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Oriente Médio

Autor do filme anti-Islã está protegido pela Constituição dos EUA

14 set 2012 - 17h24
(atualizado às 17h30)
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Apesar das manifestações contra o Ocidente terem se intensificado no Oriente Médio, os Estados Unidos não podem tomar uma medida contra o autor do polêmico filme que desencadeou uma onda de protestos violentos nos países muçulmanos em função da garantia constitucional de liberdade de expressão.

Manifestantes correm para se proteger de gás lacrimogêneo disparado por policiais durante confronto em frente à embaixada dos Estados Unidos em Túnis, na Tunísia. Várias pessoas ficaram feridas em uma tentativa de ataque à representação diplomática
Manifestantes correm para se proteger de gás lacrimogêneo disparado por policiais durante confronto em frente à embaixada dos Estados Unidos em Túnis, na Tunísia. Várias pessoas ficaram feridas em uma tentativa de ataque à representação diplomática
Foto: Reuters

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O filme, que apresenta os muçulmanos e seu profeta Maomé como pessoas imorais e violentas, acirrou os ânimos no Egito e na Líbia, com os protestos estendendo-se para outros países da África e da Ásia.

Apesar de as autoridades terem reforçado a segurança em todas as sedes diplomáticas que são alvos da revolta dos muçulmanos, não podem legalmente impedir a divulgação do filme "A inocência dos muçulmanos", uma produção de baixo orçamento realizada nos Estados Unidos e financiada por um produtor ligado à igreja cristã copta, identificado como Nakula Basseley Nakula, de 55 anos, que mora na Califórnia.

"Eu sei que é difícil compreender por que os Estados Unidos não podem proibir este tipo de vídeo, mas quero ressaltar que, com as tecnologias modernas, isso é impossível. Mas, inclusive, se não o fosse (...) não podemos impedir que os cidadãos expressem seus pontos de vista, mesmo quando não compartilhamos deles", explicou a secretária de Estado Hillary Clinton.

"Defender a violência é algo, inclusive, que está protegido pela Constituição. E neste caso, não se trata de violência, é apenas uma paródia e uma crítica da religião", declarou Eugene Volokh, professor da Universidade da Califórnia, falando a respeito do filme e sobre a liberdade de expressão garantida pela primeira emenda da Constituição americana.

Dessa maneira, Nakula não será processado pelas autoridades americanas, e ainda terá o benefício da proteção policial em sua residência, localizada na periferia de Los Angeles, e onde permanece recluso por medo de represálias.

Steve Klein, um cristão evangélico que admite ter trabalhado como consultor do filme, afirmou que não se sentia responsável pela morte dos quatro americanos em Benghazi.

"Eu não assassinei essas pessoas, são eles (os manifestantes na Líbia) que apertaram o gatilho. Foram eles que assassinaram o embaixador", afirmou à cadeia televisão CNN.

Algumas partes do filme de baixo orçamento, difundidas na internet ou por canais de televisão privados, fazem referência à vida de Maomé e tocam em temas como a homossexualidade e a pedofilia, apresentando os muçulmanos como imorais e gratuitamente violentos.

Filme anti-islamismo desencadeia protestos contra EUA

Na última terça-feira, 11 de setembro, protestos irromperam em frente às embaixadas americanas do Cairo, no Egito, e de Benghazi, na Líbia, motivados por um vídeo que zombava do islamismo e de Maomé, o profeta muçulmano. No primeiro caso, os manifestantes destroçaram a bandeira estadunidense; no segundo, os ataques chegaram ao interior da embaixada, durante os quais morreram, entre outros, o embaixador e representante de Washington, Cristopher Stevens.

Desde então, protestos e confrontos, que vêm sendo registrados diariamente no Cairo, disseminaram-se contra embaixadas americanas em diversos países da África e do Oriente Médio. Nesta sexta, 14 de setembro, já haviam sido registrados eventos em Túnis (Tunísia), Cartum (Sudão), Jerusalém (Israel), Amã (Jordânia)e Sanaa (Iêmen). Há fotos e relatos de protestos também na Índia e em Bangladesh. Somados, estes episódios já deixam algumas dezenas de mortos e feridos entre manifestantes, diplomatas e forças de segurança.

O vídeo que desencadeou esta onda de protestos no mesmo dia em que os Estados Unidos relembravam os atentados terroristas de 2001 traz trechos de Innocence of Muslims (A Inocência dos muçulmanos, em tradução livre), filme produzido nos Estados Unidos sob a suposta direção de Nakoula Basseky Nakoula. Ele seria um cristão copta egípcio residente nos Estados Unidos, mas sua verdadeira identidade e localização ainda são investigadas. O filme, de qualidades intelectual e cultural amplamente questionáveis, zomba abertamente do Islã e denigre de a imagem de Maomé, principal nome da tradição muçulmana.

A Casa Branca lamentou o conteúdo do material, afirmou não ter nenhuma relação com suas premissas e ordenou o reforço das embaixadas americanas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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