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África

Sob pressão, gabinete se reúne pela primeira vez no Egito

23 fev 2011 - 18h11
(atualizado às 18h55)
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O novo gabinete egípcio se reuniu pela primeira vez nesta quarta-feira sob pressão da Irmandade Muçulmana e de outros grupos para expulsar ministros ligados ao ex-presidente Hosni Mubarak.

A Irmandade e outros grupos políticos convocaram mais uma manifestação para sexta-feira, com a expectativa de levarem 1 milhão de pessoas à praça Tahrir, epicentro da revolução que derrubou Mubarak após 30 anos no poder.

O objetivo do ato será exigir um novo gabinete, o fim das leis de emergência em vigor há 30 anos e a libertação de presos políticos.

Em sua reunião, o gabinete discutiu a formação de um comitê para tratar de questões de diálogo nacional, policiamento, serviços do Ministério do Interior, detentos e da volta ao Egito de cidadãos retidos na turbulenta e vizinha Líbia.

Apesar da pressão, novas mudanças no Parlamento são improváveis, segundo fontes políticas.

O marechal Mohamed Tantawi, chefe da junta militar que assumiu o governo do país, deu posse na terça-feira a dez novos ministros. Alguns eram de oposição a Mubarak, mas pastas importantes, como Defesa, Interior, Relações Exteriores e Justiça, permaneceram com os mesmos titulares.

Preparando-se para as eleições prometidas pelos militares para dentro de seis meses, ativistas anunciaram na quarta-feira a formação de um novo partido político, a ser chamado "Egito Livre".

"O estabelecimento do partido ocorre dentro do marco e do desejo de fazer uma representação real para os jovens da revolução de 25 de janeiro durante o próximo período," disse o ex-diplomata Abdallah Alashaal na quarta-feira à agência estatal de notícias Mena.

O novo governo tem feito uma campanha anticorrupção, cujo alvo são autoridades do extinto regime.

Um ex-primeiro-ministro, um ex-ministro e oito empresários foram proibidos de deixar o país, e três outras pessoas foram apresentadas à Justiça, vestindo uniforme branco de presidiário.

São eles Zuhair Garana, ex-ministro do Turismo; Ahmed el-Maghrabi, ex-ministro do Turismo e da Habitação; e Ahmed Ezz, empresário e dirigente do Partido Democrático Nacional.

Outra prioridade do novo gabinete é fazer a nação voltar ao trabalho, encerrando os protestos e greves que afetam ainda mais a economia, já abalada pela turbulência da revolução que teve início em 25 de janeiro e derrubou Mubarak 18 dias depois.

A bolsa egípcia, que fechou dois dias depois do início da revolta, anunciou que permanecerá sem atividades até a semana que vem.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos na capital Trípoli e nas cidades de Benghazi e Tobruk, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de feveiro para xingar e ameaçar de morte os opositores que desafiam seu governo. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

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