligeiramente envelhecido, que vivia sob outro nome.

O julgamento deve se estender por pelo menos mais um mês. Pelo tribunal está passando uma longa de lista de testemunhas, entre eles antigos criminosos, ex-policiais e parentes de vítimas.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade