Síria: violência deixa 45 mortos e aumenta temor de guerra civil
Os líderes internacionais manifestaram fortes temores nesta sexta-feira de que a Síria mergulhe em uma guerra civil total, mas não conseguiram chegar a um acordo sobre uma forma de conter a espiral de violência que deixou mais 45 mortos.
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A contestação popular também não dá sinais de redução, apesar da repressão do governo, com dezenas de milhares de manifestantes protestando nas cidades para exigir a queda do presidente Bashar al-Assad e homenagear as 49 crianças mortas no dia 25 de maio em Houla (centro).
Esse massacre, no qual 59 outras pessoas perderam suas vidas, provocou indignação no mundo e intensificou os temores de uma guerra total. A rebelião e o governo rejeitaram a responsabilidade pelo massacre, no qual uma autoridade da ONU disse que "fortes suspeitas" pesam sobre as milícias pró-regime.
Em Genebra, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU autorizou, apesar da oposição de russos e chineses, uma investigação internacional independente sobre o massacre para levar à justiça os responsáveis, que poderão ser acusados de "crimes contra a Humanidade".
Com mais de 13.400 mortos desde o início da revolta, no dia 15 de março de 2011, segundo uma ONG síria, as posições diametralmente opostas dos protagonistas e das divisões ainda profundas na comunidade internacional, nada permite prever uma saída rápida para a crise.
A violência, somada à imobilidade das grandes potências, compromete o cessar-fogo e o plano de paz negociado pelo enviado especial internacional Kofi Annan, uma iniciativa apoiada pelo Conselho de Segurança da ONU, mas que permanece não sendo respeitado.
"Hoje, vemos elementos precursores de uma guerra civil. Isso é extremamente perigoso", declarou em Berlim o presidente russo, Vladimir Putin, aliado do governo Assad, ressaltando que é impossível solucionar a crise "através da força".
Com a chanceler alemã, Angela Merkel, que frisou a necessidade de "fazer de tudo para evitar a guerra civil", Putin se pronunciou em favor de uma "solução política" e negou que seu país forneça armas à Síria que possam ser utilizadas em uma guerra.
Americanos e franceses contra russos As divergências entre franceses e russos ficaram claras em Paris, que Putin visitou depois de Berlim. O presidente François Hollande considerou que "não há solução possível" na Síria sem "a saída de Bashar al-Assad", pedindo sanções contra o governo sírio e dizendo que sabe dos "riscos de desestabilização, com os riscos de guerra civil".
Putin respondeu, questionando a eficácia de sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o governo sírio.
E em um novo sinal de tensão entre americanos e russos, a secretária de Estado Hillary Clinton acusou a Rússia de fornecer armas ao governo Assad, o que gerou uma rápida resposta de Moscou que mencionou uma ajuda financeira estrangeira e a entrega de armas aos rebeldes no massacre de Houla.
A Rússia e a China bloquearam no Conselho de Segurança resoluções ocidentais contra o regime de Damasco que não reconhece a contestação, atribuindo o movimento ao terrorismo.
O chefe da diplomacia britânica, William Hague, afirmou que a Síria está "à beira de uma guerra civil total", após uma reunião em Istambul com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que alertou para o risco de uma "guerra civil catastrófica".
A alta comissária da ONU de direitos humanos, Navi Pillay, pediu que a comunidade internacional "apoie com todo o seu peso o plano" Annan para evitar um "conflito total" que colocará a Síria e a toda a região em "grave perigo".
Manifestações e violência Enquanto isso, os episódios de violência continuam, apesar da mobilização da missão de observadores da ONU com cerca de 300 membros. Pelo menos 45 pessoas foram mortas, incluindo 33 civis assassinados pelas tropas do governo e 12 soldados durante combates com insurgentes, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O Exército Sírio Livre (ESL) anunciou a sua intenção de retomar suas "operações defensivas" após a expiração às 09h00 GMT (06h00 de Brasília) do ultimato lançado ao regime para que suspenda a violência, considerando que o plano Annan fracassou.
Apesar de uma mobilização massiva das forças de segurança, mais de 250.000 sírios protestaram contra o governo o massacre de Houla.
Soldados abriram fogo para dispersar os manifestantes, sendo que dois morreram em Aleppo, segundo o OSDH.
Respondendo a uma convocação de militantes opositores, eles se manifestaram nas províncias de Damasco, Deraa (sul), Homs e Hama (centro), Aleppo (norte), Deir Ezzor (leste), Hassaké (nordeste) e Latakia (oeste), indicou a ONG.
"Árabes, exigimos mais do que a expulsão de embaixadores (da Síria), exigimos também a expulsão dos embaixadores da Rússia e da China", estava escrito em um cartaz em uma manifestação em Damasco, segundo um vídeo divulgado na internet. Um outro cartaz acusa o governo de matar crianças.