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Eleições nos EUA

Rubio e Cruz, os hispânicos que não têm apoio latino pra chegar à Casa Branca

16 jan 2016 - 18h09
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As eleições de 2016 nos Estados Unidos são as primeiras nas quais dois pré-candidatos latinos, os republicanos Marco Rubio e Ted Cruz, têm chances reais de chegar à Casa Branca, embora eles defendam posturas diametralmente opostas às da maioria dos eleitores hispânicos.

Os analistas estimam que o Partido Republicano precisa conseguir de 40% a 45% dos votos latinos para poder ganhar as eleições, números impossíveis de alcançar mesmo se o candidato fosse um hispânico, segundo especialistas consultados pela Agência Efe.

Nas eleições de 2012, o republicano Mitt Romney obteve um dos piores resultados históricos entre os hispânicos, com apenas 27%, contra os 71% alcançados pelo atual presidente, o democrata Barack Obama.

"Este ano poderíamos ver um resultado ainda pior, levando em conta que o nível da retórica anti-imigrante do Partido Republicano está mais alto que nunca", explicou à Agência Efe, Pili Tobar, diretora de Comunicações do Latino Victory Project, uma organização que promove as candidaturas de hispânicos para postos públicos.

A campanha republicana, longe de conter algum gesto para atrair os latinos, está dominada pelo duro discurso do magnata Donald Trump, cuja liderança constante nas pesquisas força seus rivais a mostrar-se implacáveis com a imigração irregular.

No último meio ano, os hispânicos viram como Trump praticamente monopolizou a atenção dos meios de comunicação pedindo um muro entre México e EUA, como insulta abertamente os imigrantes, ou como Cruz fala de "invasão" para se referir à imigração ilegal.

Além disso, a maioria dos latinos tem também como prioridades as políticas econômicas inclusivas, o aumento do salário mínimo, a manutenção das ajudas sociais e o melhor acesso à educação e saúde e, como se comprovou até agora nessa campanha, todos os pré-candidatos republicanos, também Cruz e Rubio, estão no lado oposto dessas propostas.

"Não vai ajudá-los ser hispânicos, porque em nenhum dos assuntos importantes estão onde está a comunidade latina", disse Ángela María Kelley, vice-presidente sênior da organização Center for American Progress (CAP) à Efe.

O certo é que nem Cruz nem Rubio usam como bandeira o fato de serem hispânicos. Se apresentam como produtos da clássica história americana de sucesso, filhos de imigrantes humildes que chegaram longe, mas não enfatizam sua origem latina. Especialmente Cruz.

Há, além disso, outro fator que joga contra eles: ambos são de origem cubana, o que é compartilhado por menos de 10% dos latinos nos EUA. A grande maioria tem ascendência mexicana.

Entre a comunidade latina não-cubana dos EUA existe um histórico sentimento de ofensa com os da ilha, que há meio século se beneficiam da Lei de Ajuste, que permite aos cubanos ficar no país e com ajudas públicas se conseguirem tocar seus pés em solo americano.

A muito diferente realidade migratória dos hispânicos não-cubanos foi assinalada recentemente por congressistas democratas e ativistas, que denunciam a intensificação das deportações de centro-americanos que fogem da violência enquanto cubanos que emigram por razões econômicas, e não políticas, continuam a ser recebidos.

Tanto Rubio como Cruz mantêm posturas muito duras contra o governo cubano, atitude que satisfaz as duas primeiras gerações de exilados, mas se choca com as ideias mais abertas de seus filhos e netos.

A diferença essencial entre Rubio e Cruz, apontam os analistas, é que o primeiro poderia suavizar, como já fez no passado, suas posturas em temas como a imigração.

"Se Rubio ganhar a indicação republicana, talvez use sua conexão hispânica para tentar arrebatar votos dos democratas. Não acredito que Cruz possa fazer o mesmo", opinou Stephen Wayne, especialista em presidência americana da Universidade de Georgetown.

Rubio cresceu em uma casa onde se falava espanhol da comunidade cubana de Miami, é católico e sempre manteve esse legado: usa esse idioma às vezes em seus atos políticos e sua mulher é de origem colombiana.

Cruz, filho de um cubano e de uma americana de origem irlandesa, cresceu em Houston, no Texas, em uma casa muito religiosa e estudou em escolas de brancos protestantes, onde não teve contato com a comunidade latina.

O senador pelo Texas, estado onde os latinos procedem majoritariamente do México, admite também que seu espanhol é "ruim", é protestante evangélico e quando adolescente mudou seu nome hispânico Rafael Edward Cruz para "Ted".

Nascidos em 1970 com poucos meses de diferença, Rubio e Cruz representam um dos duelos-chave destas eleições, em que os democratas partem mais bem posicionados para voltar a conquistar o voto latino.

EFE   
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