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Eleições no Haiti em tempos de cólera: perguntas e respostas

22 nov 2010 - 15h51
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Sob a sombra da instabilidade política e de desastres naturais, o Haiti terá eleições presidenciais e legislativas no domingo em meio a uma grave epidemia de cólera.

Com dezenas de vítimas da doença morrendo diariamente e o total de mortes ultrapassando os 1.250, os haitianos deverão eleger um novo presidente, os 99 integrantes da Câmara dos Deputados e 11 dos 30 membros do Senado para comandar o país caribenho, que ainda sofre as consequências do terremoto devastador de janeiro.

Notícias de que soldados nepaleses da missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) teriam levado o cólera ao Haiti geraram protestos anti-ONU e tumultos, complicando a organização das eleições e o auxílio internacional contra o surto de cólera. Segundo a ONU, a teoria sobre os nepaleses por enquanto é inconclusiva.

Abaixo, algumas perguntas e respostas sobre as eleições:

O HAITI É CAPAZ DE ORGANIZAR DE FORMA BEM-SUCEDIDA ELEIÇÕES

SOB TAIS CONDIÇÕES?

O governo do Haiti não se mexeu para adiar as eleições e Edmond Mulet, o chefe da missão de paz da ONU no Haiti, diz que os aspectos logísticos, técnicos e de segurança estão em ordem para uma eleição digna de crédito.

A grave epidemia de cólera, porém, criou uma nova emergência nacional para o Haiti, provocando raiva, temor e incerteza em meio à população de 10 milhões de habitantes, já traumatizada com o terremoto de 12 de janeiro que matou mais de 250 mil pessoas.

A campanha eleitoral foi restrita nas regiões centrais, as mais afetadas pelo cólera, e no norte foi atrapalhada por vários dias de protestos anti-ONU na semana passada, quando ao menos duas pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.

Os soldados da ONU têm ajudado a montar os postos de votação e na distribuição das cédulas. Mas os recursos logísticos foram reduzidos, já que os aviões, helicópteros, caminhões e soldados também precisaram ajudar na resposta internacional ao cólera. Os funcionários dizem que os recursos não são suficientes para aplacar a epidemia.

Vários dos 19 candidatos presidenciais pediram o adiamento da eleição. Mas o chefe da missão da ONU afirma que "a grande maioria dos haitianos quer as eleições".

A VOTAÇÃO PODE SER LIVRE, JUSTA E TRANSPARENTE?

Além dos desafios referentes à organização das eleições de 28 de novembro, as eleições também enfrentam questões de credibilidade, em um país onde a política eleitoral há anos é controversa e em geral caótica e violenta.

A imparcialidade do Conselho Eleitoral Provisório (CEP) tem sido questionada. Há registrados 99 candidatos à Presidência, 120 ao Senado, 900 à Câmara dos Deputados e 66 partidos políticos.

O presidente René Preval, que não pode concorrer à reeleição após dois mandatos, rejeita as acusações de que esteja interferindo no conselho eleitoral para influenciar o governo a ser escolhido.

Entre seus críticos, estão o astro do hip-hop haitiano-americano Wyclef Jean, julgado inelegível em agosto. Jean, que queria concorrer à Presidência, revidou com uma canção em crioulo atacando Préval e pedindo a prisão das autoridades eleitorais.

A ELEIÇÃO IRÁ TRAZER ESTABILIDADE PARA O HAITI?

Um pleito confiável é indispensável para a recuperação do Haiti após o forte terremoto de 12 de janeiro e para garantir a estabilidade de um país com um histórico de conflitos, ditaduras e intervenções militares estrangeiras.

Caso a eleição de um governo legítimo fracasse, bilhões de dólares em doações para a reconstrução do Haiti e a esperança de obter investimento estrangeiro para as obras estarão sob risco.

Com vários candidatos à Presidência, mas sem nenhum favorito, observadores dizem que o pleito pode ser decidido apenas no segundo turno, marcado para 16 de janeiro.

Isto pode aumentar a chance de disputas eleitorais. Muitos acreditam que o novo líder eleito do Haiti precisará de um acordo nacional amplo que quebre o monopólio político e econômico das elites e dê voz à população pobre do país.

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