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Estados Unidos

Boston: homem convertido ao Islã teria radicalizado suspeito

Familiares dizem que Tamerlan Tsarnaev passou a se aprofundar na religião a partir de encontros com um homem identificado como Misha entre 2008 e 2009

24 abr 2013 - 10h49
(atualizado às 11h04)
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Tamerlan Tsarnaev, 26 anos, foi morto durante perseguição policial
Tamerlan Tsarnaev, 26 anos, foi morto durante perseguição policial
Foto: AP

Nos anos que antecederam as explosões na Maratona de Boston, Tamerlan Tsarnaev esteve sob a influência de um novo amigo, um muçulmano convertido que guiou o jovem, até então apático religiosamente, para uma visão mais estrita do Islã, disseram membros da família Tsarnaev à agência AP.

Sob a tutela de um amigo conhecido pela família apenas como Misha, Tamerlan abandonou sua carreira de boxeador e o interesse pela música, disse a família. Ele começou a se opor às guerras no Afeganistão e no Iraque. Passou a acessar websites e livros que alegam que a CIA - agência de espionagem dos Estados Unidos - estava por trás dos atentados terroristas de 11 de setembro e que os judeus controlavam o mundo.

"De alguma forma, ele (Misha) tomou o cérebro dele", diz Ruslan Tsarni, tio de Tamerlan, que se lembra de conversas com o pai do suspeito de Boston sobre a influência de Misha. A agência AP diz que seus esforços para tentar identificar esse suposto amigo de Tamerlan não foram bem sucedidos.

Ainda de acordo com a AP, a relação de Tamerlan com Misha pode ser uma pista para o entendimento dos motivos que o levaram a se transformar religiosamente e, também, levar a cabo as explosões do último dia 15, que deixaram 3 mortos e mais de 260 feridos. As autoridades americanas dizem que ele não tinha ligação com grupos terroristas.

Ao longo de sua mudança religiosa, Tamerlan teria mantido uma forte influência sobre seus irmãos - duas irmãs e Dzhokhar, detido como coautor do atentado. "Eles amavam Tamerlan. Ele era o mais velho e, de muitas formas, o modelo para as irmãs e o irmão", diz Elmirza Khozhugov, 26 anos, ex-marido de Ailina, uma das irmãs dos suspeitos. "Você podia sempre ouvir o irmão mais novo e as irmãs dizerem, 'Tamerlan disse isso', 'Tamerlan disse aquilo'. Dzhokhar o amava. Ele fazia tudo que Tamerlan dizia", acrescenta Khozhugov.

"Até minha ex-mulher o amava e respeitava muito", diz o homem, que atualmente mora em Almaty, no Cazaquistão. "Eu tinha discussões com ela e se Tamerlan ficase do meu lado, ela dizia: 'Ok, se Tamerlan disse'".

Khozugov disse que era próximo de Tamerlan quando estava casado e que os dois mantiveram contato por um tempo após a separação, mas se separaram nos últimos dois anos.

Tamerlan Tsarnaev morreu durante tiroteio com a polícia na última sexta-feira. Dzhokhar foi indiciado na terça-feira por utilizar uma arma de destruição em massa para matar e pode ser sentenciado à pena de morte se for condenado.

"Claro que eu fiquei chocado e surpreso que ele era o suspeito número 1", diz Khozhugov. "Mas após horas pensando sobre isso, eu pensei que era bem possível que ele tivesse feito".

A partir de conversas preliminares com Dzhokhar no hospital em que ele está internado, as autoridades americanas acreditam que os irmãos foram motivados por suas visões religiosas para cometer o atentado contra a maratona. Não se sabe, no entanto, quais seriam essas visões.

Os irmãos emigraram entre 2002 e 2003 do Daguestão, uma república russa que se tornou o epicentro da insurgência islâmica contra o governo local. Eles tiveram criação sunita e não costumavam frequentar mesquitas ou discutir religião, diz Khozhugov.

Em 2008 ou 2009, porém, Tamerlan teria conhecido Misha, um homem um pouco mais velho, careca e com uma longa barba avermelhada. Khozhugov diz que não sabe como eles se conheceram, mas acredita que eles frequentavam uma mesquita de Boston juntos. O homem seria um armênio convertido ao Islã que rapidamente começou a influenciar Tamerlan, dizem familiares.

Suspeitos mantinham páginas e vídeos polêmicos na internet:

Khozhugov diz que uma vez Misha veio à casa da família nos arredores de Boston e ele e Tamerlan sentaram-se na cozinha e conversaram por horas. "Misha falava com ele sobre o que é o Islã, o que é bom no Islão e o que é ruim", diz Khozhugov, que disse estar presente durante a conversa. "Essa é a melhor religião e é isso. Maomé disse isso e Maomé disse aquilo".

A conversa teria continuado até Anzor, o pai de Tamerlan, chegar em casa do trabalho. "Era tarde, meia-noite. O pai dele chega e diz: 'Por que Misha está aqui tão tarde?' Ele perguntou educadamente. Tamerlen estava tão envolvido na coversa que não ouviu".

Khozhugov disse que mãe de Tamerlan, Zubeidat, pediu a Anzor para não se preocupar. "'Não os interrompa. Eles estão falando sobre religião e coisas boas. Misha o está ensinando a ser bom e gentil'", diz Khozhugov, relembrando a conversa.

No entanto, com o decorrer do tempo, Anzor teria começado a se preocupar com a influência do homem sobre o filho. "Quando Misha começava a falar, Tamerlan parava e escutava. Incomodava seu pai porque Tamerlan não o escutava tanto", diz Khozhugov.

Anzor ficou tão preocupado que ligou para seu irmão, Tsarni, expressando sua preocupação sobre Missa. "Eu não eu ouvi sobre mais ninguém além desse convertido. A semente da mudança em suas visões foi plantada bem ali em Cambridge", diz Tsarni.

Segundo a AP, não há informações se o FBI entrou em contato com Misha ou fez tentativas para isso.

O mais velho dos irmãos Tsarnaev teria então se tornado um ardente leitor de sites jihadistas e de propaganda extremista, segundo disseram à AP duas autoridades americanas. Ele era leitor da revista Inspire, uma publicação online em inglês produzida por associados da Al-Qaeda no Iêmen.

Segundo Khozhugov, Tamerlan era um apaixonado pela música e, há alguns anos, teria lhe enviado uma música que compôs em inglês e russo. Ele também teria dito que começaria a estudar música. No entanto, em uma conversa ao telefone seis semanas depois, Khozhugov teria perguntado a Tamerlan sobre o andamento das aulas de música e recebido como resposta "Eu desisti". "Eu perguntei por quê? 'A música não é apoiada pelo Islã'", diz Khozhugov, recordando a resposta de Tamerlan. "Misha disse que não é bom criar música. Não é bom escutar música", disse Tamerlan, segundo Khozhugov.

Tamerlan também teria se tornado um ávido leitor do site de teorias conspiratórias Infowars. Khozhugov diz que Tamerlan também tinha se interessado por procurar uma cópia do livro Os Protocolos dos Sábios de Sião, um livro publicado na Rússia na virada do século XX que denuncia uma suposta conspiração dos judeus para controlar o mundo.

Albrecht Ammon, vizinho dos irmãos Tsarnaev, relatou à AP sobre um encontro com Tamerlan em que discutiram sobre a política externa americana, as guerras no Afeganistão e no Iraque e religião. Segundo Ammon, Tamerlan dizia que a Bíblia era uma "cópia barata" do Alcorão usada para justificar guerras com outros países. "Ele não tinha nada contra o povo americano. Ele tinha algo contra o governo americano", diz.

Khozhugov diz que Tamerlan não sabia muito sobre o Islã além dos ensinamentos de Misha e do que encontrou na internet. "Misha era importante. Tamerlan estava procurando por algo". 

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Fonte: Terra
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