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Oriente Médio

Síria elege novo parlamento em eleições boicotadas pela oposição

7 mai 2012 - 15h11
(atualizado às 16h14)
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Os sírios compareceram nesta segunda-feira às urnas para escolher um novo Parlamento apesar do frágil cessar-fogo, em uma jornada que contou com uma participação média, segundo as autoridades, e que a oposição classificou como uma "farsa".

Sírios depositam papéis com nomes dos mortos nos confrontos em uma urna em forma de caixão na cidade de Qusayr
Sírios depositam papéis com nomes dos mortos nos confrontos em uma urna em forma de caixão na cidade de Qusayr
Foto: AFP

Nas primeiras eleições pluripartidárias desde a chegada ao poder do partido Baath, do presidente Bashar al Assad, em 1963, os sírios se mostraram divididos na votação, boicotada pela oposição interna e realizada enquanto persiste a violência.

Foram convocados 14,8 milhões de sírios para escolher entre 7.195 candidatos, entre eles 710 mulheres, que concorrem para ocupar as 250 cadeiras da Assembleia do Povo ou Parlamento. O comparecimento às urnas de manhã foi desigual em Damasco, onde havia muitos eleitores em alguns colégios eleitorais, enquanto em outros quase não havia filas.

Entre o ceticismo e a esperança

"Não vou votar porque acho que nada vai mudar. Vejo violência todos os dias ao meu redor", disse Ahmad, um morador da conflituosa periferia de Damasco. Da mesma forma se expressou Selim, que afirmou: "estas eleições não vão levar a lugar nenhum, como já aconteceu em pleitos parlamentares anteriores".

A precária situação de segurança no país, apesar do desdobramento de uma missão avançada de observadores das Nações Unidas poucos dias após a declaração de cessar-fogo, no dia 12 de abril, é a principal preocupação dos eleitores.

Em um dos colégios eleitorais de Damasco, a síria Alaa, proprietária de uma mercearia, disse que a crise torna o voto necessário, porque o Parlamento pode ajudar a encontrar uma solução. "Por que não participar das eleições? Esperamos que os líderes políticos tenham êxito em iniciar o plano de reformas e o diálogo nacional e pedimos a Deus para que o país volte a ser seguro de novo", afirmou.

Reformas para conter revoltas
As eleições fazem parte das reformas anunciadas pelo regime de Assad para aplacar a revolta que explodiu em março de 2011 e são o passo seguinte à aprovação de uma nova Constituição em um plebiscito de fevereiro, que pôs fim em teoria ao monopólio do partido Baath.

As autoridades deram seu sinal verde à participação de dez forças políticas nestas eleições, embora a Irmandade Muçulmana e os grupos curdos tenham sido excluídos do processo. A jornada eleitoral se prolongará até as 22h (16h em Brasília) e por enquanto aconteceu no meio de um grande dispositivo de segurança e pela primeira vez sob a supervisão de uma Comissão Eleitoral independente.

O ministro do Interior sírio, Mohammed al Shaar, afirmou em comunicado que as eleições estão transcorrendo "com normalidade" e que um número "considerável" de cidadãos está marcando presença nos centros de votação. Ao contrário de outros dias, a imprensa oficial não mencionou nenhum tipo de ato violento, assassinato ou enfrentamento entre o Exército e os opositores armados.

Essa versão contrasta com a de grupos opositores como o Observatório Sírio de Direitos Humanos, que informou sobre a morte de seis pessoas por disparos de franco-atiradores e das forças de segurança, enquanto os Comitês de Coordenação Local elevaram esse número a 20. Além disso, os ativistas informaram sobre greves na província de Hama, no centro do país, e em Deraa, no sul; assim como manifestações contra as eleições em Aleppo e Idlib (norte).

"Farsa"
O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal órgão opositor no exílio, classificou como "farsa" as eleições legislativas, já que "não representam a vontade verdadeira do povo". O dirigente do CNS, Mulhem al Derubi, afirmou que a oposição não reconhece estas eleições, ao considerar que o processo não está sendo "legítimo nem livre", mas "um teatro eleitoral realizado à sombra dos tanques".

Na sua opinião, após mais de um ano de violência que segundo as Nações Unidas deixou mais de 10 mil mortos, "Assad já perdeu sua legitimidade como presidente e tem que renunciar ao poder para que depois comece uma verdadeira vida democrática na Síria".

EFE   
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