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Estados Unidos

Com serviços públicos paralisados nos EUA, Obama denuncia 'cruzada ideológica'

1 out 2013 - 19h37
(atualizado às 19h43)
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O presidente americano, Barack Obama, acusou nesta terça-feira os republicanos de lançarem uma "cruzada ideológica" e pediu que ponham fim ao bloqueio dos serviços do governo federal, que deixou 800.000 funcionários públicos em férias forçadas.

Em um discurso na Casa Branca, Obama disse que os republicanos lançaram uma "cruzada ideológica" para tentar acabar com sua reforma da saúde, aprovada em 2010 e centro da disputa no Congresso.

"Paralisaram o governo em nome de uma cruzada ideológica para negar cuidados de saúde acessíveis a milhões de americanos", disse o mandatário.

Vários serviços públicos ficaram paralisados a partir desta terça-feira, pela primeira vez em quase 18 anos, após o fracasso das negociações entre republicanos e democratas no Congresso para aprovar o orçamento para o exercício fiscal 2013-2014.

A situação pode ficar ainda mais grave dentro de duas semanas, caso não haja um acordo político sobre o teto da dívida.

Quase 800.000 funcionários públicos considerados não-essenciais, de um total de dois milhões, terão que permanecer em casa sem salário até nova ordem. Além disso, parques nacionais, museus e monumentos estão fechados, incluindo a emblemática Estátua da Liberdade.

"Aprovem um orçamento e acabem com a paralisia", exigiu Obama.

Apesar das intensas negociações durante a madrugada desta terça-feira e das idas e vindas entre o Senado, com maioria democrata, e a Câmara de Representantes, dominada pelos republicanos, nenhum projeto de lei de finanças foi aprovado a tempo para o início do ano fiscal de 2014, 00h00 de terça-feira em Washington.

Em consequência, a Casa Branca ordenou pouco antes da meia-noite que as agências federais paralisassem parcialmente as atividades e enviassem para casa, sem salário, os funcionários não essenciais.

Os efetivos da administração pública serão reduzidos ao mínimo, com algumas agências trabalhando com apenas 5% dos funcionários.

O Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, estava fechado nesta terça, enquanto em Washington os monumentos históricos estavam fechados à visitação.

Os republicanos da Câmara de Representantes sugeriram um abordagem pontual: aprovar leis para reabrir as agências do governo uma por uma.

Nesta terça estudavam submeter a votação medidas correspondentes aos parques, museus e monumentos nacionais; ao departamento dedicado aos veteranos de guerra; e às operações para financiar o funcionamento da capital federal, que não tem orçamento autônomo.

Uma pesquisa de opinião da Universidade Quinnipiac mostra que 77% dos americanos são contrários à necessidade de fechar parcialmente atividades do Estado e apenas 22% apoiam a estratégia republicana.

Em meio à disputa, o presidente Barack Obama promulgou um uma lei que garante aos militares o pagamento de seus salários.

Apesar do impacto concreto do "shutdown" (fechamento) do governo federal, o efeito nos mercados mundiais era limitado nesta terça-feira.

Mas analistas acompanham com preocupação outra data: se até 17 de outubro republicanos e democratas não chegarem a um acordo sobre o aumento do limite legal da dívida pública, o governo dos Estados Unidos poderá ficar incapacitado para enfrentar as obrigações financeiras e entrar em 'default' de parte da dívida.

No momento, os Estados Unidos captam dinheiro em condições muito favoráveis, mas um 'default' parcial poderia ter consequências imprevisíveis sobre o custo de financiamento, com um efeito nefasto de reações em cadeia nos mercados mundiais.

O fracasso do Congresso materializado nesta terça-feira coroa 33 meses de disputa permanente entre democratas e republicanos sobre o orçamento.

Os dois lados trocam acusações sobre o fracasso.

"É uma vergonha que estas pessoas, eleitas para representar o país, acabem representando o Tea Party e os anarquistas", criticou Harry Reid, líder da maioria democrata no Senado.

Em resposta, o representante republicano Ted Poe escreveu no Twitter: "Estamos nesta situação porque o presidente e os democratas do Senado queriam este resultado desde o início".

O senador republicano John McCain admitiu que os republicanos "serão percebidos com os que bloquearam e provocaram a paralisação das atividades do Estado federal".

A razão por trás da paralisação é o chamado "Obamacare", a emblemática reforma do sistema de saúde do presidente americano aprovada em 2010 durante o primeiro mandato e que os republicanos desejam impedir.

O Partido Republicano é contrário à implementação do 'Obamacare', que obriga as empresas a pagar seguros de saúde aos funcionários e prevê ajudas do governo às pessoas sem dinheiro para pagar por conta própria.

Segundo a reforma, todo americano deverá ter um seguro em 1º de janeiro de 2014, mas os republicanos querem impedir a aplicação, alegando que o sistema constitui um abuso de poder do Estado federal e que provocaria uma explosão do orçamento federal.

Senado e Câmara de Representantes retomam os trabalhos na tarde desta terça-feira.

A última paralisação parcial do governo americano aconteceu entre dezembro de 1995 e janeiro de 1996, durante a presidência de Bill Clinton e durou 28 dias. O crescimento econômico do país caiu um ponto percentual em ritmo anual na época.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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