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Estados Unidos

Escola em Columbine lembra 10 anos de massacre e mentiras

19 abr 2009 - 17h24
(atualizado em 20/4/2009 às 18h18)
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Dez anos após o massacre no Instituto Columbine, no Colorado, em que dois adolescentes mataram 13 pessoas antes de cometer suicídio, a polícia americana afirmou que grande parte das informações divulgadas na época eram falsas. O jornal USA Today publicou, com base em relatos de testemunhas e analistas, que Eric Harris e Dylan Klebold planejaram, na verdade, matar milhares de pessoas em um grande ataque terrorista a bomba, que após o fracasso dos artefatos transformou-se em um tiroteio de 49 minutos.

Casal presta homenagem à amiga no memorial construído para as vítimas do massacre na Columbine High School
Casal presta homenagem à amiga no memorial construído para as vítimas do massacre na Columbine High School
Foto: Getty Images

A polícia confirmou, com base nos diários dos assassinos e declarações de testemunhas, que os adolescentes não estavam tomando antidepressivos, não visaram atletas, negros ou cristãos e não foram intimidados antes de chegar à atitude extrema. O FBI declarou que os adolescentes não agiram com o objetivo de matar uma "lista de inimigos", pois seus desafetos tinham deixado a escola um ano antes. Além disso, a história sobre uma estudante baleada na cabeça após dizer que acreditava em Deus também seria falsa.

Para o psicólogo Peter Langman, ouvido pelo USA Today, Harris e Klebold "não eram garotos comuns que foram importunados até retaliarem". "Não eram garotos comuns que jogaram videogame demais. Não eram garotos comuns que apenas queriam ser famosos. Eles simplesmente 'não eram garotos comuns'. Eram garotos com problemas psicológicos sérios", disse o autor do livro Why Kids Kill: Inside the Minds of School Shooters.

Segundo psicólogos, Harris, mentor do ataque, era mais do que um jovem perturbado. Para Dave Cullen, autor de Columbine, um novo relato sobre o ataque, ele tinha "um ridiculamente grande complexo de superioridade, repulsa por autoridade e uma enorme necessidade por controle".

Segundo Cullen, um dos últimos textos escritos no diário de Harris dizia: "Eu odeio vocês por me deixarem de fora de tantas coisas divertidas. E não diga, 'Ora, é culpa sua', porque não é, vocês tinham meu telefone, e eu pedi e tudo mais, mas não. Não, não, não deixem aquele estranho do Eric vir junto".

Já Klebold, descreveu sua vida a certa altura em seu diário como "a existência mais miserável na história do tempo", segundo Langman. Enquanto Harris desenhava suásticas em seu diário, Klebold desenhava corações. Porém, embora as anotações de cada um contrastem em alguns aspectos, ambos demonstram infelicidade e isolamento. "Eu sempre fui odiado, por todos e tudo", escreveu Klebold. "Eu sou um deus, um deus da tristeza", anotou Harris em setembro de 1997, por volta de seu 16º aniversário.

Objetos de análise
Columbine, o primeiro massacre em uma escola americana transmitido, em grande parte, ao vivo pela TV, levou a extensas pesquisas sobre o perfil de atiradores como Harris e Klebold. Em 2002, o Serviço Secreto dos Estados Unidos e o Departamento de Educação americano apresentaram seus primeiros resultados: os atiradores em escolas não tinham um perfil definido, mas na maioria dos casos eram depressivos e se sentiam perseguidos.

A socióloga de Princeton, Katherine Newman, co-autora do livro Rampage: The Social Roots of School Shootings, disse que jovens como Harris e Klebold não eram solitários - eles apenas não eram aceitos pelos garotos que importavam. "Obter atenção ao se tornar notório é melhor do que ser um fracasso", disse.

O Serviço Secreto descobriu que os atiradores geralmente contavam seus planos para outros garotos. "Outros estudantes freqüentemente até mesmo os incitavam", disse Newman, que liderou um estudo encomendado pelo Congresso sobre os tiroteios em escolas. "Eles então assumem esse compromisso. Não é um surto repentino".

Langman, cujo livro traça o perfil de dez atiradores, incluindo Harris e Klebold, descobriu que nove sofriam de depressão e pensamentos suicidas, uma combinação "potencialmente perigosa", disse. "É difícil impedir um assassinato quando os assassinos não se importam em viver ou morrer. É como tentar deter um homem-bomba".

Antes mesmo do fim do massacre, surgiram os primeiros mitos sobre Columbine. Alguns mal-entendidos foram esclarecidos em algumas horas, mas outros se consagraram como verdades. Em meio aos ânimos ainda alterados, a polícia chegou a afirmar que 25 pessoas tinham morrido, informação corrigida logo depois. Sobre uma reunião para discutir um mandato de busca à casa de Harris, em 1998, a polícia só falou cinco anos depois. A busca ocorreu depois do massacre.

Tragédia poderia ter sido maior
Algo de que a polícia não tem mais dúvidas é de que os adolescentes pretendiam provocar uma tragédia bem maior, com milhares de mortos. A dupla planejou os ataques por mais de um ano, fabricando 100 bombas e persuadindo amigos a comprarem armas para eles.

Caso as bombas deixadas em duas sacolas em um café lotado da escola tivessem explodido, estima-se que todos os presentes teriam morrido. Além disso, a biblioteca que fica no segundo andar teria desabado. Armados com uma pistola, um rifle e duas espingardas, a dupla planejava matar os sobreviventes que fugissem da carnificina.

Outras duas bombas de gasolina foram deixadas nos carros de Harris e Klebold, aparentemente para matar policiais, equipes de resgate, jornalistas e pais que fossem até a escola. Os veículos foram deixados a uma distância de cerca de 100 m no estacionamento dos estudantes, mas as bombas não dispararam.

Os pais de Klebold disseram ao colunista David Brooks do New York Times em 2004 lamentar não terem percebido que o filho era suicida. Cullen declarou sentir compaixão pelos familiares dos atiradores. Ele notou que os pais de Harris sabiam que tinham um problema - e achavam que estavam lidando com ele. "Que tipo de pai vai pensar: 'Bem, talvez Eric seja um assassino em massa'. Isso não acontece", afirmou ao USA Today.

Para Cullen, o dinheiro de que dispunham os adolescentes determinou o tamanho da tragédia. Eles custearam a fabricação das bombas e a compra das armas com o emprego de meio expediente que Harris tinha em uma pizzaria. Se tivessem adiado os planos de ataque e obtido empregos melhor remunerados, o número de vítima teria sido muito maior. "Seu salário limitado provavelmente limitou o número de pessoas mortas", disse o pesquisador.

Fonte: Redação Terra
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