PUBLICIDADE

Mundo

Suleiman, do serviço secreto à vice-presidência do Egito

29 jan 2011 - 18h59
(atualizado às 20h44)
Compartilhar

O presidente egípcio, Hosni Mubarak, fragilizado pelas manifestações, criou neste sábado o cargo de vice-presidente, entregue a Omar Suleiman, chefe dos serviços de inteligência que teve sob sua responsabilidade diversos expedientes diplomáticos, como as relações com Israel. Suleiman, 77 anos, sai assim de seu tradicional papel nos bastidores, que lhe permitiu mediar com os líderes israelenses e do movimento palestino Hamas para a acabar com a guerra desencadeada em Gaza no fim de 2008.

Egito: imagens mostram feridos nos confrontos desta sexta:

Graças a suas mediações, obteve um recorde de tréguas entre israelenses e palestinos, muitas delas efêmeras, desde o início da segunda Intifada palestina no ano 2000. O influente dirigente nasceu em 1934 em uma família rica de Qena, no Alto Egito. O homem, de altura mediana, com bigodes e uma calvice pronunciada, orientou-se inicialmente para a carreira militar, mas logo trocou o uniforme pelo terno e gravata. E se tornou a insustentável figura das "missões especiais", com mais atribuições sobre os temas estratégicos - como Israel e Palestina - do que o próprio chanceler, Ahmed Abul Gheit.

O general Suleiman compara seu "ofício" com o xadrez ou com o baralho, e sabe que nem sempre se ganha. Pôde comprovar isso na Faixa de Gaza, onde seus homens não puderam impedir que o movimento Hamas expulsasse o Fatah do poder em junho de 2007. Em 1991, foi nomeado chefe do Mujbarat, a temível agência de informações internas.

Omar Suleiman faz parte do "primeiro círculo" de colaboradores de Mubarak, que chegou ao poder em 1981. O presidente seguiu seu conselho de levar, em junho de 1994, um carro blindado a Addis Abeba, para participar de uma cúpula da União Africana, graças ao qual ambos ficaram vivos quando um comando islâmico os atacou a balas. O motorista, no entanto, morreu no atentado.

Nos anos 1990, Mubarak reprimiu com firmeza os grupos islâmicos radicais como o Jamaa Islamiya e o Jihad, autores de atentados sangrentos.

Egípcios desafiam governo Mubarak

A onda de protestos dos egípcios contra o governo do presidente Hosni Mubarak, iniciados no dia 25 de janeiro, tomou nova dimensão na última sexta-feira. O governo havia tentado impedir a mobilização popular cortando o sinal da internet no país, mas a medida não surtiu efeito. No início do dia, dois mil egípcios participaram de uma oração com o líder oposicionista Mohamad ElBaradei, que acabou sendo temporariamente detido e impedido de se manifestar.

Os protestos tomaram corpo, com dezenas de milhares de manifestantes saindo às ruas das principais cidades do país - Cairo, Alexandria e Suez. Mubarak enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher, o qual acabou virtualmente ignorado pela população. Os confrontos com a polícia aumentaram, e a sede do governista Partido Nacional Democrático foi incendiada.

Já na madrugada de sábado (horário local), Mubarak fez um pronunciamento à nação no qual ele disse que não renunciaria, mas que um novo governo seria formado em busca de "reformas democráticas". Defendeu a repressão da polícia aos manifestantes e disse que existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o caos. A declaração do líder egípcio foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981.

Mubarak, à revelia da pressão popular que persiste nas cidades egípcias, não renunciou. Segundo o último balanço de sábado, feito pela agência AFP junto a fontes médicas, 92 pessoas morreram desde o início dos protestos.



AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade