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Entenda as causas dos conflitos no Egito

14 ago 2013 - 09h04
(atualizado às 09h52)
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Forças de segurança do Egito se movimentam para retirar acampamentos ocupados por apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi. Testemunhas dizem que 40 pessoas já foram mortas, mas a Irmandade Mulçumana, grupo político de Morsi, acredita que esse número já passou de 100.

Os tumultos no país começaram no dia 3 de julho, dia em que Mursi foi deposto, e um ano após ele ter sido eleito. Para entender o que está acontecendo no país, a BBC fez uma lista de perguntas e respostas.

O que aconteceu nos acampamentos pró-Mursi?

No início da manhã do dia 14 de agosto, as forças de segurança do Egito agiram para remover dois acampamentos ocupados por apoiadores de Morsi localizados na Praça Nahde e do lado de fora da mesquita Rabaa al-Adawiva, no oeste do Cairo.

Gás lacrimogênio foi usado para dispersar os manifestantes, e rajadas de metralhadora também foram ouvidas. Escavadeiras foram utilizadas para remover os acampamentos e barricadas de pedra.

Acredita-se que pelo menos 15 pessoas foram mortas na operação, mas a Irmandade Mulçumana, que apoia as manifestações, diz que esse número é muito maior. Os manifestantes querem a volta de Mursi, e desafiaram os avisos das autoridades sobre o fim dos acampamentos.

O que aconteceu para o Presidente Mursi ser deposto?

Durante o primeiro ano do presidente islamita Mohammed Mursi no cargo, ele se desentendeu com as instituições e setores da sociedade, e muitos egípcios achavam que ele estava fazendo pouco para resolver os problemas econômicos e sociais do país.

O Egito ficou dividido entre apoiadores de Mursi e seus opositores, que incluíam esquerdistas, liberais e secularistas.

No dia 30 de junho de 2013, milhares de pessoas foram às ruas para protestar diante do primeiro aniversário de posse de Morsi, em manifestação organizada pelo Movimento Tamarod, oposicionista.

No dia 1º de julho, o exército alertou o presidente Mursi de que, caso ele não atendesse às demandas do público em 48 horas, militares iriam intervir e impor seu próprio "roteiro".

Com a aproximação do ultimato, Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito. E avisou que qualquer iniciativa para depô-lo à força poderia lançar o país no caos.

No entanto, no dia 3 de julho, o chefe das forças armadas, o general Abdul Fattah al-Sisi, anunciou que a constituição havia sido suspensa e que o líder da Suprema Corte, Adly Mansour, comandaria um governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares fossem convocadas.

A mais alta autoridade islâmica do país, o grã-xeque de Al-Azhar, o líder da Igreja Copta, bem como o principal nome da oposição, Mohammed ElBaradei, aprovaram a deposição.

Soldados, apoiados por veículos blindados, tomaram locais importantes da capital, Cairo, enquanto centenas de milhares de manifestantes de oposição e partidários de Mursi foram às ruas.

Quem é Mohamed Mursi e o que aconteceu com ele?

Mohamed Mursi ganhou força dentro da Irmandade Muçulmana do Egito, um movimento islâmico proibido durante décadas, e tornou-se presidente de seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça.

Mursi ganhou as eleições presidenciais em junho de 2012, e tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito. A eleição, considerada livre e justa, aconteceu após um período turbulento da ditadura militar, que viu seu líder de longa data, Hosni Mubarak, ser deposto em fevereiro de 2011, também após protestos de massa.

Desde que ele foi deposto, Mursi está preso em um local não revelado. Outras figuras importantes da Irmandade Muçulmana também foram detidas, incluindo o poderoso vice-líder Khairat al-Shater, que é acusado de incitar a violência.

O que aconteceu desde o golpe militar?

Partidários de Mursi realizaram comícios quase diários exigindo seu restabelecimento na presidência. A sede da Guarda Presidencial, no Cairo, foi um dos principais locais de manifestação, já que muitos acreditam ser o lugar onde Mursi está preso.

Falando depois de pelo menos 51 pessoas terem sido mortas do lado de fora da sede da Guarda Presidencial em 8 de julho, o Partido Liberdade e Justiça pediu "uma revolta" contra "aqueles que tentam roubar sua revolução com tanques".

No dia 27 de julho, mais de 70 pessoas foram mortas em confrontos com as forças de segurança no acampamento ao redor da mesquita Rabaa al-Adawiya. As forças de segurança foram acusadas de usar força letal desnecessária. O Ministério do Interior acusou os manifestantes de usar armas de fogo.

Manifestantes anti-Mursi também foram às ruas. O general Sisi os encorajou a ocupar as ruas no dia 26 de julho para dar ao exército um "mandato para enfrentar possíveis ações de violência e terrorismo".

Segundo a mídia egípcia e fontes oficiais, cerca de 160 pessoas foram mortas em manifestações e confrontos com as forças de segurança antes da ação para dispersar os acampamentos.

O que vai acontecer agora?

O general Sisi disse que Mansour comandaria um "governo interino até que um novo presidente seja eleito".

Mansour traçou planos para a transição, incluindo uma revisão da Constituição apoiada por Morsi, e novas eleições parlamentares no início de 2014. O plano foi rejeitado pela Irmandade Muçulmana e também criticado pelos partidos de esquerda e liberal.

Sisi prometeu "não excluir ninguém ou qualquer movimento", e pediu medidas para "capacitar os jovens e integrá-los nas instituições do Estado". No entanto, ele não definiu a duração do período de transição, ou qual será o papel dos militares.

O exército é a mais poderosa entidade governamental, e muitos dizem que funciona como um Estado dentro do Estado. Empresas que pertencem ao exército constituem uma proporção significativa da economia do Egito.

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