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Estados Unidos

Rússia quer cooperar com a Otan em troca de garantias

17 nov 2010 - 22h37
(atualizado em 18/11/2010 às 02h06)
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O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, comparecerá à cúpula da Otan em Lisboa com a intenção de abrir uma nova era de cooperação com a Aliança no Afeganistão e em matéria de defesa antimísseis, embora apenas em troca de múltiplos garantias de segurança.

"Não queremos surpresas. Não queremos uma segunda Bucareste", afirmou, em relação à polêmica cúpula russo-aliada de abril de 2008 na qual se tratou a possível entrada de Geórgia e Ucrânia na organização, assegurou o embaixador russo em Bruxelas, Dmitri Rogozin.

A Rússia está disposta a "enterrar os fantasmas do passado", como pediu o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, e pôr fim de uma vez por todas ao longo período de transição que seguiu após a queda da URSS e ao fim da Guerra Fria.

No entanto, o Kremlin não deverá efetuar concessões que ponham em risco sua segurança, tanto no que se refere aos desdobramentos da criação de um escudo antimísseis próximo de suas fronteiras ou ao aumento da presença militar aliada em suas proximidades.

Medvedev responderá em Lisboa à proposta feita por Rasmussen em Moscou de cooperar com o novo sistema de defesa antimísseis aliado a uma contra oferta de "cooperação em um plano de igualdade". "Não estamos falando de um escudo antimísseis conjunto, já que seria muito complicado", afirmou o ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov.

Segundo ele, o ideal seria "a criação de um fundo comum antimísseis com a participação de Rússia, Estados Unidos e os países europeus", ou seja, que incluiria também o novo escudo americano e seus radares e mísseis em Romênia e Bulgária.

Esse escudo "não estaria dirigido contra nenhum terceiro país. Rússia e a Otan compartilham riscos", acrescentou Lavrov, que insistiu no conceito de "segurança indivisível" para a Rússia e o Ocidente.

A Rússia quer se certificar que o novo sistema antimísseis está dirigido contra os mísseis de curto e médio alcance de países como o Irã, e que não está capacitado para atingir seu território.

Por sua vez, as autoridades russas também estão dispostas a dar apoio à Aliança no Afeganistão com a venda de helicópteros de assalto Mim-17, além de contribuir com a instrução de pilotos afegãos e a formação das forças de segurança locais.

O que o Kremlin descarta é o envio de tropas ou instrutores militares ao Afeganistão, onde Moscou já perdeu uma guerra (1979-89), derrota que contribuiu para a queda da URSS. "Esse assunto é tabu. A Rússia mantém sua firme posição de não se envolver nessa guerra", explicou Rogozin, que ressaltou o grande interesse de Moscou que a Aliança abandone a região, mas só depois que a paz for restabelecida.

O que ainda não está claro é se em Lisboa será alcançado um acordo para o trânsito terrestre de soldados e armamento aliado desde o Afeganistão através do território russo quando a Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) iniciar sua retirada.

Em troca da cooperação na luta contra os talibãs e na construção do escudo antimísseis, a Rússia pede múltiplas garantias militares e de segurança.

Moscou propôs à Otan a assinatura de um acordo vinculativo que limite a presença futura de tropas e armamento pesado no território dos novos países-membros da Aliança.

A Rússia quer que esse ponto conste no novo Mapa de Caminho de suas relações, que estiveram congeladas durante mais de um ano devido à guerra com a Geórgia pelo controle da Ossétia do Sul em agosto de 2008.

Quando os russos falam de novos países-membros, se referem aos Estados que ingressaram na Aliança após a queda da União Soviética em 1991, ou seja, os antigos membros do Pacto de Varsóvia (Polônia, Romênia, Bulgária, República Tcheca e Eslováquia) e as três repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia).

As autoridades russas consideram "sem sentido" a Otan afirmar que o país já não representa uma ameaça para a Aliança, ao tempo em que instala bases militares na Europa Oriental.

O que não está claro é se países como as repúblicas bálticas aceitarão a proposta russa, já que precisamente desde a guerra na Ossétia do Sul aumentaram seus apelos para que a Aliança aumente sua presença militar na região.

A nova doutrina militar, cunhada pelo Kremlin em fevereiro deste ano, segue mencionando a expansão da Otan em direção às fronteiras russas como um dos principais perigos militares para este país.

EFE   
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