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Estados Unidos

Papa cobra reforma na ONU e um "mundo sem armas nucleares"

25 set 2015 - 12h15
(atualizado às 13h29)
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Foto: Getty Images

Em mais um discurso histórico, desta vez na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), nesta sexta-feira, o papa Francisco pediu uma reforma da entidade para "se adaptar aos novos tempos" e a "total proibição" do armamento nuclear, citando que a "ameaça de destruição mútua" constitui uma "fraude a toda a construção das Nações Unidas".

Aplaudido de pé ao fim do discurso, o pontífice tocou em temas importantes da atual situação mundial e cobrou uma nova postura da ONU, principalmente em defesa da natureza e dos mais pobres. "A experiência desses 70 anos demonstram que reforma e a adaptação aos novos tempos são sempre necessários, progredindo até o objetivo final de conceder a todos os países, sem exceção, uma participação e uma incidência igual nas decisões".

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Para o papa, essa mudança deve ocorrer em todos os níveis. "Vale para os órgãos de capacidade executiva, como o Conselho de Segurança, organismos financeiros e grupos ou mecanismos criados, especificamente, para enfrentar as crises econômicas", disse. Dando destaque especial aos órgãos financeiros, Jorge Mario Bergoglio disse que a medida ajudará a "por fim" em qualquer tipo de abuso "especialmente contra os países em desenvolvimento".

Francisco voltou a pedir ajuda aos mais pobres e cobrou um papel mais decisivo na ONU. "Os organismos devem vigiar a ordem do desenvolvimento sustentável dos países para evitar uma asfixiante submissão de tais nações aos sistemas de crédito que, bem longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maiores pobrezas, exclusão e dependência", disse.

Ao mesmo tempo que pedia por mudanças, o sucessor de Bento XVI elogiou a história da entidade, que mesmo nem sempre atingindo seus objetivos, consegue ajudar na "construção" da fraternidade humana. "Todas estas realizações são luzes que contrastam com a obscuridade da desordem, causada por ambições descontroladas e egoísmo coletivo. Apesar de ter muitos problemas para resolver, todavia, é seguro dizer que se faltasse a ONU, a humanidade poderia não ter sobrevivido", elogiou.

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Acordo nuclear e fim do terrorismo

O pontíficie ressaltou a importância do fim das guerras e alertou que a existência de uma ética e um direito baseados nessa ameaça fariam na prática que a ONU passasse a ser as "nações unidas pelo medo e pela desconfiança". O primeiro papa latino-americano da história disse ainda que a tendência à proliferação de armas de destruição em massa como as nucleares "nega" as afirmações contidas no preâmbulo e no primeiro artigo da Carta das Nações Unidas.

"É preciso se empenhar em um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente os tratados internacionais para se chegar a uma proibição total desses instrumentos. O recente acordo sobre a questão nuclear em uma região sensível no Oriente Médio é uma prova de que paciência, constância resolvem", disse o líder católico ressaltando que torce para o acordo ser "duradouro e eficaz e que com a colaboração de todos, produza os frutos esperados".

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De acordo com o papa, o poder tecnológico, em mãos de ideologias "nacionalistas ou falsamente universalistas", pode produzir "tremendas atrocidades". O pontífice se referiu diversas vezes ao recente acordo sobre o programa nuclear do Irã, "uma região sensível da Ásia e do Oriente Médio", do qual disse que é "uma prova da boa vontade política e do direito, exercitados com sinceridade, paciência e constância".

Bergoglio ainda lembrou sobre a "dolorosa situação" que cristãos e minorias religiosas enfrentam na Síria e no Iraque, onde quem não se deixa "envolver pelo ódio e pela loucura" precisou "fugir ou pagar um alto preço" para ficar. "A guerra é uma negação de todos os direitos e é uma agressão dramática ao meio ambiente. É preciso continuar incansavelmente o esforço de evitar a guerra entre as nações e entre os povos. Para isso, é preciso assegurar o empenho incontestado dos direitos humanos como é proposto pela Carta das Nações Unidas", destacou.

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Justiça social, meio ambiente e importância da família

Como faz comumente em suas homilias e preces, o Papa interligou o respeito à natureza aos problemas sociais enfrentados pelos mais pobres. Para Francisco, é preciso "afirmar, antes de tudo, a existência de um verdadeiro direito do ambiente. "Primeiro, porque como seres humanos fazemos parte do ambiente, vivemos em comunhão com ele e temos um dever ético de respeitá-lo. Um dano ao meio ambiente é um dano à humanidade. Em segundo lugar, porque cada uma das criaturas possui um valor existencial, de vida e de interdependência", discursou.

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Citando as diversas religiões, o líder da Igreja Católica destacou que as religiões monoteístas acreditam em um "Deus Criador" e que devem utilizar a natureza sem "abusar dela ou destruí-la". Em outras crenças politeístas, todos consideram que "o ambiente é um bem fundamental". Para Bergoglio, a exclusão econômica e social - que provoca danos à natureza - "é uma negação da fraternidade humana e um crime gravíssimo à humanidade e ao ambiente". 

"Pois, os mais pobres são os que sofrem mais por três motivos: são descartados pela sociedade, vivem de desperdícios e sofrem injustamente com as consequências do mau uso do ambiente. Essa é a cultura do descarte, tão difundida atualmente", ressaltou.

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O líder católico ainda elogiou a aplicação da "Agenda 2030" da ONU e disse que ela é um dos bons instrumentos para a sociedade no futuro e para as próximas gerações. Ele ainda destacou que espera que a Conferência do Clima, que será realizada em Paris no mês de outubro, tenha resultados "concretos e efetivos". "O mundo pede a todos os governantes uma vontade efetiva, prática e constante com medidas imediatas para preservar e melhorar o ambiente natural. Também quer superar o mais rapidamente a situação de exclusão social, como o tráfico de seres humanos, exploração sexual, trabalho escravo, tráfico de armas e drogas e terrorismo", ressaltou.

O discurso do Papa também envolveu a importância da família na vida das pessoas e cobrou que os governos devem fazer "tudo o possível" para dispor à população uma mínima base material e espiritual para garantirem a sua dignidade. "Esse mínimo absoluto, em nível material, tem três nomes: casa, trabalho e terra. Em nível espiritual: liberdade de espírito".

* Com agências internacionais

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Fonte: Terra
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