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Estados Unidos

Homem que causou um dos piores massacres racistas nos EUA é preso

18 jun 2015 - 16h15
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O suspeito de cometer um dos piores massacres da história recente dos Estados Unidos, que fez nove mortos na quarta-feira em uma igreja de uma comunidade negra em Charleston, cidade da Carolina do Sul (sudeste dos Estados Unidos), foi preso poucas horas após o ataque.

Dylann Roof, um jovem branco de 21 anos de feições ainda adolescente, foi preso em Shelby, na Carolina do Norte, a cerca de quatro horas de distância do local do massacre, segundo anunciou o chefe da polícia de Charleston, Gregory Mullen.

O jovem, que se rendeu sem resistência durante uma blitz da polícia, havia passado uma hora com os fiéis de uma das igrejas mais emblemáticas do país, forte símbolo da história da comunidade negra no sul dos Estados Unidos, marcado pela escravidão, movimentos de luta pelos direitos civis e as atuais tensões raciais.

O horror deste crime e o simbolismo do local onde foi cometido marcaram profundamente o tom do discurso desta quinta-feira do presidente Barack Obama.

Contendo com dificuldades sua raiva e expressando sua frustração, o presidente americano denunciou "assassinatos sem sentido".

"Devemos admitir o fato de que este tipo de violência não se observa em outros países desenvolvidos", afirmou Obama, novamente pedindo uma maior regulação das armas de fogo nos Estados Unidos.

"O fato de que isso tenha ocorrido em uma igreja negra gera evidentemente questionamentos sobre uma página sombria de nossa história", acrescentou.

A natureza racista do crime foi imediatamente evocada.

Em seu perfil no Facebook, Dylann Roof aparece com um casaco preto com a estampa da bandeira da África do Sul durante o apartheid, símbolo do segregacionismo, bem como o da antiga Rodésia (atual Zimbábue).

Esses dois regimes são muito admirados nos Estados Unidos pelos grupos que promovem a ideia de supremacia branca.

O suposto assassino já tinha ao menos duas passagens pela polícia, inclusive por tráfico de drogas.

Chamando o massacre de "crime racista", o chefe de polícia de Charleston, Gregory Mullen, conseguiu mobilizar agentes federais, incluindo o FBI.

A Justiça Federal abriu uma investigação "em paralelo e em cooperação" com as autoridades locais. A designação de crime racista permite a obtenção de recursos federais adicionais.

A líder local do movimento de direitos dos negros NAACP, Dot Scott, relatou à CNN que uma vítima teria sido poupada pelo assassino para testemunhar sobre o massacre. "Sua vida foi poupada porque o assassino disse: 'eu não vou matar você (...) porque eu quero que você diga a eles o que aconteceu."

O suspeito matou três homens e seis mulheres. Entre eles, o pastor da paróquia, Clementa Pinckney, importante figura da comunidade negra local e senador democrata.

"É uma situação inaceitável para qualquer sociedade. (...) Esta tragédia que estamos enfrentando é indescritível. Ninguém na comunidade esquecerá esta noite", declarou o chefe de polícia, com a voz embargada pela emoção.

Um centro de acolhimento para as famílias das vítimas foi instalado no centro de Charleston.

O tiroteio ocorreu por volta das 21h00 local (22h00 de Brasília) na mais antiga igreja negra da cidade, Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel, verdadeiro símbolo da luta dos negros americanos contra o fim da escravidão e da luta por seus direitos civis.

"Este é um lugar sagrado na história de Charleston e na história americana", disse o presidente Obama, lembrando que foi nessa igreja que negros procuraram a sua "liberdade" e lançaram protestos por direitos civis.

Os elogios ao pastor Clementa Pinckney não paravam nesta quinta-feira.

"Ele era amado por todos. Eu nunca ouvi uma palavra dura contra ele. Ele era um pacificador, (...) uma voz marcante e tranquilizadora não só para a igreja, mas para o estado", declarou à CNN o seu primo, Kent Williams.

"Ele era um ser humano notável. Tinha a voz grave de um locutor de rádio. E enxergava a vida com a mesma profundidade", disse o deputado republicano Mark Sanford.

O crime representa um novo golpe para a comunidade afro-americana nos Estados Unidos, que nos últimos meses foi vítima de crimes aparentemente motivados por racismo, em particular homicídios cometidos por policiais brancos contra homens negros desarmados.

Desde o caso de Ferguson, em 2014, e o de Baltimore, há algumas semanas, que passam muitas vezes impunes, há uma crescente tensão racial no país, reforçando a ideia na comunidade negra que a vida de um negro vale menos do que a de um branco.

Este tiroteio entra para uma longa lista de tragédias nos Estados Unidos ocorridas, em parte, pelo fácil acesso a armas potentes e sofisticadas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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