Bebê Sofia recebe alta após transplante raro nos EUA
Procedimento, que durou nove horas, foi coordenado pelo cirurgião brasileiro Rodrigo Vianna
Já está em casa em Miami, nos Estados Unidos, a bebê brasileira Sofia Gonçalves de Lacerda, de um ano e meio, que foi submetida a um transplante de múltiplos órgãos em abril deste ano no hospital Jackson Memorial Medical Center, na mesma cidade. A menina deixou o hospital na tarde desta quinta-feira (2), exatamente um ano após chegar com os pais em solo norte-americano.
Mesmo fora do hospital o tratamento deve continuar no formato home care, recebendo visitas semanais de enfermeiros que irão coletar amostras para exames, sendo os demais cuidados ministrados pela mãe, Patrícia Lacerda, e pelo pai, Gilson Gonçalves, que receberam treinamento. A menina já estava de alta médica desde terça-feira, mas alguns medicamentos não ficaram prontos e, por isso foi preciso aguardar no hospital.
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“Ela veio para casa com 17 tipos de medicamentos, com a gastro e a colostomia. Alguns são medicamentos que ela tomará para o resto da vida, outros são necessários para ficar cada vez mais forte”, disse Patrícia. Ela ainda explica que se tratam de vitaminas e medicamentos para evitar que o organismo da filha rejeite os órgãos transplantados. E como a menina ainda não aceita muito bem a comida, ainda receberá uma fórmula (um tipo de leite) que será introduzida via gastro.
Sofia nasceu com a síndrome de Berdon, doença considerada rara e que compromete o funcionamento de todo o sistema digestivo. Por isso ela precisou transplantar cinco órgãos. O procedimento, que durou nove horas, foi coordenado pelo cirurgião brasileiro Rodrigo Vianna.
A cirurgia não é realizada no Brasil e para chegar aos EUA a família, que não tinha condições financeiras para arcar com o procedimento, encarou uma batalha judicial para que o governo brasileiro custeasse as despesas com a viagem (em avião equipado com UTI) e com o transplante, estimados em R$ 2 milhões. Quando nasceu, os médicos brasileiros estimaram que Sofia não passaria de um ano de vida.
“Me sinto aliviada. Sabemos que a estrada ainda é longa, mas já demos o principal passo, que foi ela receber os órgãos que precisava e ter uma chance de vida”, disse Patrícia.
Ela revela ainda que, com a alta de Sofia, a família pensa em se mudar de Miami para uma cidade mais tranquila a cerca de 68 km, Deerfield Beach. Isso por conta das despesas com moradia e para ter mais segurança.
“Aqui é muito caro, cerca de US$ 2 mil (6 mil reais) mensais e lá é um pouco mais de US$ 1 mil (3 mil reais). E aqui está muito perigoso, tentaram entrar no nosso apartamento duas vezes. E a Sofia não pode ter contato com animais e aqui todos os moradores têm cachorros. Aonde vamos fica bem perto de um hospital, é como uma filial [do Jackson Memorial]. E qualquer emergência tem helicóptero. Só estamos indo depois da liberação dos médicos. Iremos mudar até o final do mês”, explica.
Além de não poder ter contato com animais, os médicos recomendaram que a bebê use máscara quando estiver em lugares fechados e onde haja aglomeração de pessoas, já que os remédios podem baixar a imunidade dela. A família deve ficar nos Estados Unidos por dois anos até que a menina se recupere totalmente. As despesas têm sido custeadas com doações arrecadadas durante campanha.
“O meu maior sonho é voltar pra nossa casa. Levar ela bem”, contou. A família é de Votorantim, no interior de São Paulo, mas Sofia nunca conheceu sua casa. Ela nasceu no hospital da Unicamp, em Campinas, e de lá foi transferida para o hospital Samaritano em Sorocaba, cidade próxima a Votorantim, de onde embarcou para os EUA.
Seguidores
A história de Sofia gerou comoção nas redes sociais e repercutiu na imprensa nacional. Antes de conseguir na justiça que o governo brasileiro custeasse o tratamento, a família havia criado a página “Ajude a Sofia” no Facebook para arrecadar fundos para o transplante e divulgar a luta da menina pela vida.
Atualmente a página tem mais de um milhão e meio de seguidores que interagem com os pais de Sofia e acompanham as publicações, sempre com fotos e vídeos que retratam a evolução do tratamento. Na página também são compartilhados casos de outras crianças que, assim como Sofia, sofrem com doenças graves e enfrentam dificuldades para conseguir tratamento.
Nos posts os pais pedem doações às crianças, por meio do projeto Clique da Esperança, que recebe os donativos e encaminha integralmente às famílias necessitadas.
Na noite desta quinta-feira, dia em que Sofia recebeu alta, Gilson e Patrícia compartilharam com os amigos virtuais uma mensagem de agradecimento.
“É com muita alegria que informo a todos que nossa princesinha está de alta e já está em casa. Esse momento foi muito esperado como todos sabem foi uma grande luta, e poder sentir essa alegria agora é indescritível. Quero muito agradecer a todos vocês que nos ajudaram tanto. Agradecer muito a nosso advogado Dr. Miguel Navarro, porque ele foi essencial nesta vitória. Obrigada também ao Dr. Rodrigo Vianna e toda sua equipe, que cuidaram tanto da nossa bonequinha. Enfim, obrigada a todos ... todos mesmo! Estamos muito felizes. Desde o início eu sabia que o lugar certo para trazer a Sofia era aqui, e por mais que eu escutasse que era impossível, não desisti. Porque por mais que estivesse difícil, eu sabia que a Sofia tinha a promessa de Deus em sua vida. E a cada dia essas promessas se cumprem em sua vida. ‘O impossível não existe’! ”, dizem os pais na mensagem que na sequência traz o link de um vídeo do YouTube que mostra a saída de Sofia do hospital.