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Estados Unidos

Resgate da classe média protagoniza discurso de Obama no Congresso

Em discurso centrado na economia e defesa da classe média, Obama falou do fim da guerra no Afeganistão e do combate ao terrorismo, reforma migratória, mudança climática e reforma sobre as armas; líder não citou a América Latina

13 fev 2013 - 00h40
(atualizado às 09h25)
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<p>Barack Obama fez seu discurso à frente do vice-presidente Joe Biden e do deputado John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes</p>
Barack Obama fez seu discurso à frente do vice-presidente Joe Biden e do deputado John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes
Foto: AP

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lembrou nesta terça-feira aos americanos, em seu discurso sobre o Estado da União perante o Congresso, mais ação para impulsionar o crescimento econômico, resgatar a classe média e tornar realidade uma agenda progressista. Obama disse que, "juntos", superaram a crise e que hoje o país "é mais forte" para enfrentar os desafios pendentes.

"Após anos de recessão sufocante", as empresas dos EUA criaram mais de seis milhões de novos empregos e, "após uma década de guerra", os homens e mulheres militares "estão retornando para casa", ressaltou Obama ao iniciar um discurso centrado na economia e na defesa da classe média.

O mandatário democrata anunciou que 34 mil militares retornarão do Afeganistão no prazo de um ano, até o próximo mês de fevereiro, e reiterou que a guerra no país asiático terminará, como está previsto, no final de 2014.

O líder americano disse ainda que promulgará "imediatamente" uma reforma migratória integral se o Congresso a aprovar nos próximos meses. Obama prometeu mais transparência nos esforços antiterroristas do seu governo, mas também sustentou que "quando for necessário" seguirá tomando "ações diretas" contra aqueles que forem uma ameaça para seus compatriotas, e ressaltou a união de forças dos americanos para uma reforma sobre as armas.

A "tarefa pendente" após a retirada dos "escombros da crise" é alcançar um governo não maior, mas "mais inteligente", que "trabalhe em nome da maioria, não de alguns poucos", manifestou o presidente.

"Uma economia em crescimento que crie bons empregos para a classe média: essa deve ser a estrela polar a guiar nossos esforços", ressaltou ao alertar que os lucros empresariais "dispararam ao seu máximo, enquanto há mais de uma década os salários e a renda quase não se movimentaram".

Obama expressou o desejo de que "a próxima revolução industrial seja feita nos EUA", ao anunciar a criação de três novos centros de inovação para que o país seja "um ímã para novos empregos".

Além disso, pediu ao Congresso que aprove uma alta do salário mínimo progressivamente até US$ 9 por hora em 2015, frente aos US$ 7,25 atuais, e marcou o objetivo de erradicar a pobreza extrema no mundo nas próximas duas décadas, com o compromisso de começar a trabalhar para cumpri-lo.

Veja os principais temas citados por Obama em discurso ao Congresso:

Para o crescimento da classe média, os americanos "devem ter acesso à educação e à capacitação que exigem os empregos hoje em dia", argumentou Obama ao propor mais investimentos para ampliar o acesso a programas pré-escolares de "alta qualidade".

O presidente também pressionou os congressistas "a deixar os interesses partidários de lado" e trabalhar "por um orçamento que substitua os cortes insensatos com economias inteligentes e sábios investimentos no futuro".

A redução do déficit público em que democratas e republicanos estão há meses emperrados "não é por si só um plano econômico", advertiu Obama ao reiterar a necessidade de uma reforma do sistema tributário e de alguns programas sociais.

A Constituição "não nos transforma em rivais pelo poder, mas em parceiros pelo progresso", disse Obama, citando John F. Kennedy, no início do seu discurso para dar ênfase à necessidade de atuar em muitos temas, o que ele está disposto a fazer.

Fim da guerra no Afeganistão

O presidente dos Estados Unidos anunciou o retorno de milhares de soldados do Afeganistão no prazo de um ano e reiterou que a guerra no país asiático terminará no final de 2014.

"Na primavera (do hemisfério norte), nossas forças se deslocarão para um papel de apoio, enquanto as forças de segurança do Afeganistão assumirão a liderança", disse Obama. O líder também prometeu que "os EUA encerrarão a sua missão no Afeganistão" e que será alcançado o objetivo "de derrotar o núcleo da Al-Qaeda": "hoje, a organização que nos atacou em 11 de setembro de 2001 é uma sombra do que era", sustentou em referência à Al-Qaeda.

O número de soldados dos EUA no Afeganistão alcançou o seu máximo com um total de 100 mil e atualmente está em 66 mil, que fazem parte da missão da Otan nesse país, prevista para ser encerrada no final de 2014.

"Além de 2014, perdurará o compromisso dos EUA em alcançar um Afeganistão unificado e soberano, mas a natureza do nosso compromisso mudará", comentou Obama.

O presidente americano detalhou que está sendo negociado um acordo com o governo afegão para após 2014, focado "em duas missões: capacitar e equipar as forças afegãs para que o país não caia novamente em um caos e também que permitam perseguir os demais membros da Al-Qaeda e seus filiados".

Armas, política externa e terrorismo

O mandatário disse ainda que desta vez o debate sobre o controle das armas "é diferente", porque uma "arrasadora maioria" dos americanos "uniu forças" em torno de reformas "de bom senso". As propostas do governo, de senadores e das autoridades policiais para reduzir a violência causada pelas armas "merecem um voto", ressaltou Obama ao pedir urgência ao Congresso na aprovação de novas leis a respeito.

"As famílias de Newtown merecem um voto. As famílias de Aurora merecem um voto. As famílias de Oak Creek, Tucson, Blacksburg e de uma infinidade de outras comunidades marcadas pela violência armada, todas merecem um simples voto", ressaltou Obama citando várias das tragédias recentes causadas pelas armas no país.

O presidente dos Estados Unidos prometeu mais transparência nos esforços antiterroristas do seu governo, mas também sustentou que "quando for necessário" seguirá tomando "ações diretas" contra aqueles que forem uma ameaça para seus compatriotas.

"Minha administração se esforçou incansavelmente para criar um marco jurídico e político durável que guie as nossas operações antiterroristas", explicou Obama. Além disso, o presidente detalhou que seu governo manteve o Congresso "plenamente informado" sobre os seus esforços nessa questão.

"Seguirei trabalhando com o Congresso para garantir não só que nossa seleção de objetivos, detenção e processo de terroristas se mantenha consistente com nossas leis e sistemas de controle, mas também que nossos esforços sejam ainda mais transparentes perante o povo americano e o mundo", prometeu.

A "ameaça" representada pelos grupos extremistas e filiados à Al-Qaeda da Península Arábica até a África "está evoluindo", advertiu Obama. Para fazer frente a eles "é preciso ajudar países como Iêmen, Líbia e Somália para que possam ocupar-se de sua própria segurança e ajudar os aliados que brigam contra os terroristas, como fizemos no Mali", avaliou.

"E, quando for necessário e usando uma ampla categoria de capacidades, continuaremos tomando ações diretas contra aqueles terroristas que representam a ameaça mais séria contra os americanos", apontou Obama.

Sobre a política externa, o presidente dos Estados Unidos prometeu que haverá "medidas firmes" em resposta às ameaças nucleares da Coreia do Norte, assim como o compromisso de fazer "o necessário" para impedir que o Irã obtenha uma arma atômica.

Obama também confirmou que os EUA negociarão com a Rússia "para obter mais reduções" dos seus respectivos arsenais nucleares e adiantou o lançamento das negociações com a UE para uma zona de livre comércio transatlântica, embora não tenha dado mais detalhes.

Obama promete "medidas executivas" para combater mudança climática

Barack Obama prometeu que tomará "medidas executivas" para enfrentar a mudança climática se o Congresso não agir. "Pelo bem dos nossos filhos e do nosso futuro, temos que fazer mais para combater a mudança climática", ressaltou o presidente em seu discurso perante o Congresso.

Obama destacou que 12 dos últimos 15 anos foram os mais quentes da história, segundo os especialistas, e lembrou a tempestade Sandy, que castigou a costa nordeste dos EUA em outubro passado e a seca "mais severa em décadas" sofrida pelo país há alguns meses.

"Podemos optar por acreditar que esses fenômenos foram simplesmente uma infeliz casualidade, ou então podemos optar por acreditar no julgamento contundente da ciência e tomar medidas antes que seja tarde demais", advertiu.

Assim, o presidente exortou o Congresso "a buscar uma solução para a mudança climática de caráter bipartidária". "Mas, se o Congresso não tomar medidas em breve para proteger as gerações futuras, eu o farei", acrescentou Obama, que indicou que nesse caso adotará "medidas executivas" para "reduzir a poluição", preparar as comunidades para as consequências da mudança climática "e agilizar a transição para fontes de energia mais sustentáveis".

Obama diz que vai assinar reforma migratória assim que Congresso a aprovar

O presidente americano também prometeu que promulgará "imediatamente" uma reforma migratória integral se o Congresso a aprovar nos próximos meses. "Enviem-me um projeto de lei para uma reforma migratória integral nos próximos meses e eu a assinarei imediatamente", disse Obama durante o seu discurso sobre o Estado da União.

O líder americano, cujo discurso se centrou na defesa da classe média, assinalou que o fortalecimento da economia passa por aproveitar "o talento e o engenho dos imigrantes que se esforçam com esperança".

Obama destacou que uma "verdadeira" reforma migratória integral equivale ao avanço da segurança fronteiriça, algo que seu governo fez mediante o maior deslocamento de agentes na fronteira na história dos EUA e uma redução dos cruzamentos ilegais para seus níveis mais baixos em 40 anos.

Essa reforma, continuou, também deve estabelecer "uma via responsável" que permita aos imigrantes ilegais "ganhar" a eventual cidadania americana.

Para obter a legalização e a eventual cidadania, advertiu Obama, os imigrantes ilegais deverão submeter-se a uma revisão de antecedentes penais, pagar impostos e uma multa "substancial", aprender inglês e "colocar-se no final da fila" dos que tentam emigrar aos EUA de forma legal.

Além disso, essa reforma deve corrigir o sistema de imigração legal de modo que se reduza a demora nos trâmites, "se diminua a burocracia" e o país atraia empreendedores com alta capacidade de trabalho e engenheiros que "ajudem a criar empregos e elevar nossa economia".

Obama assinalou que a reforma migratória integral conta com o respaldo de líderes do setor privado, dos sindicatos, de agências policiais e comunidades religiosas.

EFE   
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