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Estados Unidos

Fechamento do governo gera medo, decepção e irritação entre americanos

1 out 2013 - 16h57
(atualizado às 18h41)
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Sinal vermelho próximo ao Capitólio, em Washington: primeira paralisação do governo americano em 17 anos
Sinal vermelho próximo ao Capitólio, em Washington: primeira paralisação do governo americano em 17 anos
Foto: AFP

O fechamento parcial do governo americano que se iniciou nesta terça-feira gerou caos e confusão em agências federais de pagamentos de salários. Muitos começam a ter de lidar com pagamentos atrasados, ou contas que simplesmente não virão.

“Estou confuso e esperando como todos os outros”, disse o guarda florestal e futuro pai Darquez Smith, 23. “Tenho muito sob minha responsabilidade agora: taxas escolares, minha filha, contas”, conta ele, que diz ter de viver com dinheiro contado. Ele é um guarda em um parque nacional, em Ohio, que está entre os tantos estabelecimentos fechados a partir de hoje.

Robert Turner, 45 anos e construtor mecânico em um museu de história americana em Washington, contou que ele e outros funcionários vieram trabalhar hoje para desligar a água e retirar o lixo. Ele planeja viajar a Ocean City e só retornar quando o governo, paralisado pela rejeição republicana à reforma da Saúde democrata, reabrir. “Se até semana que vem nós não estivermos trabalhando novamente, terei que achar um novo emprego”, contou.

Na segunda-feira, esgotou-se o prazo para a negociação do orçamento americano do novo ano fiscal. Por pressão republicana, o Congresso não chegou a acordo, forçando o governo à primeira paralisação em 17 anos. É uma paralisação parcial, na qual milhares de funcionários federais de serviços param de trabalhar. Entre os serviços afetados está a ajuda financeira com pagamentos de moradia e assistência a alimentação infantil e de mulheres grávidas.

Decepção e irritação

O impacto ao shutdown – modo como os americanos chamam o fechamento do governo -  tem sido misto. Para alguns, é imediato e amplo. Para outros, mínimo e com toques de mera irritação.

No Estado do Colorado, onde as enchentes mataram oito pessoas em setembro, a ajuda de emergência para reconstruir casas e comércios continua sendo enviada – mas licenciamentos para trabalhadores federais devem diminuir.

Soldados da Guarda Nacional destacados para a reconstrução de estradas danificadas pela força das águas aparentemente ganharão seus salários em dia graças a uma lei assinada horas antes do shutdown. Isso também valerá para todos os outros funcionários da segurança nacional, bem como benefícios de planos de saúde, seguro social, serviços de veteranos e correio.

Mas outras agências sofreram um impacto mais duro. Quase três mil inspetores de segurança da Administração de Aviação Federal perderam o licenciamento. O mesmo ocorreu com empregados do setor de segurança do Transporte Nacional. Incluem-se aí inspetores de acidentes responsáveis pela investigação em acidentes aéreos, colisões de trem e explosões em tubulações.

Praticamente toda a Nasa, a agência especial americana, fechou, exceto o Controle de Missão, em Houston. Diversos parques e museus federais igualmente estão fechados. O Zoológico Nacional, em Washington, também.

EUA: pontos turísticos fecham com paralisação do governo:

Salário reduzido

A princípio, funcionários federais não deixarão de receber seus salários. Mesmo que o shutdown continue, os empregados devem ser pagos de acordo com o calendário pelas horas trabalhadas de 22 a 30 de setembro – este o dia do impasse provocado pelos republicanos.

Ainda assim, Marc Cevasco, que trabalha no Departamento de Veteranos, lamentou o efeito que a paralisação pode ter sobre a população. “Mesmo que seja apenas uma semana, isso significa a perda de um quarto do seu salário. Isso significa muito para muitas pessoas”, disse ele, enquanto esperava por um ônibus.

Cevasco, 30 anos, disse que o escritório onde trabalha informou os funcionários que havia dinheiro disponível para os pagamentos desta terça. Mas, se a paralisação perdurar, a situação irá mudar já amanhã.

Um dos mais famosos pontos turísticos dos Estados Unidos, a Estátua da Liberdade é um dos pontos fechados em Nova York
Um dos mais famosos pontos turísticos dos Estados Unidos, a Estátua da Liberdade é um dos pontos fechados em Nova York
Foto: AFP

Nova York sem Estátua da Liberdade

O fechamento do governo também gerou frustração entre usuários de serviços federais. “Deve haver um modo melhor de governar do que gerar um impasse como esse”, comentou Cheryl Strahl, 67 anos, da Califórnia. Ela tentou visitar a Estátua da Liberdade, mas acabou tendo como opção um passeio de 60 minutos pelo porto de Nova York. “Por que descontar nos parques nacionais?”, questionou.

“É frustrante”, concordou Editha Heberlein, 56 anos, do Estado da Virgínia. “Tomara que o Congresso consiga se unir pelo bem de todos.”

Em Washington, os visitantes do National Mall só encontraram portas fechadas, barricadas de metal escuro e fitas de alerta nas entradas das atrações turísticas poucas horas após o fechamento. Fontes no Memorial da Segunda Gurra Mundial estavam desligadas.

“Por que diabos isto precisava ser fechado?”, perguntou Deb Cavender, 44 anos, de Iowa, enquanto ela e seu marido tentavam visitar o memorial.

Indefinição que gera indignação

Mas um fenômeno tão gigantesco como a paralisação da máquina federal americana leva certo tempo até ser inteiramente posta em prática. Muitos trabalhadores federais ainda foram hoje ao trabalho para mudar mensagens nas secretárias eletrônicas. Ainda assim, depois disso, eles estavam severamente orientados a não realizar trabalho algum, nem mesmo checar seus emails.

E sem saber quanto tempo a paralisação durará, alguns programas não afetados podem ficar sem dinheiro.

Barbara Haxton, diretora executiva da Associação Ohio Head Start, disse que seus programas de aprendizado pré-escolar ficarão sob risco caso o shutdown dure mais que duas semanas. Cortes automáticos no orçamento em março implicaram a perda de acesso aos serviços de 3 mil crianças. Ela teme que possa haver consequências ainda piores se o impasse orçamentário continuar.

“Isso não é um serviço dispensável. Essas são mais pobres entre as crianças pobres”, disse ela. “E o congressista segue recebendo seu salário. Ele segue recebendo dinheiro e seu seguro de saúde não para.”

* Contribuíram para esta reportagem Joe Frederick, Jessica Gresko, Brett Zongker, Joan Lowy e Amanda Lee.

Fonte: AP AP - The Associated Press. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser copiado, transmitido, reformado o redistribuido.
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