Congressistas americanos ouvem relatos de família atingida por drone
Deputados americanos ouviram nesta terça-feira, pela primeira vez na história, o depoimento de três sobreviventes de um suposto ataque de um avião não tripulado (drone) que matou uma mulher de 67 anos e feriu sete crianças em uma região tribal do Paquistão em outubro do ano passado.
O professor paquistanês, Rafiq Rehman, e seus dois filhos, Nabila, 9 anos, e Zubair, 13, viajaram para Washington a convite do deputado democrata Alan Grayson, da Flória, onde eles deram o seu relato sobre o ataque que provocou a morte de Momina Bibi, 67 anos, mãe de Rafiq e avó de seus filhos. As crianças ficaram feridas no mesmo ataque.
O depoimento deles faz parte de uma tentativa de colocar um rosto humano na campanha de drones americanos.
Antes do encontro com os congressistas, Rafiq diz que aceitou o convite de uma produtora de documentários para ir aos Estados Unidos porque "como professor, eu queria educar os americanos e fazer com que eles saibam que minhas crianças foram feridas".
A família diz não ter qualquer ligação com extremistas anti-EUA ou com militantes da Al-Qaeda. "Minha filha não tem o rosto de um terrorista e nem tinha a minha mãe. Não faz sentido para mim o porquê disso ter acontecido", disse Rafiq à agência AFP.
Após o ataque, organizações de imprensa reportaram que mísseis disparados por um drone atingiram uma casa. Outra versão dizia que um carro fora atingido e vários militantes tinham sido mortos.
No entanto, a família diz que nenhum prédio ou veículo foi diretamente atingido e, além disso, as ruas pavimentadas estariam a uma certa distância do local do ataque. Eles dizem que mísseis atingiram uma plantação em que a avó de Nabila estava com outras crianças.
"Eu vi duas luzes fortes descerem a atingirem ela. Tudo ficou escuro a partir deste ponto", disse Nabila. Ela foi atingida por estilhaços, que se alojaram em sua mão direita, e precisou ser atendida em um hospital local.
Seu irmão, Zubair, também foi atingido por estilhaços e precisou passar por duas cirurgias, para as quais a família precisou contrair empréstimos para pagar.
Rehman diz que as pessoas em seu vilarejo no Waziristão do Norte estão acostumadas ao "zunido" de drones e até crianças pequenas aprendem a identificar o som dos aviões não tripulados.
O homem diz que tudo o que ele queria era a paz para acabar com a violência que tem atingido "idosos e crianças que não fizeram nada errado". "Eu acredito que existem maneiras melhores de agir do que esses drones. Talvez através de discussões e negociações com quem quer que seja que eles estejam alvejando", disse.
Na semana passada, a ONG Anistia Internacional emitiu um relatório exigindo o fim do sigilo nas operações de drones dos Estados Unidos e questionou a alegação oficial de que estas aeronaves alvejam apenas indivíduos que representam uma ameaça iminente com mínimas mortes de civis. Relatos da família Rehman aparecem no documento.
Por sua vez, o governo insiste que os ataques de drones são um meio legal de autodefesa, uma ferramenta efetiva na luta contra a Al-Qaeda e argumentam que outros métodos colocariam mais vidas em risco.
Com informações do jornal paquistanês Tribune e da Al Jazeera America