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Opinião: Roleta-russa na Casa Branca

Tido como esperança pacifista, Obama visita Hiroshima ao fim de um mandato marcado por gastos para criação de novas ameaças atômicas

24 mai 2016 - 10h38
(atualizado às 16h56)
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O ano de 2009 parece ter sido há uma eternidade, politicamente falando. Um presidente jovem prometia esperança e mudança, um novo pensamento, que colocava um fim aos velhos modelos da Guerra Fria. Barack Obama propunha medidas enérgicas para um mundo sem armas nucleares. Ele anunciou uma severa redução das armas atômicas. Não é de se admirar que pessoas de todos os continentes tenham se sentido atraídas pelo novo homem em Washington. Os europeus logo homenagearam Obama com o Prêmio Nobel da Paz, embora ele tivesse acabado de tomar posse.

Fato é que, enquanto seu antecessor, George W. Bush, reduziu o número de arsenais nucleares estratégicos de 6 mil para 2 mil, Obama desativou apenas 500 ogivas. De lá para cá, seu governo anunciou que vai "reviver" o programa de armas nucleares e que nos próximos 30 anos os Estados Unidos gastarão a soma astronômica de mais de 1 bilhão de dólares na construção de novos sistemas de lançamento, mísseis de longo alcance, uma dezena de submarinos com capacidade nuclear e para o desenvolvimento das chamadas "mininukes" – armas nucleares com capacidade explosiva abaixo de cinco quilotons.

As consequências têm longo alcance. Especialmente o desenvolvimento de armas nucleares pequenas deverá mudar a arquitetura de segurança global. Seu poder destrutivo pode ser menor do que o da bomba de Hiroshima, mas elas atingem o inimigo com precisão no campo de batalha, segundo os militares.

O escrúpulo na hora de usar essas "minibombas nucleares" será menor. E o mundo se tornará menos seguro – concordam os pesquisadores do think tank Union of Concerned Scientists, sediado em Washington. Obama, no entanto, vê a coisa de forma diferente. Ele quer deixar a seus sucessores apenas "opções adicionais" em caso de conflito.

Mas, assim, vai se abrindo, aos poucos, a caixa de Pandora. Porque russos, chineses e outras potências nucleares também estão tentando produzir armas similares. Então, é só uma questão de tempo para que seja impossível controlar estas muitas "minibombas nucleares". Terroristas vão usá-las para seus propósitos, ou pelo menos tentarão. Com a produção de "minibombas nucleares", políticos, como o presidente dos EUA, jogam roleta-russa.

O fracasso da política nuclear de Obama tem muitas razões. O reinício nas relações com a Rússia não aconteceu, a renúncia permanente do Irã às suas próprias armas nucleares é uma incógnita. Israel e muitos países árabes são céticos quanto a isso.

Obama, antes uma nova esperança na Casa Branca, tentou em 2009 um recomeço na política de segurança, lançando mão de velhos nomes do establishment político americano, como Robert Gates, Hillary Clinton e o vice-presidente Joe Biden. Isso foi, no mínimo, ingênuo. E foi, na pior das hipóteses, um excesso de confiança própria. Pois esses políticos estão entre os guerreiros mais frios de Washington.

O presidente Obama vai dizer palavras bonitas sobre os perigos da guerra nuclear durante a sua visita a Hiroshima. Mas o público não vai se deixar enganar, porque atos dizem mais do que palavras.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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