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Estados Unidos

Fechamento e crise fiscal nos EUA mostram poder do Tea Party

Batalha sobre orçamento e reforma da saúde evidenciam o poder da ala extremista republicano e a gravidade da polarização política americana

16 out 2013 - 13h56
(atualizado às 13h57)
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A crise fiscal que forçou o fechamento de serviços federais e levou os Estados Unidos à beira da moratória mostra o poder do Tea Party, uma facção radical do Partido Republicano, opositor ao Partido Democrata do presidente Barack Obama. Previsto para ter vida curta quando surgiu, em 2010, seu bloco de representantes na Câmara conseguiu forçar os republicanos a embarcarem numa campanha suicida e usarem o orçamento como moeda de barganha para interromper a reforma do sistema de saúde.

O desenlace do atual impasse pode pressagiar o desempenho dos republicanos e do Tea Party nas próximas eleições. As primeiras pesquisas de opinião indicam que os republicanos estão recebendo parcela maior de culpa, mas também que os radicais do partido ficaram ainda mais resolutos.

Surgido na esteira de uma decisão histórica da Suprema Corte que ampliou as doações para movimentos políticos, o Tea Party é descentralizado, mas sua orientação é firmemente liberalista. Ele representa uma evolução inesperada da estratégia republicana de ressaltar questões sociais para atrair eleitores de direita, inaugurada nos anos 60 pelo presidente Richard Nixon. Defensores da autonomia local e mais preocupados com questões fiscais, os ativistas do Tea Party querem diminuir o poder federal e limitar seus gastos.

Assim, a paralisação iniciada no novo ano fiscal é mais uma batalha entre ideologias políticas díspares no Capitólio, simbolizada pelo esforço republicano para bloquear a Lei de Proteção ao Paciente e Serviços de Saúde Acessíveis. Chamada jocosamente de “Obamacare”, em referência ao plano Medicare, de atendimento gratuito a idosos, a lei é a principal vitória no esforço regulamentador da era Barack Obama. Os republicanos a consideram uma intervenção inaceitável na iniciativa privada e temem perder votos para o Tea Party se ela seguir adiante.

O país já deve cerca de US$ 16 trilhões (mais de 100% do PIB, enquanto no Brasil a proporção é 65%) e não pode tomar mais empréstimos sem autorização do Congresso. A moratória causaria um choque ainda maior na economia mundial do que o mesmo impasse vivido em 2011, quando os efeitos já foram amplos: a agência de classificação de risco Standard & Poor's anunciou o primeiro rebaixamento da nota de crédito na história dos EUA, causando nova convulsão nos países endividados da zona do euro.

Foto de menino em zoo se torna viral
Reprodução

Um zoológico fechado por causa do shutdown – o impasse político que paralisa o governo há quase duas semanas. Uma foto de um menino vestindo uma fantasia de urso olhando através da grade. Nela está afixado um aviso de que as visitas àquele parque estão temporariamente suspensas.

História de cisões

A história americana é repleta de batalhas orçamentárias paralisando serviços federais. Existe até um termo - “Síndrome do Monumento a Washington” - para definir a tática de fechar locais visíveis como pressão contra cortes. A última vez  em que ocorreu, na era Bill Clinton (1993-2001), a paralisação durou mais de 20 dias. Desta vez, a crise contou até com veteranos de guerra tentando tomar de assalto monumentos fechados.

“A grande diferença (entre as duas paralisações) é o nível de conflito político e como a facção Tea Party está adiando a resolução entre a Câmara de Representantes, controlada pelos republicanos, e os democratas que dominam o Senado e a Casa Branca”, disse Robert Y. Shapiro, professor de ciência política da Universidade Columbia e estudioso da polarização política americana.

O mais prejudicado na crise de 1995-1996 foi o então presidente da Câmara, republicano Newt Gingrich, a quem coube a fama de intransigente. Mas seu partido ampliou o domínio do Congresso nas eleições seguintes e Clinton conseguiu se reeleger, mostrando que o efeito eleitoral não foi tão pronunciado.

Hoje, os democratas já lançaram a ofensiva para tentar enquadrar os republicanos num viés negativo, com uma propaganda exibida nos intervalos da transmissão do futebol americano em 6 de outubro.

Republicanos acuados

Robert Costa, editor da revista direitista National Review, disse em entrevista ao jornal Washington Post que o presidente da Câmara de Representantes, republicano John Boehner, está acuado pela ala radical do Tea Party, que tem cerca de 100 representantes na Câmara. Costa vem acompanhando no Twitter (@robertcostaNRO) o desenrolar das negociações e relatava na última terça-feira, 15 de outubro, os contornos de um acordo adiando alguns impostos na reforma da saúde em troca de um teto de endividamento maior e outros cortes de gastos.

O senador John McCain, derrotado por Obama nas eleições presidenciais de 2008, tem alertado para as consequências negativas da intransigência e disse sarcasticamente na última segunda que “estamos realizando nosso sonho”, antes de mostrar a repórteres pesquisas de opinião indicando que os americanos começam a rejeitar mais os republicanos.

O impasse inspira outros republicanos moderados a questionar as táticas radicais, como aconteceu numa reunião mês passado entre o representante Greg Walden, presidente do Comitê Nacional Republicano no Congresso, e doadores em Nova York, revelou o site Daily Beast.

Walden teve de explicar aos jovens advogados e executivos financeiros reunidos no Le Cirque - onde um risoto de trufas brancas custa US$ 120 - que o partido é pressionado pelo poder local do Tea Party a agir com intransigência. “O Tea Party realmente se envolve na política local”, disse Walden, argumentando que os moderados do partido temem perder espaço nas eleições primárias para candidatos da nova facção.

Confira a linha do tempo do impasse entre governo e oposição nos EUA

Fonte: Especial para Terra
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