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África

Protestos por democracia acabam em distúrbios no Marrocos

20 fev 2011 - 19h44
(atualizado às 21h44)
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O dia de manifestação que começou pacífico e animado em todo o Marrocos pedindo por reformas democráticas foi ofuscado por reivindicações que semearam dúvidas sobre o futuro dos protestos. Seguindo o mesmo padrão do que ocorreu em outros países árabes, um grupo de jovens convocou por meio da rede social Facebook à população para pedir nova constituição com limites ao poder executivo do rei Mohammed VI.

Mais de mil pessoas se reuniram em Casablanca cantando slogans de "Liberdade, dignidade, justiça"
Mais de mil pessoas se reuniram em Casablanca cantando slogans de "Liberdade, dignidade, justiça"
Foto: AFP

Havia a expectativa sobre a reação dos marroquinos ao chamado, o primeiro do país após a explosão das revoltas árabes no Egito, Tunísia, Bahrein e Iêmen. Aderiram à mobilização, denominada "Dia da Dignidade", as associações de direitos humanos, partidos de esquerda e, principalmente, os islamitas do movimento Justiça e Caridade, que demonstraram seu poder de convocação no maior protesto realizado em Rabat com cerca de 10 mil pessoas.

Apesar de a maioria das cidades ter amanhecido sob forte temporal de chuva e vento, o tempo acabou melhorando e as famílias levaram crianças para participar do protesto. Em Rabat, a passeata saiu da praça de Bab el-Had rumo ao parlamento com um número crescente de manifestantes, que repetiu palavras de ordem como "o povo quer nova constituição" e entoaram repetidas vezes o hino de Tunísia em homenagem à revolução. Os manifestantes não fizeram alusões diretas ao monarca, apesar de os alvos de suas palavras de ordem serem alguns de seus assessores mais próximos, como o antigo secretário e fundador do Partido de Autenticidade e Modernidade (PAM), Fouad El Himma, e o secretário pessoal Mounir Majidi. Em Casablanca, 2 mil manifestantes exibiam rosas vermelhas e amarelas para destacar o caráter pacífico do protesto.

Entretanto, com o tempo, o pacifismo cedeu espaço a batalhas campais em algumas cidades marroquinas. Localidades do norte e do sul do país registraram atos de vandalismo e violência em delegacias de Polícia, filiais bancárias, estabelecimentos de hotelaria e prédios públicos. Os confrontos mais graves ocorreram em Larache e Al Hoceima, no norte do país, assim como em Marrakech, no sul, e em todos esses locais a Polícia deteve inúmeras pessoas, como informaram à Efe fontes dos serviços de segurança. Al Hoceima, testemunhas contaram que os manifestantes jogaram pedras contra uma delegacia e atearam fogo em dois veículos de Polícia.

Najim Hidush, um ativista local, garantiu à Efe por telefone que "os organizadores perderam o controle dos manifestantes quando estes enfrentaram à Polícia, que usou gás lacrimogêneo". Hidush contou que os agitadores eram jovens procedentes das zonas rurais vizinhas que haviam chegado à cidade especificamente para participarem das manifestações. Fontes da Associação de Direitos Humanos marroquina acrescentaram que a sede do partido governante Istiqlal e de órgãos públicos também foram atacados. Testemunhas também revelaram à Efe que hotéis e restaurantes situados no centro histórico de Larache foram alvo de saques, espalhando o caos pelas ruas da cidade, sem a intervenção da Polícia.

No norte do país, na cidade de Tetouan cinco cafés foram apedrejados e saques ocorreram em duas filiais da distribuidora de água e eletricidade. Em Tânger, os manifestantes jogaram pedras e objetos contra uma discoteca. Um dos organizadores da manifestação em Marrakech, que pediu para permanecer em anonimato, disse à Efe que desde as 13h (11h de Brasília) as concentrações "tiveram a interferência de grupos de jovens que não respeitaram o caráter pacífico". Ele contou que cerca de cem jovens chegaram à manifestação e começaram a jogar pedras contra comércios situados nas áreas próximas, incluindo um McDonald's e uma loja da rede espanhola de roupas Zara.

O Movimento 20 de Fevereiro, pertencente aos jovens que convocaram os protestos, denunciou em comunicado os distúrbios e acusou o governo marroquino de estar por trás de algumas destas ações. "Houve atos de violência incentivados pelo governo, que pagou pessoas para realizá-los", garantiram os organizadores. Segundo eles, "a Polícia secreta, vestida à paisana, agrediu integrantes do Movimento 20 de fevereiro" em cidades como Al Hoceima, Marrakech e Larache. Os jovens afirmam ainda a intenção de continuar com as passeatas diariamente em Rabat, sempre às 18h30 (16h30 de Brasília), e que no próximo fim de semana pensam em reunir "todos os partidos políticos e associações civis" em novos protestos.

EFE   
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