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Estados Unidos

Alvo de última mensagem de Bin Laden, franceses temem por reféns

2 mai 2011 - 12h00
(atualizado às 12h17)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

A notícia da morte do terrorista mais procurado do mundo acordou a Europa, onde eram 5h43 quando a notícia foi publicada. Ao longo da manhã, a imprensa francesa repercutiu os acontecimentos da madrugada nos Estados Unidos, mas logo demonstrou especial preocupação com o futuro dos quatro reféns franceses em posse de sequestradores da Al-Qaeda na Nigéria. A última mensagem gravada pelo terrorista ameaçava justamente a França, que deveria "pagar caro" pelo seu envolvimento na guerra do Afeganistão, segundo o próprio Osama bin Laden.

Na mensagem, um áudio divulgado em 21 de janeiro, o líder extremista condicionava a libertação dos reféns à retirada das tropas francesas do Afeganistão. "Nós repetimos a mesma mensagem: a liberação dos seus prisioneiros das mãos dos nossos irmãos está ligada à retirada dos seus soldados do nosso país", dizia Bin Laden, em gravação cuja autenticidade foi comprovada pelos serviços anti-terroristas franceses. O extremista, morto no último domingo no Paquistão pelos Estados Unidos, ainda afirmava que a política externa do presidente Nicolas Sarkozy "custará caro" para a França "em diferentes fronts, no interior e no exterior da França".

Antes desta mensagem, a anterior, divulgada três meses mais cedo, também se dirigia a Sarkozy. Em outubro, Bin Laden confirmava que a Al-Qaeda estava por trás do sequestro de sete franceses em setembro, na Nigéria, em retaliação à presença do país no Afeganistão e também para pedir o fim "das injustiças da França" em relação aos muçulmanos, em um momento em que o país discutia a aprovação da lei proibindo o uso da burca nas ruas. "Se a França proíbe as mulheres de usar o véu, não é nosso direito decapitar os invasores", ameaçava Bin Laden. Três dos reféns foram libertados em novembro, mas os restantes continuam sob as armas dos terroristas. Na última quarta-feira, os sequestradores haviam divulgado um vídeo em que, com metralhadoras apontadas à cabeça, os reféns suplicavam para Sarkozy atendesse às reivindicações da rede terrorista.

A morte do chefe da Al-Qaeda provocou alívio, mas também incertezas em relação à sobrevivência dos reféns. O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, disse que a França "compartilha a alegria dos americanos" neste momento e que continuaria "fazendo de tudo" para libertar as vítimas do sequestro. Gérard Longuet, ministro da Defesa, afirmou que há "uma extrema sensibilidade" no caso, mas estima que a morte do líder "vai permitir desbloquear as negociações" e que "as pessoas que as bloqueavam por razões políticas, não o farão mais".

Já uma fonte ligada ao caso confidenciou à rede de TV France 2 que a morte de Bin Laden "é uma má notícia para os reféns". O diplomata, cuja identidade foi mantida em sigilo, disse temer que a libertação agora leve muito "mais tempo" do que se previa.

Mathieu Guidère, um dos principais especialistas em extremismo islâmico da França e professor das universidades de Toulouse e Genebra, afirmou ao Terra que a morte de Bin Laden não deve ser vingada nos reféns franceses. "A França não contribuiu em absolutamente nada nesta operação, e os terroristas sabem que, com estes reféns, têm um poder de troca valioso com a França", avaliou o analista, autor de 17 livros sobre os movimentos radicais. "As ameaças vão aumentar em torno disto, sim. Mas vai ser mais blefe do que realidade, para estimular o sentimento de insegurança dos franceses".

Guidère considera que a Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI), braço da organização terrorista nos países no norte-africano, vai ganhar ainda mais autonomia com a morte de Bin Laden. Para o especialista, os movimentos de regionalização da Al Qaeda estão tão sólidos que a ausência do líder não altera o futuro da organização. "A diferença é que agora eles não vão mais solicitar que as negociações sejam feitas diretamente com Bin Laden, mas sim vão assumir inteiramente o controle do que fazem", explicou.

Osama bin Laden é morto no Paquistão

No final da noite de 1º de maio (madrugada do dia 2 no Brasil), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou a morte do terrorista Osama bin Laden. "A justiça foi feita", afirmou Obama num discurso histórico representando o ápice da chamada "guerra ao terror", iniciada em 2001 pelo seu predecessor, George W. Bush. Osama foi encontrado e morto em uma mansão na cidade paquistanesa de Abbottabad, próxima à capital Islamabad, após meses de investigação secreta dos Estados Unidos .

A morte de Bin Laden - o filho de uma milionária família que acabou por se tornar o principal ícone do terrorismo contemporâneo -, foi recebida com enorme entusiasmo nos Estados Unidos e massivamente saudada pela comunidade internacional. Enquanto a secretária de Estado dos EUA afirmava que a batalha contra o terrorismo continua, o alerta disseminado em aeroportos horas depois da notícia simboliza a incerteza do impacto efetivo da morte de Bin Laden no presente e no futuro.

Após morte de Osama bin Laden, Talibã ameaça Paquistão e EUA:
Fonte: Especial para Terra
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