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Estados Unidos

Filósofo: "guerra Santa Islâmica" sofre golpe com morte de Osama

4 mai 2011 - 09h26
(atualizado às 09h43)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

A morte do líder terrorista Osama bin Laden é um "golpe violento" no "mito da Guerra Santa Islâmica" pela qual centenas de muçulmanos acreditam combater, defende o filósofo e sociólogo francês Yves-Charles Zarka. No seu escritório na Universidade Paris Descartes, da prestigiada Sorbonne, o autor de obras como Difficile Tolerance (Difícil Tolerância) e Repenser la Démocratie (Repensar a Democracia) conversou com o Terra sobre os efeitos que o assassinato do chefe da Al-Qaeda terão no terrorismo no mundo.

Para o autor, a perspectiva de um conflito de civilizações acaba com a morte de Osama bin Laden
Para o autor, a perspectiva de um conflito de civilizações acaba com a morte de Osama bin Laden
Foto: Lúcia Müzell / Especial para Terra

Leia extratos da entrevista:

O que significa a morte de Osama bin Laden para o terrorismo, 10 anos após o 11 de Setembro?

A morte de Bin Laden é importantíssima. É um mito que morreu, e um mito é muito mais do que uma pessoa: é um símbolo vivo, é uma justificativa para certos atos, e é uma referência para muitos. A sua morte compromete muitas coisas, pois ele se colocava como o invencível, como aquele que é protegido por Alá.

O terrorismo precisa de um líder?

Não sei se precisa, necessariamente. Os líderes têm um papel considerável. Bin Laden destrói as Torres Gêmeas, em Nova York, e não se consegue capturá-lo. Durante anos a fio, ele reivindica atentados aqui e ali, fazendo reinar o terror ao redor do mundo todo. Ele debocha do fato de os americanos, a maior potência do mundo, não conseguirem encontrá-lo. Para centenas ou milhares de fiéis, vira um líder de uma suprema inteligência e audácia - e, para completar, ainda é o protegido de Deus, tornando-se invencível. Se essa figura morre... É terrível, é terrível. É o mito da Guerra Santa Islâmica que recebe um golpe muito violento.

A morte de Osama bin Laden muda algo no terrorismo na década atual?

Ainda é muito cedo para dizer, mas eu acho que sim. Trata-se da perda de uma referência. Não digo que esta morte vai acabar com o terrorismo de um dia para o outro. Mas a perspectiva que o sustentava, a de um conflito longo de civilizações, da guerra contra a América e o que ela representava para o Ocidente e para parte do Islã, acabou.

Você acha que a diminuição do terrorismo passa pela chegada da democracia nos países árabes?

Quando se trata de derrubar Estados bandidos como o da Líbia, de Muammar Kadafi, sim. O poder abusivo é o que há de mais terrível em uma sociedade. Se Kadafi conseguir se manter no cargo, vai ser péssimo porque vai dar um exemplo de vitória para os outros países da região, muitos deles ligados intimamente com o terrorismo, como o próprio Kadafi já foi no passado e demonstra ser ainda hoje, contra o próprio povo. Quando se derruba um governo deste tipo, se abate uma fonte de terrorismo. Mas ainda estamos no plano das esperanças, porque não se sabe exatamente no que essas revoltas populares no mundo árabe vão resultar.

Osama bin Laden é morto no Paquistão

No final da noite de 1º de maio (madrugada do dia 2 no Brasil), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou a morte do terrorista Osama bin Laden. "A justiça foi feita", afirmou Obama num discurso histórico representando o ápice da chamada "guerra ao terror", iniciada em 2001 pelo seu predecessor, George W. Bush. Osama foi encontrado e morto em uma mansão na cidade paquistanesa de Abbottabad, próxima à capital Islamabad, após meses de investigação secreta dos Estados Unidos .

A morte de Bin Laden - o filho de uma milionária família que acabou por se tornar o principal ícone do terrorismo contemporâneo -, foi recebida com enorme entusiasmo nos Estados Unidos e massivamente saudada pela comunidade internacional. Enquanto a secretária de Estado dos EUA afirmava que a batalha contra o terrorismo continua, o alerta disseminado em aeroportos horas depois da notícia simboliza a incerteza do impacto efetivo da morte de Bin Laden no presente e no futuro.

Fonte: Especial para Terra
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