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Estados Unidos

Origem de vídeo pivô de protestos é motivo de dúvidas e confusão

13 set 2012 - 08h54
(atualizado às 11h51)
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Alastair Leithead
Da BBC Brasil

Novas informações sobre o vídeo anti-islâmico que foi o pivô dos protestos antiamericanos no Egito e na Líbia na terça-feira aumentam as dúvidas e a confusão sobre suas origens. O vídeo de menos de 15 minutos postado no YouTube sob o título Innocence of Muslims (Inocência dos Muçulmanos, em tradução livre) foi criticado por representar o profeta Maomé de maneira desrespeitosa.

Frame retirado do YouTube exibe imagem do filme que satiriza o Islã
Frame retirado do YouTube exibe imagem do filme que satiriza o Islã
Foto: Reprodução

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Durante os protestos contra o vídeo, no Egito e na Líbia, foram atacadas as representações diplomáticas americanas no Cairo e em Benghazi. O embaixador americano na Líbia e mais três pessoas, incluindo outros três funcionários americanos, morreram em consequência do incêndio provocado pelos manifestantes no consulado em Benghazi. Nesta quinta-feira, manifestantes invadiram também a embaixada americana em Sana, capital do Iêmen.

A origem exata do filme e do clipe que está disponível na internet, e a motivação por trás de sua produção permanecem um mistério, mas parece não haver ligações com um cineasta israelense, como inicialmente divulgado.

Produção barata
O filme foi rodado nos Estados Unidos e exibido em um pequeno cinema de Hollywood no final de junho. Mas foram os clipes postados no YouTube, e posteriormente traduzidos para o árabe, que parecem ter provocado os protestos.

O vídeo apareceu pela primeira vez na rede em 1º de julho, postado por alguém com o pseudônimo "sambacile". O filme, de produção barata, foi mal feito, com atuações pobres e pouca coerência de roteiro. Os comentários mais ofensivos sobre o islã e sobre o profeta Maomé foram claramente dublados posteriormente sobre a trilha sonora e não foram falados pelos atores.

Uma atriz que aparece no filme diz que não tinha ideia de que seria usada para propaganda anti-islâmica e afirmou que a condenava. Cindy Lee Garcia, de Bakersfield, na Califórnia, afirmou em entrevista ao website Gawker que teve um pequeno papel e que teriam dito a ela que o filme falaria sobre a vida no Egito há 2 mil anos e se chamaria Desert Warriors (Guerreiros do Deserto). Ela ameaçou processar o diretor pela forma como os atores foram usados.

Estreia
No dia 30 de junho, o filme então chamado The Innocence of Bin Laden (A Inocência de Bin Laden) foi exibido pela primeira vez no cinema Vine Theatre, no Hollywood Boulevard. Um dos presentes à sessão, que pediu para não ser identificado, disse que o filme durava cerca de uma hora, tinha uma produção muito pobre e atraiu apenas um punhado de espectadores. Ele disse que o homem que organizava a sessão era um egípcio radicado nos Estados Unidos e que havia contratado dois seguranças egípcios para a ocasião.

Um homem que se disse o roteirista e diretor do filme, que se identificou como Sam Bacile, deu uma série de entrevistas a vários órgãos de mídia na terça-feira, fazendo comentários anti-islâmicos inflamados para defender o filme. Ele dizia ter 52 ou 56 anos, dependendo da entrevista, e afirmou ser um corretor de imóveis judeu nascido em Israel e que teria arrecadado milhões de dólares com doadores judeus para financiar o filme.

Mas até a semana anterior, a única referência a Sam Bacile na internet era o vídeo do YouTube, e não havia nenhum registro de um corretor com aquele nome. Com isso, começaram os questionamentos sobre se Sam Bacile é uma pessoa real.

Um extremista de direita americano chamado Steve Klein, com ligações com vários grupos anti-islâmicos na Califórnia, ajudou a promover o vídeo, mas disse não saber a identidade do diretor. Ele se contradisse em entrevistas ao expressar suas posições radicais e finalmente admitiu acreditar que Sam Bacile era apenas um pseudônimo.

O pastor Terry Jones, da Flórida, que ficou conhecido por sua polêmicas ações anti-islâmicas que incluíram queimar exemplares do Corão, o livro sagrado dos Muçulmanos, disse que esteve em contato com Bacile para promover o filme, mas não o encontrou pessoalmente nem poderia identificá-lo.

Coptas
Outro nome que aparece ligado ao filme é o de Morris Sadek, um egípcio-americano da anti-islâmica Assembleia Nacional Copta Americana. Seu envolvimento na promoção do vídeo levantou questões sobre o envolvimento de grupos cristãos coptas.

Os coptas representam uma parcela importante da minoria cristã no Egito, e muitos deles veem manifestando preocupação com a liberdade religiosa no Egito sob o governo da Irmandade Muçulmana.

A agência de notícias AP, que havia entrevistado o homem que se dizia Sam Bacile pelo telefone, posteriormente seguiu pistas até chegar a um californiano chamado Nakoula Basseley Nakoula, 55 anos, que disse à agência ser um cristão copta e admitiu envolvimento na logística e na administração da produção do filme. Ele negou ser o diretor ou ter dado entrevistas como Sam Bacile, mas a AP disse que seus repórteres haviam identificado o telefone da entrevista em um endereço próximo de onde estava Nakoula.

Foi a tradução do filme para o árabe e a sua citação em TVs árabes que levaram à onda de violência - apesar de os Estados Unidos estarem investigando se os episódios mais intensos de violência não teriam sido premeditados.

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