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Estados Unidos

Policiais de Ferguson perseguem negros e criam ambiente tóxico, diz procurador-geral

4 mar 2015 - 20h41
(atualizado às 20h41)
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Um inquérito dos Estados Unidos concluiu que uma parcialidade racial sistemática causou a perseguição de negros e criou um “ambiente tóxico” em Ferguson, no Missouri, mas inocentou um policial branco que atirou fatalmente em um adolescente negro na cidade, disse o procurador-geral dos EUA, Eric Holder, nesta quarta-feira.

Procurador-geral dos EUA Eric Holder comenta situação de Ferguson. 04/03/2015.
Procurador-geral dos EUA Eric Holder comenta situação de Ferguson. 04/03/2015.
Foto: James Lawler Duggan / Reuters

O relatório informa que Ferguson, nos arredores de Saint Louis, prendeu e emitiu infrações de trânsito exageradamente contra negros como meio de aumentar a arrecadação municipal através de multas, usando a polícia como uma agência de coleta e criando uma cultura de desconfiança que acabou explodindo em agosto, quando o policial de Ferguson Darren Wilson matou a tiros o jovem Michael Brown, de 18 anos.

“Essa investigação descobriu uma comunidade que estava profundamente polarizada; uma comunidade em que a profunda desconfiança e a hostilidade com frequência caracterizam as interações entre a polícia e os moradores locais”, disse Holder a jornalistas.

A morte de Brown suscitou um debate nacional sobre questões raciais e provocou meses de protestos de rua, dando amplitude às reclamações provenientes de Ferguson e de todo o país sobre os abusos e maus tratos contra minorias. O incidente também levou a abertura de inquéritos pelo Departamento de Justiça dos EUA.

“Claro, a violência nunca é justificada”, disse Holder. “Mas visto nesse contexto, em meio a um ambiente altamente tóxico, definido pela desconfiança e o ressentimento, atiçado por anos de sentimentos ruins, e incentivado por práticas ilegais e equivocadas, não é difícil imaginar como um único incidente trágico pode ter detonado a cidade de Ferguson como se fosse um barril de pólvora.”

Holder, que deixará o cargo de procurador-geral em breve, pediu por uma mudança ampla e imediata no modo como Ferguson funciona. 

Em uma cidade na qual os negros compõem cerca de dois terços da população, 85 por cento de todas as denúncias feitas pela polícia de Ferguson foram contra negros, assim como mais de 90 por cento das prisões, disse Holder, citando dados municipais revisados para a produção do relatório.

Alguns policiais competiam para ver quem conseguia emitir mais notificações contra afroamericanos, disse ele. Frequentemente as acusações eram não procedentes ou fictícias. Representantes da polícia e do município costumavam concluir seus e-mails com piadas racistas, acrescentou Holder.

A cidade também perseguiu a meta de dobrar sua arrecadação com multas coletadas pelo judiciário, com objetivo de atingir o valor de 3 milhões de dólares para o ano fiscal de 2015, comparados aos 1,3 milhão de dólares arrecadados em 2010, disse ele.

“Policiais de Ferguson emitiram cerca de 50 por cento a mais de notificações no ano passado do que fizeram em 2010 – um alta que não foi impulsionada, ou mesmo acompanhada, por um aumento nos crimes”, disse Holder.

(Por Jon Herskovitz; com reportagem adicional de Lindsay Dunsmuir em Washington)

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