PUBLICIDADE

Estados Unidos

Estudos tornam-se segunda chance para detentos nos EUA

4 ago 2015 - 06h11
Compartilhar
Exibir comentários

Com livros e aulas sobre Nietzsche ou álgebra, os Estados Unidos querem mudar o rumo de suas saturadas prisões e dar segundas oportunidades a presos como o afro-americano Terrell Johnson, hoje feliz de ser um exemplo de esforço para sua sua filha de 12 anos.

"Em minha vida, tomei muitas decisões ruins. Tenho três filhos e não quero que sigam meu caminho. Quero servir de exemplo e quero que sintam orgulho de mim", ressaltou Johnson, que estuda na prisão de Jessup, no estado de Maryland, onde cumpre pena por tráfico de drogas.

Por trás das altas cercas da prisão e o lento deslizar das pesadas portas de aço, 70 homens e mulheres se sentam cinco dias por semana em pequenas salas de paredes brancas e diante de lousas nas quais professores apontam as tarefas do dia e avisam sobre os rigorosos exames trimestrais.

A principal diferença em relação a qualquer universidade está no fato de que, na prisão, não há internet e computadores. Os dicionários e enciclopédias são fornecidos pela Universidade de (Goucher), um centro privado que iniciou em 2012 um programa especial de educação para presos, que aprendem sobre história afro-americana, álgebra, cultura latino-americana e idiomas.

O governo americano anunciou nesta semana um programa que tem como modelo a iniciativa de (Goucher) para permitir que alguns presos possam estudar mediante a solicitação de bolsas de estudos federais, que o Congresso decidiu há 20 anos proibir para detentos.

"Este programa significa tudo para mim. Dei muitos problemas para minha mãe. Mas ela está orgulhosa disso agora", destacou Johnson durante a apresentação da iniciativa carcerária do governo, que começará no último trimestre de 2016.

"Estou aqui porque traficava drogas. Como tinha antecedentes penais, era difícil conseguir trabalho. É complicado manter as crianças só trabalhando no McDonald's. Inventei desculpas e me levaram para um caminho ruim", reconheceu.

Agora, garante ele, enfrentaria esses problemas de uma forma muito diferente porque a educação lhe deu mais paciência, segurança e abriu seus olhos para experiências, culturas e pessoas em que não tinha prestado atenção ou, simplesmente, considerava uma ameaça.

Também usando uniforme azul de detento, Kenarl Johnson ficou emocionado com livro sobre o 15º presidente dos EUA, James Buchanan (1857-1861), que foi indicado pelo reconhecido professor de História Jean H. Baker.

"Aprendi muito sobre o que aconteceu com a escravidão e a Guerra Civil. Esta semestre foi fantástico", disse o detento, que estuda há dois anos e planeja se formar e ingressar na Universidade Towson, no estado de Maryland e famosa pelo curso de Magistério, quando sair da prisão.

Além de Terrell e Kenarl terem sobrenome em comum (Johnson), os ambos são homens e afro-americanos, o que aumenta as possibilidades de serem detidos e, no caso de serem processados, receber penas mais longas do que cidadãos brancos pelos mesmos crimes, apontou um relatório da Casa Branca.

Segundo dados do Escritório de Estatísticas do Departamento de Justiça, 59% das pessoas em prisões estaduais ou federais pertencem a minorias étnicas, 37% deles afro-americanos e 22% hispânicos.

Outro detento, Glenn Martin, recebeu uma bolsa para estudar enquanto cumpria seis anos de prisão em Wyoming, e agora defende mudanças em um sistema penal que provou "várias vezes" sua ineficácia por não promover a reinserção social dos que cumprem pena.

"Lembro da sensação de alívio que tive quando comecei a estudar. Meu corpo estava preso, não podia me movimentar. Mas a mente voava acima das cercas de aço", descreveu Martin, que reconstruiu sua vida com sucesso longe das grades e dos uniformes de presidiário.

Os cartazes da prisão -"Só é permitido um beijo ou abraço rápido no final ou na entrada da visita"- lembram as bases de um sistema penal que permite a pena de morte e conta com a população carcerária mais numerosa do mundo, acima da China ou de 35 maiores países da Europa juntos.

Atrás das grades, os livros parecem ser o melhor hino de reinserção e a melhor arma contra o perigoso triângulo de pobreza, encarceramento e analfabetismo.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade