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Estados Unidos

'Foi ele', admite defesa sobre acusado de atentado em Boston

Três vítimas fatais foram um menino de oito anos, uma estudante chinesa de 22 e uma mulher de 29. Quinze feridos tiveram que sofrer amputações

4 mar 2015 - 20h12
(atualizado às 20h59)
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Djokhar Tsarnaev, principal sospechoso de los atentados de abril del 2013 en Boston.
Djokhar Tsarnaev, principal sospechoso de los atentados de abril del 2013 en Boston.
Foto: AP

A defesa do único acusado pelos atentados contra a maratona de Boston, em 2013, admitiu que seu cliente cometeu os sangrentos ataques que deixaram três mortos e 264 feridos, na abertura do aguardado julgamento na cidade do nordeste dos Estados Unidos.

"Foi ele", reconheceu a advogada Judy Clark, ao lado de Djokhar Tsarnaev, um jovem muçulmano de origem chechena de 21 anos, que poderá ser condenado à pena capital caso seja considerado culpado do pior atentado cometido em solo americano desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

Tsarnaev compareceu de blazer na sala de audiências lotada do tribunal presidido pelo juiz federal George o'Toole, onde foram revividas as sangrentas cenas registradas pelas explosões de bombas artesanais perto da linha de chegada da maratona.

As três vítimas fatais foram um menino de oito anos, uma estudante chinesa de 22 e uma mulher de 29. Quinze feridos tiveram que sofrer amputações. Alguns deles deram testemunhos arrepiantes nesta quarta-feira, relatando o pesadelo, o sofrimento e o medo de morrer que sentiram.

Após a primeira explosão, "foi o caos" com "gritos e fumaça", relatou Karen McWatters, amputada de uma perna e amiga de Krystle Campbell, uma das três vítimas mortais, junto com um menino de oito anos e uma estudante chinesa de 22.

Julgamento de atentado em Boston tem data marcada:

"Houve outra explosão e mais caos, pior do que a primeira vez. Pude ver parte da minha perna e do meu pé pendurados (...). Sofria horrivelmente, tentamos aproximar nossos rostos. Nunca vi seus ferimentos. Ela me disse muito lentamente que as pernas doíam muito. Ficamos de mãos dadas até que a dela se soltou. Não disse mais nada e não voltei a vê-la viva", acrescentou.

O promotor federal William Weinreb afirmou que o alvo dos ataques "era matar tantas pessoas quanto fosse possível", lembrando que algumas "sangraram até morrer na calçada", após as explosões atribuídas a Djokhar e seu irmão, Tamerlan, que tinha 27 anos na época e foi morto pela polícia quatro dias depois dos fatos.

O jovem, de constituição magra e rosto de adolescente, tinha se declarado inocente das 30 acusações impostas contra ele, mas nas dramáticas alegações iniciais, sua advogada de defesa admitiu diante dos 12 jurados que o jovem estudante foi quem executou os ataques.

"Não evitamos, nem vamos evitar de forma alguma as responsabilidades de Dzhokhar por seus atos", disse.

A advogada acrescentou, ainda, que a defesa estaria de acordo com muitas evidências apresentadas pela promotoria e pediu ao júri que mantenha seus corações e mentes abertos para a segunda parte do processo, centrado na sentença.

Djokhar também foi acusado, juntamente com Tamerlan, de ter assassinado um policial durante a fuga, que terminou com a morte do irmão e sua prisão, escondido com ferimentos graves em um barco que estava no jardim de uma casa nos arredores de Boston, em 19 de abril.

Os irmãos Tsarnaev, acusados de ter planejado sozinhos os atentados, são um exemplo da ameaça representada pelos lobos solitários auto-radicalizados, tão temidos pelas autoridades americanas.

A defesa tenta apresentar Tamerlan como o líder, o principal conspirador, sem o qual nada teria ocorrido, embora nesta primeira parte do julgamento não possa se referir a ele.

Mas a promotoria assegurou nesta quarta-feira que Djokhar, que obteve a nacionalidade americana em 2012 e estudava na Universidade de Massaschusetts, em Dartmouth (perto de Boston), "tinha um lado que manteve oculto" e lia desde 2011 literatura terrorista.

Era considerado um jovem bem integrado. Desde a sua prisão, ele está praticamente isolado em uma prisão hospital a 70 km de Boston.

"O governo americano mata nossos civis inocentes (...). Nós, muçulmanos, somos um só corpo, quando prejudicam um de nós prejudicam todos. (...) Parem de matar nossos inocentes e pararemos", havia escrito para explicar seu ato dentro do barco onde foi encontrado pela polícia.

O júri, cuja seleção terminou na terça-feira, é composto por oito homens e dez mulheres, todos brancos.

Doze deles decidirão sobre a culpa de Tsarnaev, mas também, em um segundo momento, se o acusado será condenado à pena de morte ou à prisão perpétua, as únicas opções possíveis se for declarado culpado.

O estado de Massaschusetts aboliu a pena de morte em 1984. Mas, por se tratar de um ato terrorista com uso de uma arma de destruição em massa, o caso pertence à justiça federal.

A advogada de defesa Judy Clarke é uma das melhores especialistas em pena capital nos Estados Unidos. Conseguiu evitar que ela fosse aplicada contra vários acusados, entre eles o autor do atentado dos Jogos Olímpicos de Atlanta de 1996, Eric Rudolph, ou Ted Kaczynski, conhecido como "Unabomber", o matemático que enviou entre 1978 e 1995 quinze pacotes-bomba que deixaram 3 mortos e 23 feridos.

Todos se declararam culpados em troca de uma condenação à prisão perpétua.

Estima-se que o julgamento dure até junho.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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