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Mundo

Tragédia em estádio ganha cunho político e chega a Tahrir

2 fev 2012 - 14h30
(atualizado às 15h21)
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A tragédia no estádio egípcio em Porto Said, na quarta-feira, que matou mais de 70 pessoas, ganhou contornos políticos nesta quinta, quando multidões voltaram a se reunir na praça Tahrir, no Cairo, para protestar contra a ação policial no evento esportivo. Ao mesmo tempo, a Irmandade Muçulmana, maior partido do atual Parlamento, acusou simpatizantes do antigo regime de Hosni Mubarak de provocarem os distúrbios para levar o "caos" ao Egito.

Os confrontos entre torcidas em Porto Said ocorreram após uma partida de futebol e deixaram ao menos 74 mortos e 248 feridos. Torcedores do Al-Masry invadiram o gramado depois que o time local venceu por 3 a 1 o Al-Ahly, do Cairo. Muitos morreram prensados contra as grades do estádio ou caíram das arquibancadas, enquanto outros foram alvejados com pedras, cadeiras e até facas.

O episódio provocou uma nova onda de tensão no Egito e abalou a confiança em relação ao conselho militar governante, em um momento em que o país se prepara para eleições presidenciais cujo objetivo é transferir o poder para um governo civil. Em resposta, o governo - que declarou três dias de luto oficial - convocou reuniões emergenciais de gabinete nesta quinta. Também nesta quinta, o Parlamento iniciou sua sessão com um minuto de silêncio. O presidente da Casa, Mohamed Saad al-Katatni, disse que os distúrbios da véspera colocam a revolução egípcia "em perigo".

Torcidas violentas

BBC

no Cairo, Jon Leyne, explica que as torcidas egípcias têm fama de violentas, mas o que desperta suspeitas é o fato de os torcedores do Al-Ahly também terem se tornado uma força política no país. A torcida esteve envolvida em diversos confrontos recentes com a polícia. Agora, diz Leyne, há um clima de desconfiança no país, já que muitos torcedores acreditam que a polícia foi negligente durante os confrontos no estádio - ou que até mesmo teria estimulado as agressões contra os torcedores do Al-Ahly.

"O que ocorreu em Porto Said talvez nunca seja totalmente esclarecido", diz Leyne. "Pode também ter sido um caso de incompetência da polícia, que perdeu sua força no último ano, com a revolução egípcia. O perigo imediato é de mais violência, à medida que torcedores irados tomem as ruas novamente." Isso começou a ocorrer nesta quinta, com a ida de manifestantes - muitos deles torcedores do Al-Ahly à praça Tahrir, palco dos enormes protestos que em 2011 resultaram na queda de Mubarak.

"As pessoas estão com raiva do regime mais do que qualquer outra coisa", disse à BBC Mohammed Abdel Hamid, torcedor do Al-Ahly. "Dava para ver o ódio em seus olhos (nos confrontos no estádio)."

"Qualquer lugar do mundo"

Hussein Tantawi, líder do conselho militar egípcio, esteve em uma base aérea do Cairo para se encontrar com torcedores e jogadores do Al-Ahly que haviam sido removidos de Porto Said. "(O episódio) não vai derrubar o Egito", disse o líder militar, segundo a agência Associated Press. "Esses incidentes podem ocorrer em qualquer lugar do mundo. Não deixaremos os culpados escaparem."

Nesta quinta, autoridades de Porto Said e da associação de futebol do Egito foram demitidas por conta do episódio. O governador local renunciou, enquanto o diretor de segurança da cidade e o chefe de investigações policiais foram suspensos e estão sob custódia policial. No que diz respeito à ação policial no estádio, a suspeita é de que a polícia tenha deixado que torcedores entrassem com facas no local. Um pequeno grupo de policiais tentou conter os torcedores, sem sucesso. Outras 52 pessoas detidas após os confrontos foram interrogadas, segundo as autoridades.

Todas as partidas da primeira divisão do futebol egípcio foram adiadas indefinidamente.

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